terça-feira, 9 de junho de 2009

DESCONSOLO



E pronto. Ficámos a conhecer o resultado das eleições para os eurodeputados que saíram do primeiro acto eleitoral que ocorreu por cá. E, com isso, preparamo-nos para enfrentar as que se seguem. Será, pois, altura para se fazer esta pergunta aos cidadãos do nosso País:
Terá a maioria dos portugueses consciência daquilo que pode vir a acontecer num futuro próximo, caso as condições financeiras do Estado não se alterem no sentido positivo e se prolongue o afundamento de carência de fundos nos cofres públicos, assim como não se verifique uma reviravolta absoluta nas dívidas clamorosas que existem em relação aos credores estrangeiros?
Esta é uma questão que tem de ser posta por quem tem o mínimo de consciência quanto à situação que se vive nos nossos dias e no nosso caso. E uma resposta clara impõe-se por parte dos responsáveis governamentais, posto que não se admite que se mantenha, agora que o PS tem de tomar consciência de que alguma coisa mudou no panorama político nacional, que continue a observar-se o cenário de falta de esclarecimento, não alertando os cidadãos para a realidade que, a muitos, pode ainda apanhar de surpresa. E é sempre mais doloroso e difícil de enfrentar uma situação que não é esperada, do que, mesmo que difícil, um panorama já aguardado.
É verdade que há que manter um ambiente de relativa acalmia na população, pois é sabido que existe gente que, apavorada, deixa cair os braços e não contribui para ajudar a solucionar uma situação. Mas há sempre maneiras de preparar as massas para um futuro que não será tão agradável como aquele que se deseja.
Impõe a realidade que enfrentamos, que os governantes que surgirem como resultado das próximas eleições legislativas em Outubro, caso estes sintam a responsabilidade que lhes vai caber e não pensem apenas em querer manter a população superficialmente contentinha, ainda que de forma artificial, é obrigação desses novos homens que poderão ir assumir o poder, que devem dar a volta por cima, como é costuma agora dizer-se, de modo a que o panorama passe a ser mais benévolo, se bem que não se podem nem devem esperar milagres.
Podem os leitores dos meus blogues acusar-me de falta de optimismo como já me chegaram sinais dessas opiniões – mas também recebo e bastantes, a dar-me razão pelo facto de não esconder aquilo que tem de ser dito -, mas a minha convicção é a de que mais vale ir prevenindo do que criar a ilusão de que os ainda piores tempos já não se instalarão em Portugal.
As empresas que todos os dias fecham, as centenas de milhar de trabalhadores que são despedidos, por falta de rendimento de fábricas, lojas e escritórios de todos os tipos, as transferências para países estrangeiros de grupos fabris de renome internacional, o fim de exportações de produtos nacionais e, em contrapartida, a manutenção excessiva de artigos importados, a diminuição de ingresso de divisas dos portugueses emigrantes e, de igual forma, a baixa considerável de turismo estrangeiro, o que também contribui para outra baixa significativa de dinheiro vindo de fora e, não por fim mas igualmente importante, a falta de trabalho em Espanha e não só, o que provoca o regresso de milhares de operários nacionais que, tempo atrás, efectuava saídas provisórias para ali arrecadar algum dinheiro que cá não era conseguido, tudo isso faz parte do molho de contrariedades que nos colocam na situação em que estamos. E o desemprego por cá, que já chegou a um dos pontos mais altos da Europa, na casa dos 9,3 %, não ajuda em nada o desconsolo em que nos encontramos.
Nada disto constitui o panorama nacional nos dias de hoje? Trata-se de um quadro pintado com base na fantasia? Estamos em condições de prever que a situação actual vai melhorar a breve trecho?
Pois eu sou o primeiro a desejar que assim seja. Mas o que não podemos fazer é enfiar a cabeça na areia e aguardar a ocasião favorável, criada por “milagres”, esses que só acontecem a quem tem fé bastante para os aceitar.
Uma palavra apenas para referir o que sucuedeu ontem em que a polícia resolveu atirar os seus bonés para o meio da rua, em forma de protesto por não verem as reclamações atendidas. Tenham ou não razão, é preciso dialogar e não deicar que as situações cheguem a este ponto. Mas já voltarei ao tema, por merecer uma apreciação muito especial.
Perante tudo isto, continua, portanto, a ser imprescindível votar. Não bastou apenas no passado domingo. É forçoso irmos a todas as eleições. Para depois, em plena consciência, podermos dar largas à nossa opinião desagradada. E se o que sair não for do nosso gosto, pois que nos conformemos com isso, mas que contribuamos com o que nos for possível, para que o que temos de deixar aos vindouros não venha a merecer o reparo e o desprezo dos que têm então de modificar as circunstâncias.
E já agora, uma palavra final de desconsolo perante os resultados das eleições em todos os países europeus que concorreram para preencher o seu Parlamento: é que os cidadãos da Europa parece não terem apreendido que é extremamente importante que a União avance rapidamente no sentido de constituir uma força conjunta e sólida que possa lutar contra os problemas económicos, financeiros e sociais que atormentam o mundo e que, neste espaço terrestre situado a norte das áfricas, bem poderia ter podido salvar-se melhor dos efeitos da tal epidemia que atacou fortemente e sem piedade.
E isso é que constitui uma ausência de vitória, independentemente dos ganhos e perdas dos partidos de cada nação europeia. Tendo sido dadas as mãos dos componentes da chamada União Europeia, sem egoísmos nacionalistas e invejas de comandos de cada participante, talvez o efeito da crise tivesse sido outro. Seria, sem dúvida.

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