sábado, 6 de março de 2010

O OPTIMISTA SOARES!...


TEM DIAS, como se costuma dizer sempre que não se verifica uma constância no comportamento e nas opiniões de um cidadão cá do burgo. E é isso que também se passa comigo, que sou um ser humano normal deste nosso País. E tal afirmação refere-se ao estado de espírito que vou mantendo em relação aos acontecimentos que nos são dados a contemplar, no respeitante ao todo o espaço mundial mas, muito naturalmente, sobretudo no que se refere ao País que nos calhou ser o nosso, posto que cada um de nós nasce onde as circunstâncias, em particular dos nossos progenitores, proporcionam que apareçamos na face da Terra.
Não é, por isso, sempre igual a disposição que sustento e dou a conhecer quanto ao que vai ocorrendo neste Portugal que, como muitos pensarão, não tem dado grandes motivos para nos sentirmos satisfeitos com o caminhar penoso que vamos sendo obrigados a suportar.
Ao ler hoje a entrevista que concedeu Mário Soares ao jornal “Público”, tendo partido para esse exercício com um sentimento pessimista, fui aliviando tal disposição perante as afirmações do homem que salvou a Democracia nos primórdios do aproveitamento da Revolução, do criador do Partido Socialista, do primeiro-ministro e do Presidente da República, tudo funções que foi exercendo ao longo dos 34 anos que já passaram desde o 25 de Abril. E o seu optimismo que, nos 85 anos de idade já cumpridos que apresenta hoje, se confirma, o que talvez se justifique, pois a luta feroz que manteve na época da Ditadura e os percalços que enfrentou para fortalecer as conquistas democráticas que, por várias vezes, pareciam querer fugir, tudo conseguido com desmedida abertura de espírito em relação ao que vinha a seguir, é essa prática que lhe não consegue fazer perder a esperança de que, por muito mal que estejam as coisas, o amanhã trará melhorias.
Li e reli essa entrevista, mas, apesar de ter por Mário Soares uma continuada admiração, mesmo nas contradições no que respeita ao meu e ao seu modo de analisar as situações políticas, assim mesmo não posso deixar de expor o meu enorme desconsolo por não comungar da esperança em ver Portugal sair honrosamente da situação em que foi colocado, por culpa da crise mundial que afectou grandes zonas internacionais, mas especialmente pela incompetência em que os dirigentes políticos, sobretudo os que tiveram a seu cargo a governação nacional nos últimos dez anos.
Ficar-se satisfeito pelos progressos obtidos a partir do momento da consolidação da Democracia, como se isso não fosse o mínimo que se aguardava após tanto tempo de Ditadura, para mim não é bastante para cantarmos hossanas. Só que há que reconhecer que, devido ao atraso que ainda mantemos em comparação com os outros parceiros do espaço europeu, é enorme o que falta conquistar para diminuirmos tamanha distância. E o certo é que cada vez mais nos afastamos das várias metas alcançadas pelos que devem servir de referência.
No que diz respeito à zona europeia, eu que também aspiro, desde a criação da CEE, por uns Estados Unidos da Europa, não posso situar-me em posição mais desconsolada por ver que nada disso sucede e que, cada dia que passa, as Nações que fazem parte do conjunto não mostram desejos de se submeter a uma política unitária e de força, o que muito nos poderia ajudar na situação actual. Cada um por si é exactamente o contrário do que necessitamos todos e a própria União Ibérica, que eu defendo desde há muitos anos, é um ideal que, especialmente do lado de cá, não obtém grande sucesso prático, com prejuízo para os dois lados. Soares mostra esperança no futuro, eu, realista como sou, vejo-o cada vez mais longe.
É fácil afirmar-se que se tem confiança no povo português e que, na política, é preciso ir buscar os melhores e confiar nas novas gerações. Por muito certa que seja esta afirmação, aquilo que se enfrenta e não se pode escamotear, sob pena de ser maior a surpresa quando as coisas ainda piorarem mais, a verdade é que as três décadas decorridas desde o Abril não foram aproveitadas convenientemente para que a Democracia tivesse entrado na prática das novas gerações, sobretudo porque os exemplos que têm sido dados não são de molde a entusiasmar os que não sentiram na pela o que foi o despotismo e, ao contrário da opinião que já expressei neste blogue, da necessidade imperiosas de ser criada nas escolas primárias (insisto na expressão) uma classe de “prática democrática”, que é particularmente o saber ouvir e o de não querer ser sempre o dono da razão – como José Sócrates faz no sua actuação governativa -, o comportamento dos políticos em exercício só exemplifica o inverso do que deve ser um País que respeita todas as regras da livre opinião.
Quem me dera que, enquanto por cá ando e já que conheci profundamente o que foi uma ditadura, na minha profissão de jornalista, a esperança de ver Portugal encontrar o caminho certo e os escolhidos para o poder fossem capazes de reconhecer os erros, quando os praticam – porque são seres humanos -, não venha a surgir qualquer revolta que leve a que um regime de força se aproveite dos disparates dos governantes que temos e se implante neste extremo de terra à beira-mar plantada.
E as dívidas que há para pagar no futuro, próximo e mais longínquo, com os cortes severíssimos que há que fazer já amanhã (nas reformas, por exemplo), poderão constituir o motivo para que se criem as condições para voltar a suceder o que já cá tivemos… e aí é que a Europa nos poderia, de facto, prestar a ajuda que nos salvaria dessa catástrofe.
Eu já nem me atrevo a dizer nada!

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