sexta-feira, 25 de junho de 2010

FÉRIAS -- TEMPOS E CONTRATEMPOS


SERÁ QUE ISSO de nos encontrarmos já há algum tempo, no nosso País, numa situação que não me canso de considerar no mínimo complicada, o que até levou o ministro das Finanças a ter declarado finalmente, em altos berros, no Parlamento e em resposta a uma crítica de um deputado da Oposição, que “o Estado não tem dinheiro”, será que esse tormento é compreendido, nas suas totais consequências, por todos os portugueses?
E, acrescento ainda eu, sobretudo nos escalões mais elevados, naqueles em que as funções são exercidas por gente que não se pode considerar distraída das realidades e por isso têm de ser considerados responsáveis, o mesmo alto grau de dificuldade que se atravessa é levado em conta com a maior das seriedades?
Por muito que queira acreditar que sim, os factos a que somos forçados a assistir dão indicação de que não é esse o seu comportamento. E dou até um exemplo bem recente: sabendo-se que o processo Casa Pia tão falado, relacionado com alegados abusos sexuais a ex-alunos da referida instituição de ensino, se arrasta nos tribunais há vários anos, desde 2002, e que estava prevista a leitura da sentença final em 9 de Julho próximo, pois não será então nessa data que vai ter lugar, mas sim lá para Setembro, devido a que a última alteração das férias judiciais, estabelecidas de 15 de Julho a 31 de Agosto – dois meses, está bem de ver! – não dão tempo a que se realize o que é aguardado com a maior expectativa, lançando-se na praça pública todas as hipóteses possíveis, visto ser sabido que, em Portugal, quando se fala de Justiça, tudo pode acontecer e as grande surpresas não constituem novidade para ninguém.
É verdade que todos os considerados “fait-divers” (desculpem a utilização de uma língua estrangeira, mas até nem vale a pena ser-se muito rigoroso, quando à nossa volta só encontramos irresponsabilidades) são da maior utilidade para distrair o nosso povo dos graves problemas de escassez de tudo que nos faz falta, especialmente o dinheiro, e que o campeonato do mundo de futebol, o acontecimento com a morte de José Saramago, e tudo que possa distrair das amarguras da vida que nos é imposta, serve para os lusitanos deixarem de pensar, por instantes, no que sofrem e no futuro que os espera. Mas, quem ainda pensa a sério nos acontecimentos que nos rodeiam, por muito que queiram os responsáveis disfarçar, não é possível, por exemplo neste blogue, olhar para o lado e assobiar.
E só um acréscimo ao que fica dito: os bancos portugueses declararam que se debatem com enormes dificuldades de financiamento que estavam antes a ser obtidos no estrangeiro, pelo que se verifica um perigoso estrangulamento nos empréstimos que as nossas empresas solicitam, dando como resultado que cada vez se torna mais complicado investir e fazer desabrochar a economia, que é essa que poderia diminuir o desemprego e pôr a máquina do desenvolvimento em acção. E, por acréscimo, vem de fora a notícia de que Portugal só poderá talvez começar a sair da recessão em que se encontra lá em 2012. Bonito panorama!
Gozemos, portanto, boas e prolongadas férias. Paremos todos a contemplar as vistas. Não nos esfalfemos a tentar produzir mais e melhor. Nada disso. E quem pensa o contrário só pode ser um tonto!
E a terminar, apenas esta novidade: tendo sido conhecida ao fim do dia a impossibilidade de pôr em acção as cobranças das portagens nas Scut, no próximo dia 1 de Julho, por não ter sido obtida pelo Governo a respectiva autorização na Assembleia da República, dado o PSD não mostrar concordância com o sistema electrónico de cobranças, também aqui as datas estabelecidas são adiadas, não se sabe por quanto tempo. Anda-se por cá com os tempos desencontrados.
É na Justiça, mas também é nas Scut…

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