sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

AMEAÇAS


O CONSELHO DE ESTADO, reunido por iniciativa do Presidente da República e para tentar servir de apelo ao bom senso de todos os participantes principais nos problemas que envolvem o nosso País, acabou, ao cabo de cinco horas de reunião, por, como era de esperar, apenas deixar sair para o exterior a preocupação de que, se não forem capazes os intervenientes no caminhar político da Nação de encontrar um consenso mínimo, o futuro que se apresenta ao virar da esquina será ainda mais negro do aquele que já se contempla na actualidade. E todos os que estiveram presentes nesse Conselho e que tiveram oportunidade de expor as suas razões, sobretudo aqueles que mais influem na solução dos casos que se encontram agora na montra, sabe-se que se limitaram a seguir o programa pré-estabelecido e, quanto ao resto, limitaram-se a usar da palavra para aconselhar o bom senso e fazer o pedido de responsabilidade a todos os intervenientes nas eventuais soluções dos problemas existentes.
Ao fim e ao cabo, as ameaças, depois desmentidas, que foram espalhadas da demissão do Governo face às exigências de o Estado ter de contribuir financeiramente para o Executivo madeirense, e em que, tanto Sócrates como o ministro das Finanças, foram referidos de que seria esse o seu gesto na eventualidade de não conseguirem o apoio parlamentar à sua recusa de desviar dinheiros públicos para o arquipélago madeirense, pelo menos essa atitude terá ficado, por agora, fora de conjecturas. Por agora.
Ao mesmo tempo que ocorreu este encontro de alto nível, em Bruxelas, o comissário europeu Almunia, responsável pelos assunto económicos e financeiros desta área da Comissão Europeia, fazia declarações aos jornalistas em que a posição de Portugal foi apontada como atravessando um período de enormes dificuldades, até mesmo muito críticas, e com sucessiva perda de competitividade. E, em vistas disso, logo a nossa dívida pública excessivamente elevada serviu de comparação com outros casos, com alguma distância em relação ao da Grécia, salientando que este País merece algum desanuviamento da tensão existente dado o plano de austeridade que ali começou já a ser executado. No que a nós diz respeito, as atenções voltaram-se todas para a situação perigosa que atravessamos, recomendando a penalização de imediato da emissão da dívida pública, tendo desde logo, a partir dessa altura, Portugal sofrido a subida do preço dos empréstimos que sejam, a partir de agora, solicitados. E o resultado foi o de terem baixado rapidamente os valores cotados na nossa Bolsa.
Enfim, não vou aqui expor, mais uma vez, o retrato da posição portuguesa no panorama internacional. O que tenho vindo a anunciar como aviso está aí, infelizmente, a dar-me razão.
Agora, estas ameaças, agora desmentidas, vindas do sector governamental de abandonarem o “barco”, deixando-o navegar ao sabor das ondas numa altura em que a tempestade mais estragos provoca no casco da embarcação, uma atitude deste tipo não beneficiaria ninguém e menos ainda o capitão que, não se tendo acautelado mesmo face aos repetidos avisos que os passageiros lhe lançaram, correria o risco de só passar a dispor de um salva-vidas que não chegaria sequer para acomodar toda a sua tripulação.
Uso esta linguagem marítima, porque talvez seja só esta que José Sócrates entenderá, não por ter sido marinheiro mas porque, quem está habituado a meter tanta água, pode respeitar um ambiente conhecido.
Não é altura para graças, lá isso não. Mas chorar já não resolve nada!
Ainda algum alargamento de opinião no que respeita às declarações prestadas pelo ministro das Finanças, ao fim da tarde, que, ao serem anunciadas, provocaram algum alvoroço. Seria que, por fim, o responsável pelos dinheiros públicos nacionais, não se conformaria com a decisão tomada pelas oposições, contrariando o decidido pelo PS de fechar a torneira de financiamentos ao Governo da Madeira e iria então apresentar a sua demissão? Foi o que se pensou antes de ouvir Teixeira dos Santos. Mas não foi isso que aconteceu. E, ao mesmo tempo que se ouviam as queixas do ministro, em S. Bento José Sócrates recebia, a seu pedido, Manuela Ferreira Leite, para uma troca urgente de pontos de vista. Não se sabe, na altura em que escrevo, o que saiu desse encontro.
Continua, pois, o folhetim dramático a que os portugueses assistem, deixando o final do enredo para a altura em que ficaremos a conhecer quem casa com quem e se os maus da fita sempre terão o castigo que merecem. Nesta caso, são os espectadores que vão pagar e bem caro…

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