
Por mais que surjam opiniões diversas sobre o que cada um interpreta como independência jornalística, não é fácil chegar a uma conclusão que contemple todas as regras de uma autêntica independência de informação, posto que, queira-se ou não admiti-lo, enquanto os órgãos que servem para levar as notícias ao conhecimento público estiverem dependentes da sua aceitação por parte dos leitores, ouvintes ou espectadores dos vários meios que se utilizam, isto é, da difusão através da venda e, consequentemente, a publicidade que suporta os elevados gastos desses órgãos, enquanto os investidores tiverem de suportar as empresas proprietárias e, por isso, defender os seus interesses, face a essa verdade não é possível assegurar-se que um Jornal, uma Rádio ou uma Televisão não siga uma corrente política que constitua a garantia de manutenção de tal fonte de informação.
Evidentemente, no que diz respeito aos corpos redactoriais, estes, formados por escolha dos seus responsáveis, os Directores, ao aceitarem as condições que lhes são apresentadas pelas Administrações, não podem queixar-se de que existe um controlo interno no que diz respeito à orientação política que é transmitida para o exterior. E o mesmo sucede em relação aos jornalistas, pois que nenhum é obrigado a sentar-se nas secretárias redactoriais, sabendo de antemão que a linha de conduta imposta é uma determinada.
Depois do 25 de Abril, já houve em Portugal pelo menos um exemplo de jornalismo independente. E, por muito que me acusem de opinar em causa própria, não posso deixar de salientar neste espaço de que disponho agora, que o semanário “o País”, que fundei em 1976 e durou dez anos, que essa publicação primou pela defesa absoluta da não subordinação a qualquer orientação política e, embora com grandes sacrifícios, o não se ter sujeitado nunca ao poder do dinheiro.
Um Jornal que, apesar das aflições financeiras por que passou, conseguiu abrir e manter uma livraria de características culturais que marcaram uma era, que foi o primeiro semanário a possuir a sua própria fotocomposição e que, em certas tiragens, chegou a atingir os cem mil exemplares, como foi, por exemplo, o número em que se atreveu a entrevistar António Champalimaud, então emigrado no Brasil, e manteve sempre as suas colunas de Esquerda e de Direita, preenchidas por partidárias das duas frentes., um órgão destes tem de merecer o respeito dos que o conheceram.
Só que o povo leitor não dá grande valor a essa independência. As preferências vão, de uma forma geral, para os órgãos de Informação que se situam num lado ou no outro.
Quem me conhece, pessoal e profissionalmente, sabe que eu procuro sempre não garantir que estou do lado da verdade. Sempre andei à procura dela e as incertezas rodeiam-me permanentemente. Ter dúvidas não produz muita felicidade, mas dá, pelo menos, a consolação de não encaminhar ninguém para caminhos de que não se conhecem profundamente as saídas.
Democracia, sim. Pois sendo a menos má das políticas, terá, no mínimo a consciência de que não faz finca-pé numa determinada posição, deixando que as opiniões dos outros busquem também as suas soluções.
Só que o Homem, por natureza, por muito que afirme o contrário, não é grande amante da Liberdade de opinião. Gosta de se ouvir e de ser ouvido. Veja-se o que se passa por cá e o que, nesta altura de propagandas políticas, cada um grita, babando-se com as suas posições e atacando, a ferro e fogo, as que os outros proclamam.
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