domingo, 10 de abril de 2011

VERDADES CUSTAM A OUVIR


CLARO QUE NUM MOMENTO como este, em que está à vista uma campanha eleitoral que porá em confronto partidos políticos que pretendem convencer os portugueses de que a razão está do seu lado e que os outros é que são os culpados da situação desastrosa em que Portugal se encontra, precisamente nesta altura tudo farão os participantes de todos esses grupos partidários para desfazer mal entendidos e a forma mais prática é a de se elogiarem ao extremo e de acusarem os concorrentes de tudo e de mais alguma coisa, no sentido de tentarem sair tão ilesos quanto possível daquilo que os cidadãos os acusam no íntimo de cada um. O Partido Socialista tem feito tudo que entende necessário e o congresso que se realiza em Matosinhos e que ocupa três dias, terminando neste domingo, não representa outra coisa que não seja o esforço máximo no capítulo da propaganda que possa sair do seu próprio círculo de apoiantes e simpatizantes e que sirva de início da série de comícios que vão ter lugar para procurar atingir, no próximo dia 5 de Maio, um resultado que satisfaça aquilo que é o desejado por todos: uma maioria absoluta. Posto isto, o que há a esperar é as acções que o PSD e também o CDS, este ainda que limitado à sua expressão, irão levar a cabo, posto que lhes cabe também a ambição de alcançarem pontuações que sejam confortáveis, sendo que, sobretudo os sociais-democratas, sustentam a aspiração de saírem vencedores na contagem final, com um primeiro lugar que chegará ou não para formarem governo sem coligações. Seja como for, o que os políticos deveriam já ter entendido há muito tempo, é que os portugueses da rua, os milhões que somos e que nos encontramos espalhados por todo o território, cada um com as suas funções e os seus entendimentos, esses cidadãos perderam praticamente as esperanças de ver o nosso País recomposto do abanão que sofreu por culpa da má governação que tem vindo a ser praticada há uma série de anos. Estão fartos dos homens que se intitulam políticos e que, cada um à sua maneira, têm tirado partido pessoal dos lugares que têm conseguido, por mérito próprio mas sobretudo devido aos favores dos amigos dos partidos a que pertencem e que, de umas forma geral, se protegem mutuamente. O que falta neste Portugal, que merecia maior clareza e total honestidade por parte daqueles que andam sempre a subir escadas dos sues interesses políticos, logo pessoais, é que apareça nem que seja um só português que, não desejando obter proventos próprios com a sua actuação pública e política, é que tenha a possibilidade de subir a uma tribuna pública para dizer aos portugueses aquilo que andam sempre a esconder. E é evidente que, da parte dos mais destacados políticos nacionais, nenhum se atreve a utilizar a linguagem da verdade, porque é sabido que é com promessas, mesmo as mais irrealizáveis, que se conseguem convencer apoiantes, posto que as verdades, quase sempre demasiado cruas, não iludem as populações. Sendo assim, um Presidente da República, sobretudo nesta fase em que já não se perfila a hipótese de uma recondução no lugar, pois Cavaco Silva já se encontra no seu segundo e último mandato, esse Chefe de Estado é que deveria deixar o mutismo em que tem estado resguardado e sair à liça com um retrato, tão perfeito quanto possível, bem elaborado com a ajuda de assistentes da maior competência, em que nessa demonstração daquilo que nós, portugueses, somos, políticos e não políticos, de molde a deixarmo-nos de acusações permanentes uns aos outros e a conseguirmos aprender alguma coisa de útil acerca de nós próprios. Que sejamos nós a fazer essa análise bem precisamos, o que não queremos é que sejam os de fora a apontar-nos o dedo. Que a culpa disto tudo, neste momento, é de José Sócrates já nem é necessário insistir. Há, pois, que passar a diante. Mas, como eu já me atrevi a escrever neste blogue, se metermos bem a mão na consciência verificamos que todos nós somos um pouco de Sócrates. Egoístas, convencidos da nossa razão, não sendo capazes de ouvir opiniões que sejam melhores dos que as nossas, sem humildade para reconhecer os nossos erros, ambiciosos em excesso, ao ponto de não darmos passagem aos outros, tudo isso são características dos seres humanos, mas que nós, portugueses, exageramos para além do normal. Mas, para além dessas características, o que é também fundamental, na fase que atravessamos, ter em conta é a nossa capacidade de produzir, sermos úteis naquilo que fazemos, em nos empregarmos a cem por cento nas tarefas que nos competem desempenhar, ou seja, não o de prolongarmos as horas de trabalho, mas sim em utilizar em absoluta o tempo que está destinado para cada função. Quem me lê sabe bem a que me refiro. Isso de não desperdiçarmos o tempo que deve ser aplicado exclusivamente no trabalho que nos compete, não sendo atraídos pelos telefonemas privados tão do nosso gosto, das conversas sobre temas extra – os do futebol, por exemplo -, as saídas para fumar o seu cigarrinho ou para ir beber um cafezinho, etc., etc. Todos nós sabemos que os chamados, pelos fundamentalistas dos sindicatos, “trabalhadores”, como se um País não devesse ser formado, quase exclusivamente, por gente que trabalha, por conta de outrem ou por sua própria, são vistos por todos nós, sobretudo quando ocorre uma obra, em conversas de dois e três, e a assistir ao panorama do que ocorre na tarefa que lhes incumbe. Ainda um destes dias, numa rua de Campo de Ourique, causou espanto ver três funcionários da EMEL, devidamente uniformizados, a passearem-se em conversa animada, sendo que cada um deles teria a sua zona de actuação e o seu ordenado é pago pelas nossas contribuições, posto que se trata de um empresa sustentada pela C.M.L. Mas isso é um exemplo entre os muitos milhares que são conhecidos e que já fazem parte da nossa maneira de estar neste País de “brandos costumes”. Pois o que Cavaco Silva devia fazer era apontar as culpas que nos cabem a todos pela pouquíssima produção que sai das mãos dos lusitanos. Se temos de produzir muito mais, então a pesca tem de sair do seu pouco aproveitamento das águas marinhas que nos pertencem; a agricultura tem de passar do marasmo em que caímos desde a altura em que recebemos da Europa dinheiro para fazer pouco e instar-se junto da população que foge do interior para que se dedique à exploração das terras e, no capítulo da expansão industrial, deve o Presidente da República ser claro para que sejam reduzidas os impedimentos postos pelas burocracias crónicas de um País indolente e que até as fiscalidades que por aí pululam apenas para travar iniciativas, apelando até às empresas estrangeiras, mesmo as de menor porte, para se instalarem no nosso País. E, aos cidadãos, deve o Presidente perder todos os complexos e apelar para que deixem de fazer greves que, nesta altura, só servem para complicar ainda mais a situação difícil que atravessamos, tais como as dos maquinistas da CP, empresa falida que custa milhões ao erário público e que não pode suportar agora aumentos de salários, lembrando também que as restrições de vária espécie que vão ser anunciadas, em contrapartida dos 80 mil milhões de euros que nos vão ser emprestados para pagarmos o que devemos, esse novo panorama não permite que sonhemos com uma situação que não é a que está instalada entre nós. Insisto: ao Chefe do Estado compete esse dever de falar claro e sem reticências aos povo português, já que os ditos responsáveis dos diversos partidos políticos, esses, com receio de perderem eleitores, só largam pela boca fora aquilo que lhes convém pessoal e partidariamente… nunca a verdade verdadeira. Da minha parte não hesito, neste meu escrito, como tenho feito, de resto, noutras ocasiões, em expressar aquilo que me vai dentro e que consiste numa obrigação de quem se dirige aos outros para mostrar os seus pontos de vista. Não tenho a mais pequena confiança nos homens que assumem as funções de dirigentes partidários. Já tiver, reconheço, mas as circunstâncias abriram-me os olhos. Tenho de votar, estando vivo. Mas sempre com as maiores dúvidas. E, no capítulo do povo que tem a seu cargo a escolha dos seus dirigentes, enquanto não formos capazes de mudar de comportamento e de assumirmos as nossas próprias responsabilidades, não estando sempre à espera que sejam “eles” a resolver os problemas, ainda que sejam criados também por “eles”, nesse particular não tenho o menor pejo em afirmar que precisamos de mais 300 anos de democracia para alcançarmos um mínimo de capacidade de exercer a prática dessa menos má de todas as políticas… como dizia Churchill!

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