AO TER LIDO UM ARTIGO de Maria Filomena Mónica, que saiu num jornal diário, em que a mesma se lastima por só se recordar de acontecimentos antigos e de esquecer tudo que ocorreu recentemente, pus-me a comparar com aquilo que se passa comigo e que, não o tendo revelado a ninguém até hoje, me levou a dá-lo a conhecer neste meu blogue.
Na verdade, há muito tempo que me tinha dado conta de que me falta a memória para registar nomes de pessoas que tenho vindo a conhecer ultimamente e de, em contrapartida, verificar com grandes pormenores situações que me ocorreram quando eu era jovem, até mesmo criança. Isto não me passava anos atrás e tal situação leva-me a suspeitar que acontecerá com as pessoas quando atingem uma idade já denominada “madura”. Foi, pelo menos, o que me sugeriu uma pessoa com quem comentei o artigo da autoria da Maria Filomena e que me garantiu que lhe ocorria o mesmo.
Porém, o facto de eu não desejar ser uma pessoa comum, isto é, sucederem-me as mesmas coisas que ocorrem sucessivamente a toda a gente, fez com que procurasse deslindar por mim próprio se, realmente, o que eu havia lido e aquilo que me sucedia há já algum tempo deveria ser motivo de uma observação mais profunda. E pus-me a pensar em toda a profundidade naquilo que ocorre em relação a mim. É o que vou tentar relatar neste altura.
Em diferentes situações, ao longo do dia ou quando estou deitado e me ponho a reflectir sobre o passado, sem querer, sem ter intenções de relembrar episódios antigos, dou comigo a lembrar-se de factos que ocorreram ainda na minha primeira pequenez. Por exemplo, quando entrei na escola, com seis anos, e levei comigo um banquinho daqueles que fazem ou faziam no Alentejo, azul e com desenhos coloridos. Cada rapaz tinha de ser o portador do seu lugar que se situava à frente de toda a classe, pois que atrás dos neófitos estavam os da segunda classe – como se chamava então – e para onde eu passei no ano seguinte, para uma carteira que me acompanhou até ao fim da terceira classe (eu recuso-me a dizer primeiro ano, segundo e terceiro anos, pois era assim naquela época e a minha professora, a D. Beatriz, muito severa mas que ensinava como hoje parece não ser o habitual, e que todos os dias, como me lembro, obrigava a um ditado e a apresentar uma redacção feita em casa – claro que isto depois de se saber já ler e escrever.
Nunca esqueci e agora relembro com frequência as reguadas que apanhava cada vez que, no ditado, se dava algum erro. Tudo o que sei hoje na área da escrita deve-se a essa forma de ensinar que a minha querida professora aplicava nas suas aulas. Como gostava que hoje estivesse ainda viva para enchê-la de beijinhos. Por cada régua, um beijo!
A quarta classe decorreu com idêntico sistema e serviu-me de muito para depois seguir na secundária, sendo necessário fazer exame cada ano, desde a segunda classe e para admissão aos liceus. Como se aprendia naquela época e como me serviu para depois enfrentar a caminhada da aprendizagem!...
Pois toda essa época tenho-a presente na memória e repassa na minha mente como se tratasse de um filme que eu vejo agora através dos métodos técnicos dos nossos dias…
E daí para a frente, até à data em que o crescimento me levou a outros passos, tudo isso eu relembro sem dificuldade. Está presente no meu pensamento com a maior clareza e, em certas ocasiões, até me provoca uma inclinação lamurienta que fica retida no mais fundo do meu íntimo.
Também o período do meu primeiro emprego, da mudança que provocou na minha vida em que passei os estudos para a noite e que durante o dia me cabia a responsabilidade de executar as tarefas que passaram a fazer parte das minhas preocupações, sobretudo a altura em que entrei na Livraria Bertrand, junto do administrador francês que me tomou por sua conta por eu poder falar a sua língua e em que o contacto permanente com os livros marcou a direcção da minha vida futura, para além do contacto que tinha com escritores que me tomaram também como seus protegidos, como foi o caso de Aquilino Ribeiro, com quem tomava o café todas as tardes e que depois foi o meu promotor na então Sociedade Portuguesa de Escritores (a que a PIDE destruiu), logo que publiquei o meu primeiro livro.
Mas o mais estranho é precisamente a falta de memória com que me debato em relação aos acontecimentos mais recentes. Sobretudo os nomes das pessoas que me são apresentadas, quando as volto a encontrar e reconheço as caras, faço um enorme esforço para lhes encontrar os nomes, quando não é o caso de me passar completamente de onde e como as conheci.
Pois é isso que dizem ser habitual nas pessoas quando atingem uma certa idade. E se é realmente assim que ocorre, então não escondo que me revolto por entrar no grupo dos que só se lembram dos episódios antigos. Afinal, somos todos iguais, o que quer dizer que somos todos maus, posto que o ser humano é mais frequentemente má pessoa do que é o tal que se distingue pelos feitos em benefício da humanidade.
Bem gostaria de estar embevecido com o meu ego, como sucede com frequência assistir-se aos que se gabam permanentemente. Mas ninguém se pode modificar e tal como se nasce assim se parte para onde seja…
Na verdade, há muito tempo que me tinha dado conta de que me falta a memória para registar nomes de pessoas que tenho vindo a conhecer ultimamente e de, em contrapartida, verificar com grandes pormenores situações que me ocorreram quando eu era jovem, até mesmo criança. Isto não me passava anos atrás e tal situação leva-me a suspeitar que acontecerá com as pessoas quando atingem uma idade já denominada “madura”. Foi, pelo menos, o que me sugeriu uma pessoa com quem comentei o artigo da autoria da Maria Filomena e que me garantiu que lhe ocorria o mesmo.
Porém, o facto de eu não desejar ser uma pessoa comum, isto é, sucederem-me as mesmas coisas que ocorrem sucessivamente a toda a gente, fez com que procurasse deslindar por mim próprio se, realmente, o que eu havia lido e aquilo que me sucedia há já algum tempo deveria ser motivo de uma observação mais profunda. E pus-me a pensar em toda a profundidade naquilo que ocorre em relação a mim. É o que vou tentar relatar neste altura.
Em diferentes situações, ao longo do dia ou quando estou deitado e me ponho a reflectir sobre o passado, sem querer, sem ter intenções de relembrar episódios antigos, dou comigo a lembrar-se de factos que ocorreram ainda na minha primeira pequenez. Por exemplo, quando entrei na escola, com seis anos, e levei comigo um banquinho daqueles que fazem ou faziam no Alentejo, azul e com desenhos coloridos. Cada rapaz tinha de ser o portador do seu lugar que se situava à frente de toda a classe, pois que atrás dos neófitos estavam os da segunda classe – como se chamava então – e para onde eu passei no ano seguinte, para uma carteira que me acompanhou até ao fim da terceira classe (eu recuso-me a dizer primeiro ano, segundo e terceiro anos, pois era assim naquela época e a minha professora, a D. Beatriz, muito severa mas que ensinava como hoje parece não ser o habitual, e que todos os dias, como me lembro, obrigava a um ditado e a apresentar uma redacção feita em casa – claro que isto depois de se saber já ler e escrever.
Nunca esqueci e agora relembro com frequência as reguadas que apanhava cada vez que, no ditado, se dava algum erro. Tudo o que sei hoje na área da escrita deve-se a essa forma de ensinar que a minha querida professora aplicava nas suas aulas. Como gostava que hoje estivesse ainda viva para enchê-la de beijinhos. Por cada régua, um beijo!
A quarta classe decorreu com idêntico sistema e serviu-me de muito para depois seguir na secundária, sendo necessário fazer exame cada ano, desde a segunda classe e para admissão aos liceus. Como se aprendia naquela época e como me serviu para depois enfrentar a caminhada da aprendizagem!...
Pois toda essa época tenho-a presente na memória e repassa na minha mente como se tratasse de um filme que eu vejo agora através dos métodos técnicos dos nossos dias…
E daí para a frente, até à data em que o crescimento me levou a outros passos, tudo isso eu relembro sem dificuldade. Está presente no meu pensamento com a maior clareza e, em certas ocasiões, até me provoca uma inclinação lamurienta que fica retida no mais fundo do meu íntimo.
Também o período do meu primeiro emprego, da mudança que provocou na minha vida em que passei os estudos para a noite e que durante o dia me cabia a responsabilidade de executar as tarefas que passaram a fazer parte das minhas preocupações, sobretudo a altura em que entrei na Livraria Bertrand, junto do administrador francês que me tomou por sua conta por eu poder falar a sua língua e em que o contacto permanente com os livros marcou a direcção da minha vida futura, para além do contacto que tinha com escritores que me tomaram também como seus protegidos, como foi o caso de Aquilino Ribeiro, com quem tomava o café todas as tardes e que depois foi o meu promotor na então Sociedade Portuguesa de Escritores (a que a PIDE destruiu), logo que publiquei o meu primeiro livro.
Mas o mais estranho é precisamente a falta de memória com que me debato em relação aos acontecimentos mais recentes. Sobretudo os nomes das pessoas que me são apresentadas, quando as volto a encontrar e reconheço as caras, faço um enorme esforço para lhes encontrar os nomes, quando não é o caso de me passar completamente de onde e como as conheci.
Pois é isso que dizem ser habitual nas pessoas quando atingem uma certa idade. E se é realmente assim que ocorre, então não escondo que me revolto por entrar no grupo dos que só se lembram dos episódios antigos. Afinal, somos todos iguais, o que quer dizer que somos todos maus, posto que o ser humano é mais frequentemente má pessoa do que é o tal que se distingue pelos feitos em benefício da humanidade.
Bem gostaria de estar embevecido com o meu ego, como sucede com frequência assistir-se aos que se gabam permanentemente. Mas ninguém se pode modificar e tal como se nasce assim se parte para onde seja…
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