Deu-me agora para me pôr a pensar naquilo que fiz toda a minha vida. Distingo mais alguns feitos do que outros. Mas, ao contrário do que se passa comigo em relação a acontecimentos recentes, que esses esqueço-os facilmente, os antigos, até com pormenores, recordo-os com grande nitidez.
É curioso. Até palavras ditas e respostas recebidas me saltam à memória com nitidez. O que me escapa mais são as fisionomias, que essas, bem como os nomes dos protagonistas, tenho tendência a perdê-las.
Isso pode querer dizer o quê? Talvez que fixei mais os factos do que as pessoas. Que registei na memória o que sucedeu e dei menos valor a quem interveio nas acções. Sobretudo no que se refere a algumas pessoas, não tão poucas como isso, que teriam razões para as recordar pelas ajudas que movi nas suas vidas, quanto a essas seria natural que retivesse as suas faces guardadas num recanto do meu cérebro… mas nem isso. Passou, passou.
Parece que, na generalidade dos casos, com os outros acontece precisamente o contrário do que se passa comigo. Não que eu queira distinguir-me com esta anotação, antes pelo contrário, o que sublinho é que, mesmo a quem fui útil nunca fiz questão de fazer uma ficha e arquivá-la no ficheiro dos devedores.
De facto, pode-se ter em conta quem foi o autor de uma descoberta importante, quem deixou para a posteridade uma obra de monta, seja qual for a área onde actuou, mas o que fica para o futuro são os resultados que se obtêm com a acção desenvolvida por alguém. Poderá a maioria das pessoas não ser capaz de se recordar do nome de quem descobriu a penicilina, mas que esta medicina salvou muita gente da morte, isso é que será reconhecido pela humanidade inteira.
É uma injustiça o olvido de nomes de personalidades que contribuíram para o enriquecimento do património mundial, científico, artístico ou o que seja. É uma verdade indiscutível. Mas eu prefiro ter acesso ao telefone, contemplar com êxtase a Gioconda, deliciar-me com a 9.ª Sinfonia, mesmo passando-me os nomes de Bell, de Leonardo Da Vinci, de Beethoven ou de Fleming.
É uma maneira de ver as coisas, bem sei. Mas se eu começo por me culpar a mim, se me recordo mais daquilo que ficou feito do que em quem interferiu nas obras, desculparei os que não têm memória para nomes. Já a lista de reis de Portugal e seus cognomes, a indicação dos rios nacionais e seus afluentes, das preposições ditas de enxurrada, da tabuada sabida de cor e salteado, de tudo isso que se aprendia e se repetia na velha instrução primária, que era onde se estudava o básico que hoje anda tão fora do domínio da juventude que parte para o secundário em plena ignorância, todos esses conhecimentos ficaram guardados num cacifo do cérebro e, até morrer, as gentes do meu tempo não esqueceram. E os que seguiram nos estudos, bem agradeceram a tal “basezinha”, como lhe chamava o Eça.
Mas isso são outros contos, que os ensinamentos de hoje não fazem nem ideia como eram antes.
É curioso. Até palavras ditas e respostas recebidas me saltam à memória com nitidez. O que me escapa mais são as fisionomias, que essas, bem como os nomes dos protagonistas, tenho tendência a perdê-las.
Isso pode querer dizer o quê? Talvez que fixei mais os factos do que as pessoas. Que registei na memória o que sucedeu e dei menos valor a quem interveio nas acções. Sobretudo no que se refere a algumas pessoas, não tão poucas como isso, que teriam razões para as recordar pelas ajudas que movi nas suas vidas, quanto a essas seria natural que retivesse as suas faces guardadas num recanto do meu cérebro… mas nem isso. Passou, passou.
Parece que, na generalidade dos casos, com os outros acontece precisamente o contrário do que se passa comigo. Não que eu queira distinguir-me com esta anotação, antes pelo contrário, o que sublinho é que, mesmo a quem fui útil nunca fiz questão de fazer uma ficha e arquivá-la no ficheiro dos devedores.
De facto, pode-se ter em conta quem foi o autor de uma descoberta importante, quem deixou para a posteridade uma obra de monta, seja qual for a área onde actuou, mas o que fica para o futuro são os resultados que se obtêm com a acção desenvolvida por alguém. Poderá a maioria das pessoas não ser capaz de se recordar do nome de quem descobriu a penicilina, mas que esta medicina salvou muita gente da morte, isso é que será reconhecido pela humanidade inteira.
É uma injustiça o olvido de nomes de personalidades que contribuíram para o enriquecimento do património mundial, científico, artístico ou o que seja. É uma verdade indiscutível. Mas eu prefiro ter acesso ao telefone, contemplar com êxtase a Gioconda, deliciar-me com a 9.ª Sinfonia, mesmo passando-me os nomes de Bell, de Leonardo Da Vinci, de Beethoven ou de Fleming.
É uma maneira de ver as coisas, bem sei. Mas se eu começo por me culpar a mim, se me recordo mais daquilo que ficou feito do que em quem interferiu nas obras, desculparei os que não têm memória para nomes. Já a lista de reis de Portugal e seus cognomes, a indicação dos rios nacionais e seus afluentes, das preposições ditas de enxurrada, da tabuada sabida de cor e salteado, de tudo isso que se aprendia e se repetia na velha instrução primária, que era onde se estudava o básico que hoje anda tão fora do domínio da juventude que parte para o secundário em plena ignorância, todos esses conhecimentos ficaram guardados num cacifo do cérebro e, até morrer, as gentes do meu tempo não esqueceram. E os que seguiram nos estudos, bem agradeceram a tal “basezinha”, como lhe chamava o Eça.
Mas isso são outros contos, que os ensinamentos de hoje não fazem nem ideia como eram antes.
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