quinta-feira, 4 de junho de 2009

CLARA PINTO CORREIA


Habituei-me a ler, semanalmente, no suplemento dos sábados do jornal “24 Horas”, as crónicas de Clara Pinto Correia, uma bióloga que viveu largos anos no estrangeiro e que, instalada agora em Lisboa, apresenta as suas críticas à forma de vida no seu e nosso País. E esses comentários, que está no seu pleno direito de fazer, são, muitas vezes, no meu entender, oportunos, muito embora, também me permito expor a minha opinião, o estilo da escrita seja muito original. Mas não é isso que me faz dedicar este blogue ao tema em causa.
Acontece que num desses seus textos o objectivo da escrita é o comportamento das editoras portuguesas no que se refere à escolha dos originais para publicação de livros. E, quanto a isto, o que me apetece acrescentar é que, na verdade, essa actividade comercial que tem de ter o objectivo de ser lucrativa, não pode nem deve ser comparada a uma exploração económica como qualquer outra, pois arrasta consigo uma responsabilidade que tem de estar sempre presente em cada obra que é lançada no mercado.
Trata-se, portanto, de um mister que não tem de ter apenas a preocupação de colocar no mercado livreiro títulos que “cheirem” aos responsáveis das editoras vir a atrair a sua compra em quantidade, não pela sua qualidade literária mas sim por se tratarem de autores de caras mediáticas, conhecidas noutras actividades, que suscitam escândalos, afastando completamente a ideia de se tratarem de obras que contribuam para a riqueza intelectual dos leitores e/ou proporcionem a autores menos conhecidos a possibilidade de conquistarem um lugar que, muitas vezes, só é conseguido após a morte dos escritores ou poetas. E exemplos deste tipo têm-se contado às centenas na história da literatura de todo o mundo.
Porém, como as editoras não são organizações de beneficência, não pertencem a organismos oficiais com a responsabilidade de promoverem autores literários (como poderia haver também de autores musicais e de outros sectores artísticos), mas sim a sua razão de existência é facturar o mais possível com a venda de títulos que caiam bem nos leitores, logo as suas preocupações não se desviam dos títulos comercialmente garantidos na expansão.
Tem, portanto, razão Clara Pinto Correia quando aflora o assunto na crónica referida. Mas a vida é isso mesmo e, por mais que uns tantos, poucos, se insurjam contra os vícios que ocorrem na Humanidade e que não dão mostras de vir a ser alterados com facilidade, o que pode ser feito é insistir na discordância dos métodos e dos comportamentos do ser humano, tendo a paciência suficiente para aguardar por um dia em que as coisas dêem a volta e se aproximem do ideal.
Até lá, o que resta aos autores menos conhecidos é manter a sua produção para meter nas gavetas. Fernando Pessoa, um ajudante de guarda-livros de um escritório na Baixa, encheu folhas de papel com verdadeiras obras-primas que só chegaram às mãos do grande público muitos anos depois da sua morte.
É uma consolação? Evidentemente que não. Mas que se pode fazer?

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