quarta-feira, 8 de setembro de 2010

LISBOA APRECIADA


CAMPO DE OURIQUE, é um bairro lisboeta que me consegue convencer. Pelas suas ruas que a cruzam, pela ausência de subidas e descidas pois toda ela está instalada num planalto, já que a chamada Baixa, que se situa a alguma distância e é servida pelos eléctricos da linha 28, encontra-se no fundo de algumas ravinas, pois esta zona é também por mim apreciada porque as pessoas que a habitam se conhecem umas às outras,dado mesmo que não convivam sabem quem são.
Ainda que tenha alguma dificuldade em decorar os nomes das suas ruas, eu sei encontrá-las, paralelas ou perpendiculares à principal, que é a rua Ferreira Borges, assim como conheço, de uma forma geral, os estabelecimentos que lá estão instalados, se bem que, verdade seja dita, na fase actual é enorme a quantidade que vai encerrando as suas portas, por motivo da crise que não perdoa, mas, mesmo assim, ainda se vão aguentando umas tantas que, sendo antigas, terão poucos gastos fixos e serão os seus proprietários que abrem e fecham as portas. Mas, por exemplo, o meu café matutino, onde escrevo as minhas prosas e arranco as poesias que se vão depois acumulando no disco do meu computador, não sendo já o mesmo de antes, pois esse mudou de ramo, depois é outro que me adoptou e que eu vou conservando até não ocorrer outra mudança. Até, como excepção do que ocorre agora, abriu um simpático local que pretende agarrar os moradores da zona através da simpatia e possibilidade que dá de voltarem a existir as antigas tertúlias que desapareceram da nossa cidade. Chama-se, salvo erro, “Maximum” (ou será “Minimum”?), que o nome é o que menos interessa, até porque afinal chama-se MOMENTVM...
Este café e também onde se podem apreciar algumas delícias, pelo sítio onde se localiza e pela freguesia que o frequenta é para mim o mais importante para poder servir de acolhimento às minhas necessidades de reflexão e de busca de imaginação. E depois, porque o hábito também ajuda muito a puxar pela veia, dado que o escrever sempre no mesmo sítio, com a mesma mesa e a mesma cadeira é meio caminho andado para forçar a produção literária.
Nesta altura em que escrevo este texto estou a ver passar os transeuntes, a maioria caras que me não são estranhas e formada, na maioria parte dos casos por gente de idade, pois este bairro está a acumular uma população que se encontra preparada para utilizar o local da sua recolha final, por curiosidade um cemitério que tem um nome irónico, o dos Prazeres!...
Não me venha dizer que não vale a pena ter escolhido o bairro de Campo de Ourique para viver e, como é o caso de muita gente, ser agora o local onde se goza a reforma, ainda que, perante as perspectivas que se avizinham, as preocupações no que diz respeito ao futuro sejam bem difíceis de enfrentar. Mas esse também é um assunto que os moradores comentam e que o próprio mercado que aqui existe e o jardim da Parada, que onde os homens se juntam à volta de mesas a utilizar as cartas para passar o tempo, são locais apropriados para as trocas de impressões.
Campo de Ourique é um resto de uma Lisboa antiga que, para além de Alfama, Bairro Alto, Bica, Madragoa e pouco mais se conserva por algum tempo com raízes. Porque isto de Lisboa ser coisa boa, como a canção diz, é tema que todas as modernidades têm vindo a eliminar. Mas os novos, os que já cá estão e aqueles que virão ocupar o espaço e o tempo do que vai mudando, esses talvez encontrem forma de substituir o tradicional e oxalá essa mudança represente uma melhoria daquilo que vai desaparecendo.

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