QUEM SE ARRISCA A ESCREVER tem de se sujeitar às críticas dos que não mostram concordância com o que se apresenta como opinião. É o direito que têm uns e outros. Mas aquilo que se considera merecer ser exposto, por pouca razão que assista ao autor, é justo que receba consideração pelo facto de ser corrido o risco de enfrentar os comentários adversos.
Este preâmbulo não pretende, de maneira alguma, preparar o terreno para o texto que se segue e que, pelo que se tem visto ao longo da semana, se trata de um tema que tem ocupado a atenção de uma mancha enorme de gente que, por curiosidade ou por ser algo estranho ou também por piedade em relação ao ofendido, ultrapassou o que é normal na área da comunicação nacional. Estou preparado para isso.
De facto, muito embora seja um hábito bem português considerar que um defunto, na hora do adeus, por muito má pessoa que tenha sido ao longo da sua vida, receber o epíteto de que “no fundo até nem era má pessoa”, mesmo assim, não se tratando, no caso de Carlos Castro, de um cidadão que não seja merecedor das saudades que deixa no número dos seus relacionamentos e amizades, há que reconhecer que ocorreu – e ainda não terminou – um excesso de atenção dedicada ao acontecimento ocorrido em Nova Iorque, ao ponto de todos os assuntos que se revestem da maior importância quanto à situação difícil que Portugal atravessa, terem sido colocados em posição secundária e apenas e só o assassinato do dito cronista social ter merecido contínuas demonstrações de gente que, não hesito em afirmá-lo, até aproveitou a ocasião para sobressair e mostrar que existe.
Se se tratasse de uma personalidade que, no plano nacional, representasse um papel de grande importância em muitos dos campos que têm direito a fazer ressaltar o valor dos visados, um artista de nomeada, uma figura política de reconhecido mérito, um cientista que tenha descoberto algo de novo em qualquer das áreas que marcam uma posição relevante, se assim fosse até se entenderia o clamor que tem sido provocado no marasmo português. Mesmo se se tratasse de um jornalista, mas desses que exercem a profissão com absoluta competência, de um escritor que deixasse obra de mérito, de um poeta que realmente o fosse, de alguém que utilizasse a língua lusitana com absoluto respeito pelas regras gramaticais – e refiro-me apenas a estas áreas que, por pouco cuidado nas referências que lhe têm sido feita, pretendem colocar o Carlos Castro dentro de tais estatutos -, ainda que a vítima de um assassinato em circunstâncias que não estão de todo esclarecidas tenha desempenhado o papel que lhe coube na vida com rectidão, insisto em perguntar a quem saiba esclarecer-me pelo motivo que terá levado tanta gente (mas que gente?) a manifestar tamanha piedade pelo que sucedeu.
E, sem pretender estabelecer comparações, quando, por acaso, na mesma altura faleceu um homem que interveio no 25 e Abril e mostrou um comportamento digno de apreço, refiro-me a Vítor Alves, que nem foi nomeado general, e que não foi alvo de mais de um espaço reduzido na informação jornalística, não posso deixar de manifestar o meu espanto perante as gratidões dos cidadãos portugueses. Mas adiante…
Já o afirmei aqui, logo a seguir à notícia do acontecimento, que, da minha parte até contribui para ajudar um rapaz que, na altura em eu se encontrava em muito más condições de subsistência, lhe dei uma ocupação de uma coluna no jornal que dirigia. Fiz o que me foi possível e ele, no último aniversário que comemorou, referiu-se de passagem a esse facto. Vá lá!...
Ao ler alguns dos textos que foram publicados nas várias revistas que dedicaram largo espaço ao acontecimento e puseram a imagem de Carlos Castro a um nível de grande superioridade, constatei que foram enormes os elogios que marcaram o decorrer de uma passagem do cronista pela vida. E ainda bem que não foram parcos os elogios. O mérito que tivesse mostrado nos relacionamentos que manteve não tinha porquê ser omitido nos comentários. Mas isso, as qualidades humanas que possuísse e que, no meu caso, não tive oportunidade de avaliar, não têm nada a ver com as características que lhe fossem atribuídas no capítulo da actividade que lhe coube. Nisso – e é apenas aí que me quero referir – tenho de opinar que não encontro motivo para tanto espaço dispensado na comunicação. E isso, quando, ao mesmo tempo, por exemplo, morriam centenas de pessoas nos desastres ecológicos nos arredores do Rio de Janeiro e também noutro locais enxurradas monstruosas deixaram famílias inteiras em completa miséria.
O mundo, de facto, é muito egoísta. Só leva em consideração o que lhe passa ao pé da porta e, mesmo aí, selecciona os assuntos conforme eles lhe despertam maior curiosidade… não caridade.
Morreu Carlos Castro, foi vítima de um acto relacionado com a homossexualidade, como poderia ter sido por atropelamento na 5.ª avenida. É triste, Tratou-se de um português que viu a morte no estrangeiro. E as circunstâncias foram dramáticas. E é tudo.
Agora, transformar-se esse triste acontecimento num desastre nacional, por muito que cada um de nós também gostasse de receber tamanhas deferências após a morte- eu, por exemplo, nem me passa pela cabeça que tal me suceda, pois que nem razão para isso existe -, manda a verdade e o bom senso, que tanto nos falta por cá, mesmo nas piores circunstâncias, como é o que ocorre nesta altura aos viventes no nosso País, que sejamos comedidos e não ultrapassemos as medidas que cabem a cada coisa… e no seu lugar.
Este preâmbulo não pretende, de maneira alguma, preparar o terreno para o texto que se segue e que, pelo que se tem visto ao longo da semana, se trata de um tema que tem ocupado a atenção de uma mancha enorme de gente que, por curiosidade ou por ser algo estranho ou também por piedade em relação ao ofendido, ultrapassou o que é normal na área da comunicação nacional. Estou preparado para isso.
De facto, muito embora seja um hábito bem português considerar que um defunto, na hora do adeus, por muito má pessoa que tenha sido ao longo da sua vida, receber o epíteto de que “no fundo até nem era má pessoa”, mesmo assim, não se tratando, no caso de Carlos Castro, de um cidadão que não seja merecedor das saudades que deixa no número dos seus relacionamentos e amizades, há que reconhecer que ocorreu – e ainda não terminou – um excesso de atenção dedicada ao acontecimento ocorrido em Nova Iorque, ao ponto de todos os assuntos que se revestem da maior importância quanto à situação difícil que Portugal atravessa, terem sido colocados em posição secundária e apenas e só o assassinato do dito cronista social ter merecido contínuas demonstrações de gente que, não hesito em afirmá-lo, até aproveitou a ocasião para sobressair e mostrar que existe.
Se se tratasse de uma personalidade que, no plano nacional, representasse um papel de grande importância em muitos dos campos que têm direito a fazer ressaltar o valor dos visados, um artista de nomeada, uma figura política de reconhecido mérito, um cientista que tenha descoberto algo de novo em qualquer das áreas que marcam uma posição relevante, se assim fosse até se entenderia o clamor que tem sido provocado no marasmo português. Mesmo se se tratasse de um jornalista, mas desses que exercem a profissão com absoluta competência, de um escritor que deixasse obra de mérito, de um poeta que realmente o fosse, de alguém que utilizasse a língua lusitana com absoluto respeito pelas regras gramaticais – e refiro-me apenas a estas áreas que, por pouco cuidado nas referências que lhe têm sido feita, pretendem colocar o Carlos Castro dentro de tais estatutos -, ainda que a vítima de um assassinato em circunstâncias que não estão de todo esclarecidas tenha desempenhado o papel que lhe coube na vida com rectidão, insisto em perguntar a quem saiba esclarecer-me pelo motivo que terá levado tanta gente (mas que gente?) a manifestar tamanha piedade pelo que sucedeu.
E, sem pretender estabelecer comparações, quando, por acaso, na mesma altura faleceu um homem que interveio no 25 e Abril e mostrou um comportamento digno de apreço, refiro-me a Vítor Alves, que nem foi nomeado general, e que não foi alvo de mais de um espaço reduzido na informação jornalística, não posso deixar de manifestar o meu espanto perante as gratidões dos cidadãos portugueses. Mas adiante…
Já o afirmei aqui, logo a seguir à notícia do acontecimento, que, da minha parte até contribui para ajudar um rapaz que, na altura em eu se encontrava em muito más condições de subsistência, lhe dei uma ocupação de uma coluna no jornal que dirigia. Fiz o que me foi possível e ele, no último aniversário que comemorou, referiu-se de passagem a esse facto. Vá lá!...
Ao ler alguns dos textos que foram publicados nas várias revistas que dedicaram largo espaço ao acontecimento e puseram a imagem de Carlos Castro a um nível de grande superioridade, constatei que foram enormes os elogios que marcaram o decorrer de uma passagem do cronista pela vida. E ainda bem que não foram parcos os elogios. O mérito que tivesse mostrado nos relacionamentos que manteve não tinha porquê ser omitido nos comentários. Mas isso, as qualidades humanas que possuísse e que, no meu caso, não tive oportunidade de avaliar, não têm nada a ver com as características que lhe fossem atribuídas no capítulo da actividade que lhe coube. Nisso – e é apenas aí que me quero referir – tenho de opinar que não encontro motivo para tanto espaço dispensado na comunicação. E isso, quando, ao mesmo tempo, por exemplo, morriam centenas de pessoas nos desastres ecológicos nos arredores do Rio de Janeiro e também noutro locais enxurradas monstruosas deixaram famílias inteiras em completa miséria.
O mundo, de facto, é muito egoísta. Só leva em consideração o que lhe passa ao pé da porta e, mesmo aí, selecciona os assuntos conforme eles lhe despertam maior curiosidade… não caridade.
Morreu Carlos Castro, foi vítima de um acto relacionado com a homossexualidade, como poderia ter sido por atropelamento na 5.ª avenida. É triste, Tratou-se de um português que viu a morte no estrangeiro. E as circunstâncias foram dramáticas. E é tudo.
Agora, transformar-se esse triste acontecimento num desastre nacional, por muito que cada um de nós também gostasse de receber tamanhas deferências após a morte- eu, por exemplo, nem me passa pela cabeça que tal me suceda, pois que nem razão para isso existe -, manda a verdade e o bom senso, que tanto nos falta por cá, mesmo nas piores circunstâncias, como é o que ocorre nesta altura aos viventes no nosso País, que sejamos comedidos e não ultrapassemos as medidas que cabem a cada coisa… e no seu lugar.
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