
NUMA altura em que a dívida de Portugal ao estrangeiro atingiu já níveis, de tal maneira elevados, que não é possível prever como e quando nos libertaremos de tal peso que condiciona toda e qualquer iniciativa de empreendimentos que forem considerados úteis e necessários para o progresso nacional, razão pela qual existe tanta controvérsia em relação ao TGV, ao novo aeroporto, à desejada ponte suplementar a atravessar o Tejo na área de Lisboa, às auto-estradas que o Governo de Sócrates tanto ambiciona, e a muita coisa que a imaginação não esconde, neste momento e com o Governo que tomará posse depois das próximas eleições autárquicas todos nós, cidadãos, nos interrogamos como será possível sairmos deste marcar passo a que parece que vamos estar condenados.
Segundo contas que apareceram aí divulgadas, seriam precisos 386 dias de trabalho de todos os portugueses, oferecido o valor respectivo ao Estado, para poder ser paga a dívida que todos nós mantemos para com os países que se encontram fora das nossas fronteiras, sendo que os juros dessa dívida atingiram já mais de cindo mil milhões de euros.
É este o panorama que não podemos nem devemos ocultar de toda a população lusitana. Metermos a cabeça na areia e fingirmos que não sabemos o que se passa não constitui uma medida que possa ser seguida por todos nós que estamos vivos e que deixamos descendências que, na devida altura, terão de se defrontar com a realidade. É que manter montantes elevados por pagar não é acção que possa resistir eternamente. Chegará o dia em que não se conseguirão mais empréstimos e todas as portas se fecharão, sendo então que as consequências farão sofrer os que estiverem por cá e não tenham forma de resistir às dificuldades reais desse momento.
A Europa, por sua vez, também não avança com a destreza e a utilidade que Jean Monnet previa que viesse a ser aplicada. A ideia da criação dos Estados Unidos da Europa que, segundo muitos pensadores, de entre os quais eu me quero incluir, não foi, infelizmente, ainda posta em prática. Os países continuam, egoisticamente, a cuidar dos seus próprios problemas e não conseguem dar as mãos no sentido de procurar ajudar-se uns aos outros e de efectuar uma política de conjunto que só beneficiaria todos os membros, procurando eliminar as dificuldades dos mais frágeis e obtendo as vantagens de uma produção estruturada e de uma sociedade de consumo perfeitamente integrada no princípio de “todos por um e um por todos”.
Não bastou ainda a criação da moeda única – a que alguns parceiros da União Europeia ainda não aderiram. Espera-se a eleição de um Presidente da Europa, por dois anos e meio, e de um representante para a política externa, figuras fulcrais para que a cooperação passe a ser mais eficiente entre todos os membros. Mas está-se longe de ficar concluído o programa a que todos os países da Europa terão de aderir, sem hesitação e com completa abertura, se quiserem que surjam os Estados Unidos da Europa. Até lá, se isso vier de facto a acontecer, ainda haverá que esperar muito tempo. As nações irão mastigar os seus interesses privativos e, enquanto umas aderirem à ideia mais rapidamente, outras, como é costume, discutirão internamente, levantarão razões para não se incorporarem no interesse colectivo e os anos vão passar sempre na expectativa. E o tempo decorrerá. E os europeus irão continuar na luta pelo entendimento. E cada país do Continente integrado no grupo interrogando-se sobre se valerá a pena ou não aderir ao projecto.
E nós por cá, com este receio aljubarrotista do pavor por um entendimento ibérico, ficaremos acocorados na ponta da Europa até ao momento em que não pudermos mais aguentar a condução da vida por nossa própria conta. E, nesse caso, tudo é aceite.
É uma visão derrotista? Há quem pense que podia ser pior, digo eu, como, por exemplo, retrocedermos a um horrível regime ditatorial, por não conseguirmos viver em liberdade e em Democracia. Quando o povo está descontente, é mais fácil fazer cair uma Democracia do que uma Ditadura.
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