quinta-feira, 8 de julho de 2010

RICOS


JULGO QUE não existirão grandes dúvidas de que, no que me diz respeito, não sou um acérrimo defensor das grandes fortunas e que, por isso, também não concordo com as medidas que lhes dão ainda maiores regalias. Em todas as situações mas, particularmente, quando o mundo atravessa períodos de grande debilidade económica e financeira e que a fome, em inúmeras áreas terrestres, não se consegue extinguir, sendo enormes as barreiras que separam os dois pólos opostos, é aí que os homens de bem devem procurar contribuir, dentro das limitações de cada um, para que diminuam tamanhas e tão terríveis anomalias.
Mas, dado que a vida dos seres humanos obedece a princípios que os crentes das religiões aceitam como sendo uma determinação superior, ou seja, em face da realidade com que deparamos desde que o Homo Sapiens se instalou nas suas múltiplas craveiras, mostra-nos a História que sempre existiu essa malfadada separação, com uns a viver em palácios e outros a dormir debaixo das pontes. E, por muito que tanta gente se indigne, que surjam políticas com a pretensão de eliminar tão cruéis diferenças – mas que os próprios homens depois as anulam, para obter benefícios próprios -, que se consumam milhões de páginas de literatura que os génios da escrita aproveitam para alimentar os seus romances, a verdade é que, século após século, ano atrás de ano, não se verifica uma actuação que consiga eliminar a tal desigualdade de vidas que, pelo menos da boca para fora, se proclama com tristeza em todos os momentos. E se Jesus Cristo foi a figura que ficou na História, desde há dois mil anos, a hastear a bandeira da bondade absoluta, continuando a ser venerado ao longo de todos os tempos pelos denominados cristãos, a linha religiosa que conta com maior número de seguidores, se, nesta era, fizesse nova aparição e repetisse a proclamação dos bons actos e da santidade, a dúvida quanto aos resultados que poderia conseguir é mais do que justificada. Penso que ninguém lhe ligaria e até talvez voltasse a ser escorraçado e condenado de novo à morte. Seria um empecilho!
Actualizando-me com os factos, vem a propósito referir a decisão tomada agora pelo Governo actual, obrigando os bancos estabelecidos em Portugal a prestar a informação permanente dos depósitos bancários, a pronto e a prazo, dos seus clientes, para poder taxar fiscalmente sobre os juros que cada um recebe. Poder-se-á encontrar justificação para tal medida, sempre sob o ponto de vista de controlar os muito ricos e fazê-los contribuir para ajudar o Estado a enfrentar as dificuldades e a poder actuar nesse flagelo que também é agora anunciada de que há cada vez mais famílias portuguesas a viver sob o estigma da pobreza. Moralmente está certo, mas o perigo no que respeita às fugas de capitais para paraísos fiscais, essa corrida para o exterior é um risco que pode sair mais caro do que a não cobrança de impostos a esses felizardos da excessiva fartura. E toda a gente sabe que o dinheiro não tem Pátria!
Acresce ainda que, segundo alguns legalistas, a norma que entra em vigor tem de ser decidida e votada na Assembleia da República, sendo que esta ausência de atitude já é um costume em relação ao que ocorre por cá, visto que o próprio Presidente tem de recorrer com frequência ao respectivo Tribunal, tantas são as decisões tomadas um pouco de ânimo leve, que impõem o olho crítico dos “sábios” constitucionalistas.
Eu só falo neste tema porque, na verdade, todos nós, cidadãos que ainda andamos atentos aos passos que os governantes dão, não podemos suportar mais que não exista um mínimo de cautela e de competência para que, antes de serem tornadas públicas decisões dos Executivos – deste como dos anteriores -, sejam tomadas todas as cautelas para que não esbarrem depois com as implicações em relação às normas legais.
O que não falta por aí são discursos de acusações sobre o que anda mal, o que são escassas são as indicações concretas das formas de solucionar os problemas. Do Governo, já se sabe. Mas do lado das Oposições também não são transmitidas operações concretas que possam ser aplaudidas ou repudiadas pelos habitantes.
Dizer mal, é fácil. Indicar caminhos e assumir a responsabilidade pelo que cada um faria se estivesse no Executivo, isso já é demasiado comprometedor. Eu, por mim, gostava de tomar conhecimento de um trabalho deste género para me podar pronunciar e ir formulando o meu apoio na hora de uma votação.

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