Já cá estavas quando eu nasci
bebi-te ainda sem saber quem eras
terei gostado, sim, gostei deveras
matando a sede, por isso sorri
Ó água pura que ainda existes
nem nisso pensam as gentes de hoje
se algum dia esse bem nos foge
será então que ficamos mais tristes
E esse dia terá que chegar
mesmo dizendo não os optimistas
é preciso não desviar as vistas
do mal que poderá todos matar
Água salgada, essa aumentará
mas tirar-lhe o sal é difícil cousa
na terra a que ainda repousa
virá o dia em que acabará
A Igreja chama-lhe água benta
e com esta baptiza as criancinhas
serão elas talvez, as pobrezinhas,
que terão de enfrentar tal tormenta
É ainda o líquido precioso
que tem servido para enganar
misturado no que se vai provar
pois é vício deste mundo enganoso
E na vida faz bem ter certa fé
é muito bom crer no que quer que seja
e em vez de água beber cerveja
como em seu lugar tomar água pé
Mas para ambas é essencial
essa água que não pode faltar
da mesma forma que não haver ar
é morte certa p‘ra qualquer mortal
Mas será que neste mundo em mudança
onde tudo se inventa cada dia
alguém conseguirá a utopia
de atingir a bem-aventurança?
Não sendo a água já tão necessária
ficamos nesse caso descansados
temos de olhar para outros lados
para outra coisa também primária
Porque não acabam as aflições
excesso de gente causa problemas
e serão tais os vários dilemas
que o melhor é não ter ilusões
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