domingo, 7 de fevereiro de 2010

ORDENADOS CHORUDOS


JÁ AQUI me referi a este tema e voltarei a ele as vezes que forem precisas, por muito que as entidades que deveriam, há muito tempo, pôr termo a esta vergonha, não dêem mostras de meter mão no assunto ou só o vão fazendo, como agora foi tornado público, de modo cauteloso, para não causar grandes desconsolos naqueles que, usufruindo de regalias inaceitáveis dentro da crise geral que atravessamos, não convém aos amigos que governam que amuem demasiado.
Pois quero referir-me ao que chegou agora – só agora – ao conhecimento da generalidade dos cidadãos portugueses, de que o Ministério das Finanças, através do seu braço empresarial, a Parpública, que tem o subtítulo Participações Públicas e gere as participações do Estado nas empresas com participação estatal, deu instruções para que as sociedades com estas características não procedam a “actualizações”, este ano, dos vencimentos dos seus administradores. E vem já a propósito referir que o presidente desta Instituição, José Plácido Reis, aufere mensalmente apenas 134.197 euros.
Não me vou gabar de que este blogue terá tido influência numa decisão do Governo, pois só admirava que não tivesse sido tomada já um ou dois anos atrás, dado que a crise que nos ataca fortemente não começou em 2010, mas, de qualquer forma, como sempre é melhor tarde do que nunca, não podemos deixar de nos congratularmos por acabar por ser considerada uma decisão que, ao fim e ao cabo, muito pouco afecta a vida regalada que levam alguns dos detentores de certos cargos, pois os vencimentos que obtêm são mais do que suficientes para não sentirem faltas de grandes coisas.
E, só para ficarmos com uma ideia daquilo que digo, aqui deixo alguns dos ordenados desses privilegiados que, este ano, não vão ver aumentados esses benefícios:
O que ganha mais de todos é o presidente dos TAP, o brasileiro Fernando Pinto, que recebe 420.000 euros; e logo a seguir vem Faria de Oliveira, que aufere 371 mil; depois Henrique Granadeiro, da PT, com 365 mil; vindo atrás Guilherme Costa, da RTP, com 250 mil; seguindo-se Fernando Nogueira, do ISP, com 247.938; e depois Vítor Constâncio, do Banco de Portugal e Carlos Tavares, com 245.552. E a lista prossegue, daqueles que foram tornados públicos os seus vencimentos: Vítor Santos, 233.857, do ERSE; Guilhermino Rodrigues, 133.000, da ANA e por aí abaixo até ao último de que se tem conhecimento público, o “pobrezinho”, da Carris, José Manuel Rodrigues, que aufere apenas 58.865 euros por ano.
Pretendendo seguir o mesmo exemplo, no sector das instituições de crédito, por imposição do CMVM, as remunerações das suas administrações são divulgadas publicamente, o que, pelo menos, deixa de ser uma “caixinha” no segredo dos deuses.
Quando as pensões dos reformados aumentaram ao Estado mais de 1,1 mil milhões de euros em 2009, do sector privado e de ex-funcionários públicos, ou seja, atingiram os 16 mil e 196 milhões, a pergunta a fazer é quanto pesa neste montante os que, pertencendo já este grupo, em quanto é que contribuem para atingir tal montante. E se não influencia ainda, estará a chegar a altura em que pesarão bastante.
A pouco e pouco, sem grandes pressas, vamos progredindo, pelo menos no sector da vergonha. É já um passo em frente. Vamos a ver se ainda iremos a tempo de conseguir que não nos aproximemos é à falta de avisos que os que ainda poderão fazer alguma coisa de mais positivo, e em que não terão desculpa depois de que ninguém lhes disse nada.

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