quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS (1)


APROXIMADOS QUE ESTAMOS do dia em que vão realizar-se as eleições presidenciais, já no próximo domingo, dia 23, será altura de todos nós, portugueses, começarmos a dispor de espaço no nosso pensamento para escolhermos quem vamos preferir para exercer as funções que, neste regime semi-presidencialista, correspondem à de acompanhar, com a distância imposta pela Constituição da República, as actuações dos Governos que estiverem eleitos e que lhes caiba a obrigação de serem competentes e honestos de modo a proteger toda uma Nação que está dependente da eficiência de uma porção de indivíduos.
Consciência deste problema por certo que existirá em grande parte dos cidadãos nacionais – não todos, porque, infelizmente, um número considerável de gente aqui nascida e a viver no solo português, não se sente ligada aos problemas que, como sempre foi forma de dizer entre nós, “é a eles que compete tomar conta disto” - , mas repito, um número apreciável de compatriotas não deixa de se inquietar em relação à escolha que for feita pela generalidade.
Acontecem, porém, duas situações que não ajudam a que a população se entregue, com o entusiasmo que deveria existir, à discussão sobre quem se encontrará em melhores condições para ocupar o palácio de Belém. A primeira é que as difíceis condições de resistência do povo, de uma forma geral, às imposições consequentes da crise que nos atacou e à má defesa que o Executivo de Sócrates nos proporcionou, não deixam margem para que se dedique uma grande importância ao acto que se aproxima; e a segunda deve-se ao facto de todos os concorrentes, uns mais e outros menos, mas nenhum a merecer elogio pela sua actuação, terem ocupado o período eleitoral com ataques de ordem pessoal e a perderem tempo com temas de importância secundária, não salientando o que de mais urgente e preocupante deve estar na primeira linha das actuações, por forma a que os portugueses fiquem com a convicção de que a actuação do próximo Magistrado será revestida de uma utilidade inegável.
Um por um, todos merecem uma observação cuidada em relação àquilo que disseram e também ao seu comportamento ao longo do período eleitoral. Não vou aqui comentar aquilo que não contribuiu para que, pelo menos no meu ponto de vista, se possa afirmar que todos os participantes estiveram à altura do lugar a que aspiram. É um facto que existem grandes distâncias entre todos os concorrentes, assistindo-se até a casos que nem merecem ser referidos, não indo eu indicar quais, mas, de uma forma geral, não me tranquilizou o que me foi dado assistir neste ou naquele pormenor.
Seja como for, por agora e faltando ainda uns dias para o acontecimento, deixo expresso que não me sinto satisfeito com o que foi amplamente mostrado nas televisões. E isso preocupa-me.
Mas os políticos não conseguem perceber que não é por se porem a atacar os outros concorrentes – a imitar os confrontos que se passam entre alguns clubes de futebol e em que a má educação de certos dirigentes afasta até os amadores da modalidade desportiva -, que conseguem atrair votos para as suas causas. Se surgisse um ao menos que se apresentasse com ideias concretas (e não apenas teorias) para que Portugal consiga sair do lamaçal em que se encontra, mesmo sabendo-se que é na actuação governativa que essa função tem lugar, isso não se viu nem ouviu com a franqueza que se impõe.
Um Presidente da República não pode exercer o que cabe aos Governos fazerem, mas ninguém proíbe que mostre claramente qual é a sua opinião e, em vez de se manter calado para não criar conflitos políticos, depois de fazer ver ao primeiro-ministro no activo e em privado o seu desacordo em relação a algo que esteja para ser planeado ou já o tenha sido, se não obtiver um acordo pode e deve dizer aos cidadãos que a sua posição não condiz com o que se está a passar. E a Assembleia da República deve estar plenamente ao corrente desse desencontro de pontos de vista, pois que é a ela que cabe tomar posição, sabendo-se como se sabe, que quando existe maioria parlamentar, o Governo se encontra protegido… até certo ponto!
Numa altura em que os juros que se referem à dívida pública se anunciam que não pararem de subir, sendo já superiores a 7% e em que, encontrando-se no mercado internacional a nossa oferta, é cada vez mais assustadora a “herança” que deixamos para o futuro, essa função de Presidente de uma República, que não encontra cura, só pode ser entregue a quem dê o mínimo de garantias de que não vai choramingar ofensas pelas críticas que lhe possam ser feitas, dentro das regras democráticas.
Mas, no que se refere ao Presidente que está ainda em Belém, nesta altura temos de estar preocupados quanto a saber se Cavaco Silva, se repetir as funções, como tudo indica, irá mudar de atitude e puxará a si a responsabilidade, que também lhe cabe e muito, de tudo fazer para não deixar que o nosso País caminhe ainda mais para a derrocada.
E se for outro o vencedor – coisa que parece não estar assim tão garantida -, esta recomendação aplica-se-lhe igualmente. Não é esta a ocasião que permita enganos na escolha. E até será um horror se concluirmos depois que “do mal o menor”!...

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