segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

ZANGAS



Francamente era a última coisa a esperar que sucedesse numa altura em que toda a nossa preocupação deveria estar mobilizada pelas formas de solucionarmos a maldita crise que os homens criaram e que, como uma moléstia pegadiça, se tem vindo a propagar por este mundo que uns tantos apelidam “de Cristo”. Refiro-me, como não podia deixar de ser, a essa de Sócrates e Cavaco Silva andarem a “pisar os calos" mutuamente.
Quer dizer, tal como namorados com arrufos, depois de serem acusados de andarem com as línguas na boca um do outro, como era o que diziam as Oposições que, obviamente, não lhes agradava ver os dois expoentes máximos do poder político nacional a estarem de acordo permanente, a dada altura, por ataques de ciúmes, desentenderam-se e vai de fazerem caretas e de se porem de costas. E tudo porque um intruso, de nome Estatuto dos Açores, surgiu e criou uma crispação que pôs em causa o comando caseiro de uma das partes. E como nenhum dos noivos quer ficar a mandar menos do que o outro, vai de bater com o pé e de dar início a zangas que não surgiriam se o referido diploma não tivesse criado a ferida.
No fundo, trata-se de um desentendimento que não justifica o mais pequeno desacato, pois basta que uma das partes dê o braço a torcer para que tudo fique na paz dos anjos. Mas nós sabemos como são os homens, que nunca estão dispostos a dar o primeiro passo e a estender a mão ao pretenso ofendido do outro lado, resolvendo o problema sem arrelias nem amuos.
Vistas as coisas e salvaguardadas as necessárias distâncias, afinal o que se passa entre Israel o tal Hamas é uma outra situação em que duas frentes se julgam donas da razão e nenhuma se encontrar na disposição de claudicar dos seus propósitos, pelo que, em vez disso, se vão agredindo, com prejuízo das populações que vêem os seus bens e os seus familiares serem destruídos. Se há uma que bate mais duro do que a outra, esse é um pormenor. Doloroso, mas só uma consequência do desencontro de opiniões. Pois que bastaria ambas guardarem as suas armas de arremesso e cada uma seguir o seu caminho e reconstruir o que ficou desfeito, ajudando-se até uma à outra naquilo que fosse possível. E tudo ficaria resolvido.
É, evidentemente, uma comparação que muitos julgarão despropositada. E, claro, só tem equivalência no ponto de vista da capacidade dos homens de conseguirem procurar o entendimento, em vez das desavenças.
No nosso caso, talvez um acordo, quanto mais cedo possível, entre Sócrates e Cavaco Silva no que diz respeito às datas das três eleições em 2009, sabendo-se que, na verdade, as junções possíveis só contribuirão para economizar gastos públicos e paciência dos eleitores, essa chegada a um consenso pode representar uma forma de colocar um pano sobre os desencontros de opiniões.
Mas que optimista que eu estou hoje!...

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