segunda-feira, 21 de junho de 2010

DESEMPREGO


CUSTA-ME MUITO ter de admitir o que vou expor e que foi, tempos atrás, neste mesmo blogue, objecto de uma apreciação que, por sua vez, causou uma pequena invasão de reclamações de alguns leitores que ainda não defendem um ponto de vista que, nas circunstâncias que atravessamos, será igual ao meu. Como já estou habituado, tive, também agora, aparentemente razão antes de tempo. E o tempo mais um pouco adiante o mostrará.
Tratam-se das leis laborais que ainda são adoptadas em Portugal e que, dadas as dificuldades que atravessamos e do elevadíssimo número de desempregados que estão registados nos respectivos centros, aquelas não podem continuar a ser mantidas, pois que os empresários, mesmo quando, eventualmente, por ter chegado uma encomenda de produtos que não era esperada, necessitam de aumentar provisoriamente o número de trabalhadores, não se atrevem a fazê-lo, pois bem sabem que, quando voltarem a diminuir as encomendas, se encontram perante o dilema de não poder dispensar os excedentes e, ao fazê-lo, são forçados a pagar indemnizações que ultrapassam as capacidades de tesouraria de que dispõem.
É evidente que ninguém pode afirmar que dispõe da certeza de que a liberalização das leis do trabalho, facilitando a dispensa de trabalhadores sempre que as entidades empregadoras se enfrentam com baixas de vendas dos seus produtos, essa possibilidade abra perspectivas para diminuir o elevado panorama de gente sem trabalho. Os seres humanos, que são tanto os que têm empresas como os que trabalham nelas, não são gente liberta de subterfúgios e de tendências a fugir às leis sempre que podem tirar algum proveito em seu favor. Sabemos perfeitamente do que são capazes os homens e mulheres que habitam este mundo e, no caso português, maior obrigação temos de ter quanto a defendermo-nos das “espertezas saloias” que sabemos tão bem existirem.
Mas, mesmo condicionados por estas características, é essencial e urgente fazer alguma coisa para não permanecermos com a cruz incomensurável do desemprego que reina e nos afoga na nossa República. E, ainda que a experiência não seja a ideal para solucionar o problema, há que tentar esta ou outras, mas o que não podemos é sentarmo-nos a contemplar e a aguardar por algum milagre, que caia não se sabe sequer de onde.
Estando este Governo de José Sócrates entregue ao que lhe vier a acontecer, não dependendo já da sua actuação o permanecer muito mais tempo no seu lugar e, menos ainda, melhorar a desagradável imagem que foi acumulando ao longo dos seus dois mandatos, é certo que dispõe de uma posição que se pode considerar a mais confortável para tentar novas possibilidades e, se mudar de atitude quanto ao que tem sido o seu comportamento e desta vez explicar abertamente aos portugueses o que pretende com as acções que vier a tomar, neste caso da mudança das leis do trabalho já nem lhe importa muito o que lhe chamarem, pois que os tais 150 mil empregos que prometeu quando se perfilou para conduzir o anterior Gabinete, promessa que nunca conseguiu realizar, neste momento concreto já ninguém se dá ao trabalho de lhe apontar o dedo por qualquer falta, pelo que assim poderia tentar “limpar-se” das asneiras que foi acumulando ao longo dos seus dois mandatos. De resto, se a Espanha, com o Governo socialista, já adoptou esta medida de facilitar as leis laborais, mais um aconchego teria o nosso primeiro-ministro se vier a ter a coragem de empreender algo semelhante. E se não resultar, pois já não estará sozinho.
Mas, já agora, aqui deixo uma pergunta, de que conheço a resposta mas que considero ser importante que o Ministro respectivo explique à população o que se passa: vêm-se, com alguma frequência, nas montras de certas lojas, pedidos de empregados, e essas solicitações mantêm-se durante longo tempo. Então que se passa com os desempregados? Pois já me foi dito que os que se disponibilizam para ocupar tais lugares, ao estarem a receber o subsídio de desemprego, como o seu valor é igual ou superior ao salário que lhes é proposto pelos estabelecimentos que anunciam, não trocam uma coisa por outra, tanto mais que, se deixarem o desemprego e passarem a ocupar um trabalho perdem o subsídio que recebem e não voltam a tê-lo.
Então isto não tem solução? Não poderiam os novos eventuais patrões ser obrigados a comunicar ao Instituto do Desemprego cada vez que surgisse uma situação dessas, de modo a que os desempregados crónicos não continuassem a receber apoios para se manterem com o estatuto de não empregado? Mas esses casos teriam de ser rigorosamente fiscalizados, para evitar eventuais vinganças, maus comportamentos que, a existirem, teriam de ser judicialmente reprimidas.
Enfim, trata-se de um problema que não se pode admitir que se prolongue sem que as entidades responsáveis permaneçam mudas e quedas. Discutir banalidades e não chegar a conclusões que beneficiem as situações difíceis com que nos debatemos, a isso assiste-se todos os dias. E o grave é que, neste nosso País, ninguém se preocupa em meter as mãos nos problemas e em resolvê-los. Uma tristeza!...
Também, dedicar atenção a este assunto quando, uma boa parte da população portuguesa está a roer as unhas perante o desafio de futebol que se vai jogar hoje, contra a Coreia do Norte, e em que os que trabalham vão para e os desempregados estar a contemplar as televisões, é, de facto, uma falta de sentido de oportunidade da minha parte! Mas é só para contariar.

Sem comentários: