quinta-feira, 5 de junho de 2008

UNS MORREM, OUTROS TÊM IDEIAS


Quando se chega a uma determinada idade, uma das páginas dos jornais que não se deixa normalmente sem dar uma vista de olhos é a da Necrologia. E não é assim tão raro como isso que não vislumbremos a notícia de alguém, ou que sabemos da sua existência mesmo só de nome ou que conhecemos ainda que sem grande afinidade. E, volta não volta, lá surge a surpresa que nos faz soltar a expressão tão pouco carinhosa:"Olha, este!..."
Porém, com maior raridade e graças a não sermos íntimos de meio mundo, somos apanhados pela amargura de ler o nome e, por vezes, contemplar a foto de alguém que nos deixa uma marca profunda. Esperado ou não o desfecho, mantemos sempre a esperança de que não seja ainda por aqueles dias que o referido amigo parte para a viagem definitiva.
Pois foi agora. O Haendel de Oliveira, jornalista conhecido das lides dos jornais, companheiro a quem prestei ainda algum auxílio físico nas suas deslocações aos almoços da Academia do Bacalhau, não resistiu. E era mais novo do que eu.
Fica-me na memória o nosso antagonismo político, dado ser ele afecto ao regime salazarista, mas, apesar disso, nunca nos confrontámos com base nessa enorme diferença de opções. Não serve de exemplo a nada, mas não deixa de me marcar quanto àquilo que eu sempre defendi: que não é forçoso ser-se antagónico nas preferências, sejam elas quais forem, para se enveredar pela área da inimizade fidagal. Muito gostaria eu de ter sido amigo de Álvaro Cunhal, para podermos discutir, como pessoas civilizadas, os nossos pontos de vista. Já com Oliveira Salazar, tenho a sensação que seria muito mais difícil discutirmos os nossos pontos de vista com total abertura e sem raivas subterrâneas.

Neste mesmo dia em que a amargura de uma morte não me deixa raciocionar com total clareza, leio que o conceituado Daniel Bessa airmou, numa reunião com empresários portugueses, que "a situação no nosso Paós é mais difícil do que nunca". Mas, ao mesmo tempo e no mesmo lugar, em Castelo Branco, o conferencista acrescentou: "o pessimismo é o pior dos pontos de partida" E apresentou a receita para sairmos deste aperto em que vegetamos: "só há uma maneira de crescer, é exportar!..."
E pronto. Aí temos a solução que desconhecíamos. Que nos falta para darmos a volta à situação?

E, já agora, mais um acontecimento daqueles que ocorrem por estes sítios e que não merecerá ser deixado em claro, razão pela que se incluiu neste blogue: o presidente da República atribuiu já e tem em carteira outras condecorações que vão emblemar as lapelas de figuras públicas portuguesas. Para já, Marques Mendes receberá a sua Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique; antigo presidente do PSD e também primeiro-Ministro não podia faltar, mas a lista de honorabilizados não se fica por aqui: António de Almeida Santos, Nascimento Rodrigues, Urbano Tavares Rodrigues, Vítor Baía, antigo guarda-redes do futebol, uma freira, de nome Mafalda Moniz, Luís Andrade da RTP, e vários outros que, numa lista que tem o seu tamanho, tenho receio de deixar passar em branco aluma personalidade que não seja merecedora do lapso.

Aqui temos, pois, uma quinta-feira em que Lisboa se encheu de movimento rodoviário, autocarros e transportes vários transportando grevistas vindos de Norte a Sul para reclamar contra o que muitos não saberiam bem o que seria, mas que se traduzia no mal estar que sentem por viver neste País e por não encontrarem quem lhes garanta que as coisas vão mudar para melhor. Isto, para falar claro, sem "digamos" e sem palavras caras que o Povo não entende por mais que lhes expliquem.
Mais um dia, portanto, a somar a tantos outros. E a seguir bastantes mais surgirão.E nós cá estamos. À espera de quê?

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