segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A ALEGRIA NA POLÍTICA


CONHEÇO Manuel Alegre desde há muito tempo. E acompanhei mesmo a sua estadia, durante bastante tempo, em Argélia, dado que me correspondi, ao longo dessa vivência no Norte de África, com o seu companheiro de fuga política de Portugal, Fernando Piteira Santos, de quem fui um grande amigo e que ajudei até a escapar da perseguição da PIDE, quando foi obrigado a escolher essa via para não entrar de novo na cadeia da ditadura.
Quando se verificou o seu regresso depois do 25 de Abril, sendo eu director do jornal “o País” convidei-o, e ele aceitou, para fazer parceria, com Jaime Gama, na coluna da Esquerda que manteve aquele periódico, que sempre defendeu a Democracia plena e, por isso, publicava as duas posições mais importantes que estavam a dar os primeiros passos no novo regime político.
Há alguma coisa a contar quanto a esse período e em que Manuel Alegre esteve envolvido, mas isso não vem agora ao caso e eu já recebi a demonstração de arrependimento que o poeta, passados anos, não me escondeu.
O que importa agora é referir aquilo que, na actualidade, traz de novo o militante do Partido Socialista à tona da opinião pública, posto que na sua candidatura, há anos, à Presidência da República, até obteve um resultado apreciável que demonstrou não se encontrar muito distante da opinião dos portugueses, pelo menos nesta altura não provoca qualquer espanto vê-lo surgir a dar conta da sua opinião, entre outras tomadas de posição numa entrevista dada ao semanário “Expresso”.
É certo que Alegre tem sobressaído do grupo socialista com posições que nem sempre são condizentes com a disciplina partidária que Sócrates ali impõe. Nesse aspecto alguma semelhança se encontra com o que ocorre no interior dos concorrentes sociais-democratas, mas uma certa condescendência tem permitido que uma ou outra divergência não provoquem grandes sobressaltos. E, no que diz respeito à sua eventual candidatura, no momento em que se perfilarem os candidatos a Belém, é evidente que algum cuidado tem de existir por forma a não provocar um afastamento irremediável na altura em que Manuel Alegre se perfilar com o apoio do grupo socialista, de que foi fundador.
Mas, a mim pelo menos, causa-me alguma preocupação que o futuro candidato ao lugar que agora foi motivo da sua crítica, quanto à intervenção do Presidente da República marcando os pontos em que mostra desacordo com o Governo, tendo mesmo afirmado que Cavaco Silva se mostra como pretendendo ser um segundo primeiro-ministro, aí, na minha ideia, Manuel Alegre parece querer dizer que, se vier a ocupar essa posição, não dará nunca a conhecer aos portugueses da sua opinião sobre o que esteja a decorrer no meio político.
Como o meu ponto de vista é bastante diferente do entrevistado pelo “Expresso”, pois entendo que, dentro das características nacionais limitadas do poder presidencial, pelo menos que se lhe deixe a sua actuação verbal, sujeita, desde logo, às críticas daqueles que se situem noutro patamar político, e que, após as conversações semanais com o detentor da orientação governativa e se essas não resultarem num acordo produtivo, o Supremo Magistrado da Nação dê a conhecer aos cidadãos portugueses qual a sua posição, na esperança de que se produza alguma mudança positiva, por isso não alinho na tese que o Manuel defende.
Não se trata de querer ser um interventor no comando do Governo, mas sim dar conhecimento aos governados de que existe em Belém um zelador pelo interesse da Nação. Somente isso e não é já pouco.
Mesmo reconhecendo que Cavaco Silva não tem sido sempre feliz nas intervenções que efectuou ao longo do seu mandato, considero que mais vale dizer alguma coisa do que encafuar-se num mutismo que só pode servir para deixar os cidadãos na ignorância se vale a pena ou não votar na sua reeleição.

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