sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

AS DÚVIDAS


TENHO-ME DEDICADO muitas vezes a pensar em quem é que eu, se dependesse da minha vontade pessoal e única, escolheria para chefiar um governo que assumisse a responsabilidade de passar a “tomar conta” do nosso País e deparo com uma enorme dificuldade em encontrar a personagem que me mereceria total confiança para solucionar todos os grandes problemas em que Portugal se encontra. Por muito que vasculhe na vasta lista de proponentes que se situam na “bicha” para um dia arranjarem esse emprego, não dou com ninguém que me satisfaça em absoluto. Sem reticências.
Pode ser que se trate da excessiva exigência que ponho na selecção de uma figura que preencha, de forma quase completa, as características que eu alinho para ser desempenhado o referido cargo com o mínimo de condições. Mas, tenho que dizê-lo, por isto ou por aquilo, não consigo apontar uma preferência que me deixe em completa tranquilidade em relação ao futuro de Portugal.
A verdade, porém, é que é forçoso encontrar alguém que, na devida altura, surja a substituir o actual José Sócrates, pois que não existem grandes dúvidas de que o fim do seu “reinado” se encontra à vista, sem necessidade de binóculos. E, face a esta situação, o indivíduo que tomará o seu lugar já deveria fazer parte do meu imaginário, preenchendo as medidas mais imediatas que irá tomar logo após a sua posse. Mas não escondo que as dúvidas que me assaltam são muitas. E as esperanças, por isso, não abundam igualmente.
Porém, a vida continua e o que vem a seguir àquilo que existe é uma constante a que não se pode fugir, embora muitas vezes o povo recorde a frase que tem muitas razões para ser dita: “foi pior a emenda do que o soneto!”
No caso do chefe do Governo que tomará lugar em S. Bento essa situação, suponho, não ocorrerá. Porque fazer mais mal ao País do que o que tem sido a actuação do actual ocupante daquela casa apalaçada, essa ocorrência não estará prevista nem mesmo no espírito dos mais pessimistas.
Mas, o que nos resta a todos nós, os que apenas assistimos e somos forçados a desempenhar as funções que a vida nos reserva, é manter uma certa esperança. E, perante o que parece inegável, de que o próximo primeiro-ministro será o número um do PSD, Pedro Passos Coelho, terá de existir a expectativa de que, pelo menos, a escolha dos elementos que farão parte do seu conjunto ministerial venha a ser feita com o maior sentido de responsabilidade, sem preferências por companheiros que tenham por base somente cores partidárias, pagamentos de favores antigos e conveniências no que se refere a prevenção do futuro no campo individual. É o mínimo que se pode desejar a esta distância.
Mas, já agora, na altura em que redijo este texto, aguardo que as notícias vindas de Zurique indiquem a quem vai calhar a organização do Campeonato de futebol de 2018 e, por isso, mantenho a televisão ligada num canal em contacto com a Suíça. Está a tardar mais do que se esperava, mas já são quase 15,30 minutos e assinalam o atraso na decisão dos elementos do comité desportivo da FIFA que, pelos vistos, custam a chegar a um consenso. E os presságios, nesta altura, é de que a Rússia estará a provocar alguma confusão, pois que o interesse que se verifica na Europa de ver aquela Nação mais integrada no conjunto do nosso Continente, esse agrado para muitos dos elementos europeus dará meios para que a decisão final acabe por ser essa.
Até que, com grande ansiedade por parte dos assistentes à cerimónia do anúncio – já com Sócrates a caminho da Argentina (e depois do discurso “tonto” que produziu naquela cidade suíça), pois que fez aquela viagem mas não se dispôs a esperar até ao anúncio do resultado da FIFA - , acabou por chegar o porta-voz que retirou o sufoco dos aguardantes. E o sobrescrito com a indicação definitiva foi entregue no palco e o anúncio saiu: A Rússia foi a escolhida como sede do mundial de 2018 e o QATAR será o responsável pela mesma organização em 2022! E, como era natural, uma parte da assistência deu largas ao seu contentamento e a outra parte, resignada, aceitou a decisão.
Há que reflectir se, no caso português, essa não escolha do grupo ibérico representará grande perca, ainda que talvez se pudesse recuperar alguma pequena parte dos muitos milhões de euros que se gastaram loucamente (e que ainda não estão recuperados e se mantêm as dívidas para serem pagas mais tarde) com as construções de inúteis estádios que se encontram sem actividade. Por outro lado, dado que faltam oito anos para se chegar ao referido período do campeonato, resta saber se a eventual restauração da normalidade económica, política, financeira e social do nosso País, nessa altura, já estará encontrada. Se não, até poderá ter sido melhor que o encargo com tal realização futebolística não nos tenha calhado, até porque a Espanha também tem de pôr a sua casa em ordem e, nesse particular, seria aconselhável que esta Ibéria desse os passos necessários de braço dado, um Pais com o outro seu parceiro, em lugar de se entregarem os dois a fantasias, por mais gostosos que fossem, nesta altura, justificar até o que se gastou agora com as várias viagens de variadas figuras, para assistirem em Zurique à abertura de um sobrescrito.
Afinal, a dúvida que mantenho em relação à escolha do próximo primeiro-ministro não se fica por aí. Falta de certezas abunda em todos os que, aspirando pela perfeição, neste ou naquele ponto, sempre descortinam alguma coisa que não coincide com o ideal.
Daí o perguntar também: teria sido preferível que Portugal e Espanha tivessem sido escolhidos para o evento de 2018? Provavelmente sim, mas sempre é melhor encarar as realidades e lidar com elas do que andarmos permanentemente a admitir o pouco provável e a lastimarmo-nos por não o conseguir. A experiência que temos encarado nos tempos que correm é bem a prova disso mesmo. E já é altura de termos aprendido alguma coisa com as aspirações, os desejos, os sonhos e de enfrentarmos as realidades, por mais duras que elas sejam.

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