terça-feira, 22 de junho de 2010

FUTEBOL ADORMECE


TER SIDO O RESULTADO do jogo de futebol com a Coreia do Norte tão expressivo, em que Portugal saiu ontem vencedor por sete golos a zero, isto quando, haveria a ideia de que iríamos sofrer um grande bocado, recordando o que se passou há vários anos e em que, bem me lembro, depois de estarmos a perder por e a zero, foi o Eusébio quem nos salvou do desastre, acabando o resultado a nosso favor, esse feito fez renascer, por algum tempo, o ânimo neste povo que, digam lá o que quiserem, tem a sua felicidade muito relacionada com o que se passa no reino do jogo num campo com onze jogadores de cada lado.
Não terá sido apenas por se tratar de um adversário que, mesmo no mundo político de Esquerda, não conta com grandes simpatias e eu, que já visitei a Coreia do Sul e estive mesmo na fronteira no paralelo 38, como já o disse aqui, ao ter contemplado os militares do lado Norte com semblantes deveras carrancudos, também não guardo boa recordação dessa gente que, ao fim e ao cabo, não tem culpa de viver num território que tem sido dirigido por um fanatismo ditatorial de que não se sabe bem quando lhe caberá a vez de se libertar de tamanha fatalidade.
Mas, voltando à vitória propriamente dita, vamos ver quanto tempo durará a alegria dos portugueses e se ela chegará para fazer esquecer por muito tempo as agruras de vida difícil que atravessamos. Pelo menos, como portugueses que somos e que temos tendência a conformarmos facilmente com as agruras, encontrando sempre analgésicos que vão aliviando os males, mesmo que não sejam apenas temporários, pode ser que, se conseguirmos um resultado reconfortante no próximo jogo que tivermos de defrontar no campeonato mundial na África do Sul, possamos prolongar por mais algum tempo a falta de meios de subsistência que se vão agravando em Portugal.
E, de cachecol ao pescoço, de bandeira na mão ou à janela, com as caras pintadas com as cores nacionais, apitando fortemente a buzina dos automóveis, fazendo esse ruído horroroso das cornetas inventadas agora, dizem que para dar força aos jogadores, tudo isso servirá para nos entreter e ainda bem que existem meios para desviar a atenção para acontecimentos que criam um interregno nas nossas preocupações.
Pelo menos por agora ficamos mais satisfeitos com o que nos rodeia. O futebol tem destas coisas. E nem os submarinos que temos que pagar lá mais para diante, os milhares de eucaliptos que foram cortados e que deram enormes benefícios a quem conseguiu interferir para que a autorização ministerial fosse conseguida, tudo isso e o muito que se arrasta neste País sem que se verifique interesse em resolver vai sendo entretido com os futebóis que sempre aparecem e que servem às mil maravilhas para que a vida continue, má mas aparentemente aceitável.
Quem governa tem sempre, neste nosso País, algum acontecimento que distrai a população e lhe dá motivo para se manter sem ultrapassar as medidas. Eu bem gostaria de ver a marcação de uma manifestação popular numa altura em que, num campo de futebol, se estivesse a jogar uma partida que se sobrepõe a todos os assuntos que interessam a Portugal. Nem o Carvalho da Silva nem ninguém desfilaria pela avenida da Liberdade…

Sem comentários: