segunda-feira, 28 de junho de 2010

VÃO-SE OS ANÉIS...


QUANDO JÁ SE ANUNCIA como uma possibilidade ou a partir do momento em que um país aborda a hipótese de vender parte das suas terras para pagar uma dívida pública que assumiu, mesmo que depois surjam os desmentidos, como acontece agora, por parte da Grécia, que recusa admitir o que um jornal inglês publicou de que a ilha Nafsika – com indicação de nome e tudo – no mar Egeu, iria ser vendida a investidores russos e chineses por uns tantos milhões de euros, quando tal se verifica isso quer dizer que, numa hora de aflição, se aplica o velho ditado lusitano de que “podem ir os anéis, mas ficam os dedos”.
Não há ninguém, por mais bem informado que se julgue e por muito sapiente que seja destes coisas das ciências económicas e financeiras, que nesta altura seja capaz de assegurar com absoluta fidelidade o que irá ocorrer no mundo da crise, tanto no que respeita a países longínquos como os que se situam mais perto, na zona da Europa. Quem assumiu dívidas astronómicas, em tempos de poucas cautelas, na hora de as ter de liquidar e se os credores não são muito susceptíveis de colaborar nas resoluções, o que resta fazer é entregar os activos que possuir e negociá-los em troca dos valores que gastou em seu proveito. E, no que diz respeito às situações que ocorrem com as Nações, outra alternativa não existe, motivo por que esta hipóteses que corre na Informação de que a Grécia poderá ir entregando ilhas que fazem parte do seu património, o qual conta com cerca de seis mil e constituem territórios bem desejados pelos milionários de todo o mundo.
Para nos distrairmos um pouco do que ocorre connosco, debrucemo-nos sobre aquilo que faz parte da Nação grega, a qual já anunciou a possibilidade do congelamento de pensões, o aumento da idade mínima de reformas (23 % da população) e aceder a mais um empréstimo externo de 110 mil milhões de euros. Tudo isso considerado como talvez suficiente para não ter de tomar as tais medidas de venda de terrenos próprios. E com uma população de 10,7 milhões, aí verifica-se uma semelhança com aquilo que somos nós, portugueses, mas não será por aí que temos de nos acautelar, até porque no que diz respeito a ilhas, para além das Berlengas, só nos restam a Madeira e o Açores, e tal eventualidade encontra-se completamente fora de questão.
Mas, seguindo os desejos de José Sócrates, que tem a felicidade pessoal de só ter pensamentos ditos positivos e que até afirma que “está a puxar sozinho o País!”, vamos afastar tamanhas fatalidades de não conseguirmos vir a pagar, nas alturas próprias, os montantes que fazem parte da vasta gama de dívidas que, por um lado, o Estado português tem de enfrentar, e, por outro, no capítulo das dívidas privadas, por exemplo dos nossos bancos (que aumentaram, esta semana, os montantes a pagar ao Banco Europeu, para 33,5 mil milhões de euros), também se chegará às várias solvências que competem aos devedores. E dentro deste optimismo – que não é a minha forma de enfrentar a situação -, resta-nos a nós, cidadãos, os que pertencermos ainda ao mundo dos vivos e os que nos substituam no futuro que os espera, confiar que, através de pesados impostos que não poderão faltar, de apertos do cinto por todas as camadas, principalmente na área pública, e as medidas que forem descobertas, no caso de haverem ainda estradas para se aplicarem pagamentos de circulação, para chegarmos à altura em que poderemos dormir descansados, isto é, não tenhamos mais “homens do fraque” a bater-nos à porta com os recibos nas mãos.
Ficam-nos os dedos, que esses ninguém os quererá. E a nós bem falta nos fazem, porque é de esperar que, com o aumento de dificuldades, as mãos sejam poucas para entrarmos na fase da produção que, tenho de dizê-lo uma vez mais, é exactamente esse o sector em que nunca fomos grandes campeões, mas que chegará a altura em que, de novo como diz o povo, “a fome aguça o engenho”.

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