quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

PESSIMISMO


PODEM acusar-me de não ser suficientemente optimista por forma a transmitir aos leitores que acompanharão este meu blogue alguma dose de esperança em relação ao futuro português que nos aguarda. Aceito essa acusação. Mas o que não poderão dizer é que, só para agradar, ando aqui a inventar boas perspectivas no horizonte, porque sempre é mais agradável pintar quadros com cores alegres do que deixar nas telas imagens tenebrosas que fazem até arrepiar.
Seja como for, quem, daqui a um certo tempo tiver memória e encontre interesse em referir os que têm razão antes de tempo – do que tenho sido várias vezes apelidado -, poderá fazer-me justiça. E a razão deste meu ponto de vista é a de que considero preferível avisar o pior a tempo, para dar ocasião a que se criem as condições mínimas de defesa, do que depois, já em plena catástrofe, sendo forçados a remendar as situações e não conseguindo executar uma obra que mereça ser recordada na História. Vejamos o que se tem passado no Haiti, onde dizem que existiram sinais de que o terramoto era previsível, mas que não se verificou o mínimo, pelo menos de aviso, de maneira a que a surpresa não fosse tão prejudicial.
Quanto ao que pode suceder a Portugal, como consequência de vários factores e em que a crise mundial tem um peso assinalável, mas que também a menos boa atitude por parte dos políticos que têm tido a responsabilidade de conduzir a governação nos últimos tempos contribuiu com enorme irresponsabilidade para a situação que se atravessa – e para a que vem aí -, devido a tudo isso é condenável que se continue a não querer falar verdade aos portugueses, avisando-os de que, mais do que nunca, é obrigatório que cada um dos cidadãos, seja qual for a actividade que desenvolva, deve assumir a sua responsabilidade, procurando não criar ainda mais estragos do que aqueles que suportamos e são alheios às nossas vontades.
Se um primeiro-ministro e todos os seus sequazes tiverem (ou já tivessem tido) a coragem de falar claro e não esconder o que, por muito duro que seja, tem de ser dado a conhecer aos cidadãos nacionais, talvez se pudessem ter evitado certas greves que já ocorreram e as que se anunciam, pois que, quando um devedor se abre honestamente perante um credor e lhe comunica que não tem meios materiais que possam saldar a dívida e que a única via pela qual será possível encontrar solução é através de um acordo de bom senso, nesta altura, face a uma realidade bem explicada, convincente, que poderá acontecer que devedor e credor se juntem num esforço comum e, daí saia a solução dos problemas.
Agora, como o Governo não tomou nem dá sinais de tomar essa posição, e apenas o Chefe do Estado, que não tem meios governativos para actuar, foi capaz de ser claro no sue último discurso, ainda muitos portugueses andam a viver num mundo da fantasia e exigem do Estado aquilo que ele não pode dar, mas que também não explica claramente que se encontra numa posição complicada em termos financeiros, sobretudo porque, no capítulo dos gastos, não consegue entrar a fundo e de cortar tudo, mas mesmo tudo, que possa ser evitado. Por exemplo – e apenas um, de fugida – os gastos que se anunciam com a proclamação do centenário da implantação da República (e atenção, que eu sou republicano), em que são de dezenas de milhares de euros que estão previstos, isso e muito mais que faz parte de uma lista que, há muito, deveria estar feita, não há ninguém que seja capaz de rasgar das folhas de despesas. Festas, festanças, jantaradas, comemorações, viagens… nesta altura, nem pensar!
E se for bem entendido que metade da riqueza produzida em Portugal é gasta pelo Estado, então se compreenderá a verdade nua e crua. E como, no Orçamento do Estado, agora apresentado, se encontra o “compromisso” de, até ao ano de 2048, se liquidarem todas as dívidas, internas e externas, então fica bem claro que é o próprio Governo actual que subscreve a duração do martírio em que vivemos.
O Conselho de Estado que decorreu ontem e de que ainda não são conhecidos elementos que ajudem a prever o futuro, não pode v ir aliviar este texto que eu bem gostaria de ter escrito com outro espírito.
Chamem-me derrotista, chamem-me. E eu não serei o último a rir, só porque não acho graça nenhuma e tenho esperança de que não me caberá a mim o apagar a luz e o fechar a porta!...

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