Não posso deixar de reflectir que, um dia, não sei em que altura, se estes textos caírem nas mãos de alguém que descubra que vale a pena lê-los e lhes encontre um mínimo de valor, seja onde for que eu esteja, isto no caso do falecido, mesmo em cinzas, ter algum sítio onde se aquietar, nesse cantinho encontrarei razões para a consolação. Por fim, houve alguém que reconheceu em mim algum interesse.
Escrever isto, nesta altura em que me encontro em pleno nas minhas faculdades mentais, parece querer reflectir uma soberba que me fica mal, mas o que ninguém pode negar é que me esforcei, enquanto vivo, por dar de mim tudo o que tinha para mostrar quanto vale uma aspiração que talvez não chegue nunca a tornar-se realidade: a de me entregar à arte da escrita, da prosa e dos poemas, e à tentação da pintura, muito a medo, já que, aquilo que eu mais desejava era ter sido agarrado pela música, essa que nunca passou do enorme prazer de ouvir.
Sou, pois, um falhado. Sempre vivi de aspirações. Embora não invejoso, entristece-me assistir, à minha volta, ao desmedido acarinhamento a cantores que cantam mesmo mal, a escritores que se encontram longe de merecer essa classificação, a artistas plásticos que se enganaram na opção tomada, todos com relativo êxito que, por muito passageiro que seja, sempre lhes vai enchendo o ego de satisfação.
Mas esses, eu também não invejo. São equívocos de um período que não pode deixar de ser curto, ainda que ocupe toda a existência dos próprios contemplados. Não atinge o futuro. Não passa para depois.
Feitas bem as contas, eu preferia que, como sucede agora, não me seja reconhecido qualquer valor em vida, desde que, mais tarde, já não sendo eu a assistir, seja descoberta alguma injustiça em tal pequena valorização. É uma ilusão que sustento, confesso.
Sou, de facto, um espectador de mim próprio. Reconheço as minhas falhas, não hesito em passá-las para o papel, em dar testemunho das críticas que me faço, mas tenho de ligar com o exterior de mim, guardar no fundo do eu as preocupações que seriam ridículas se as transmitisse a alguém e, por isso, me fecho, deixando aos outros uma sensação de um afastamento que, na verdade, não é propositado.
Se os católicos praticantes utilizam o padre para desabafar o que consideram ser os seus pecados, eu, que não sigo há imenso tempo essa prática que até considero ridícula, deixo na escrita, quando me encontro isolado do mundo, as minhas angústias, as queixas que me afligem, os erros que pratico. Este é o meu confessor. E, dado que o papel não aconselha, fico, no mínimo, com a consciência mais aliviada.
Por mais absurda que seja esta prática, consola-me. Deixa limpa, por momentos, essa tal consciência. Amanhã logo se vê!..
Escrever isto, nesta altura em que me encontro em pleno nas minhas faculdades mentais, parece querer reflectir uma soberba que me fica mal, mas o que ninguém pode negar é que me esforcei, enquanto vivo, por dar de mim tudo o que tinha para mostrar quanto vale uma aspiração que talvez não chegue nunca a tornar-se realidade: a de me entregar à arte da escrita, da prosa e dos poemas, e à tentação da pintura, muito a medo, já que, aquilo que eu mais desejava era ter sido agarrado pela música, essa que nunca passou do enorme prazer de ouvir.
Sou, pois, um falhado. Sempre vivi de aspirações. Embora não invejoso, entristece-me assistir, à minha volta, ao desmedido acarinhamento a cantores que cantam mesmo mal, a escritores que se encontram longe de merecer essa classificação, a artistas plásticos que se enganaram na opção tomada, todos com relativo êxito que, por muito passageiro que seja, sempre lhes vai enchendo o ego de satisfação.
Mas esses, eu também não invejo. São equívocos de um período que não pode deixar de ser curto, ainda que ocupe toda a existência dos próprios contemplados. Não atinge o futuro. Não passa para depois.
Feitas bem as contas, eu preferia que, como sucede agora, não me seja reconhecido qualquer valor em vida, desde que, mais tarde, já não sendo eu a assistir, seja descoberta alguma injustiça em tal pequena valorização. É uma ilusão que sustento, confesso.
Sou, de facto, um espectador de mim próprio. Reconheço as minhas falhas, não hesito em passá-las para o papel, em dar testemunho das críticas que me faço, mas tenho de ligar com o exterior de mim, guardar no fundo do eu as preocupações que seriam ridículas se as transmitisse a alguém e, por isso, me fecho, deixando aos outros uma sensação de um afastamento que, na verdade, não é propositado.
Se os católicos praticantes utilizam o padre para desabafar o que consideram ser os seus pecados, eu, que não sigo há imenso tempo essa prática que até considero ridícula, deixo na escrita, quando me encontro isolado do mundo, as minhas angústias, as queixas que me afligem, os erros que pratico. Este é o meu confessor. E, dado que o papel não aconselha, fico, no mínimo, com a consciência mais aliviada.
Por mais absurda que seja esta prática, consola-me. Deixa limpa, por momentos, essa tal consciência. Amanhã logo se vê!..
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