domingo, 8 de março de 2009

ZANGAM-SE AS COMADRES



Já não é a primeira vez que, em Parlamentos lá por fora, se pegam representantes políticos de distintas formações partidárias, chegando mesmo a vias de facto em plena sala de reuniões. Já temos assistido a estas cenas que as televisões nos proporcionam, mas, no que se refere à Assembleia da República, escaramuças de língua já têm ocorrido, só que nunca se tinha verificado uma ameaça do género do “lá fora falamos”.
Pois, ainda que não tenha sido exactamente com esta linguagem, o que ficou subentendido foi uma espécie de ameaça, esta, claro, à portuguesa. “Agarrem-me, agarrem-me, senão vou-me a ele!...”
Pois, um deputado do PSD e outro do PS envolveram-se em acesa discussão que atingiu os insultos. O dos sociais democratas classificou o caso da construção do aeroporto Sá Carneiro, no Porto, como um “negócio opaco” e insinuou que os custos muito para além do orçamento (derraparam 99 milhões de euros) e o tempo de conclusão da obra que se multiplicou várias vezes, tudo isso fazia crer em manobras mal explicadas e em lucros de alguém que interferiu nos trabalhos.
Não vem aqui ao caso, porque não me substituo aos poderes públicos que têm obrigação de aprofundar as falhas ao cumprimento do que fica estabelecido nas alturas dos concursos públicos, saber o que é que pode demonstrar que um dos deputados tenha a ver com o problema discutido, mas dá vontade de rir que, só muito de vez em quando é que temas com este cariz surgem no Parlamento, quando deveria existir uma comissão em permanente exercício para chamar à discussão as múltiplas situações que ocorrem no nosso País e que fazem prova de que existem razões mais do que bastantes para os cidadãos se interrogarem sobre quem ficou a ganhar fortunas, como o que se vê por aí no que diz respeito a obras a cargo do Estado.
Já o Ministério Público veio agora à liça para levantar a questão, quanto a uma investigação feita ao Presidente da Câmara de Braga, no que se refere a uma “radiografia” feita à factualidade de enriquecimento injustificado por parte de alguns titulares de cargos públicos e funcionários daquele Município, que alguma coisa de anormal se passa, pois nada justifica que um processo instaurado se venha arrastando desde 2001 e que, até agora, não terem sido encontrados resultados, apenas com a declaração por parte de Mesquita Machado de que se trata de uma autêntica “cabala do PSD”.
E é assim. Nunca os judeus pensaram que a expressão “kabala” viesse a ter tão grande aplicação como sucede aqui em Portugal. Por tudo e por nada, a partir do momento em que surge uma suspeita de alguma coisa que cheira a esturro, que faz desconfiar de que ali passou mão pelo meio, de que uma obra se atrasou e custou muitas vezes mais do que estava previsto exactamente, porque a diferença em relação ao orçamento dá sempre jeito que vá parar a alguns bolsos ávidos de favores e de distracções, quando isso sucede e alguém faz questão de apontar eventuais beneficiários – porque provar, isso é que muito raramente sucede -, logo aparece a expressão “cabala”, que o mesmo é dizer acusação despropositada e não provada.
E já agora, que o Ministério do Ambiente já deu luz verde para a construção da terceira travessia do Tejo, entre Chelas e o Barreiro, num investimento que, nesta altura, se diz serem de 1,7 milhões de euros, vamos lá ver enquanto fica no final e quem vai de fora beneficiar com a obra, para não se sair do tradicional no nosso País.
E cá vamos vivendo com os confrontos que surgem sempre, normalmente por parte daqueles que não ganharam nada com o que foi feito. Porque se ganhassem…

Sem comentários: