terça-feira, 7 de abril de 2009

PRESOS POLÍTICOS - TARRAFAL



Se a memória dos humanos é curta, o que não dizer dos acontecimentos que ocorreram no passado e que as gentes de agora nem imaginam que tivessem passado?
É o que acontece com as pessoas que, tendo nascido depois de 1974, logo com idades que nesta altura rondam um pouco mais de 40 anos, ao referirem-se-lhes situações que tiveram lugar no tempo da Ditadura dão mostras de um total desconhecimento e, descrevendo-se-lhes palavras, gestos, ocorrências que se passaram nessa época, têm dificuldade em imaginar o que foi corrente nessas alturas e, em muitos casos, levantam até dúvidas sobre a veracidade daquilo que se pretende transmitir-lhes.
Por um lado, seria bom que fosse mais fácil passar aos cidadãos actuais as dificuldades de existência daqueles que não se encontravam indiferentes à situação política que se vivia na altura. Era uma forma de mostrar como, sendo tão fácil hoje discordar e dar mostras dessa adversidade em público, antes da Revolução de Abril quem tivesse esse desassombro tinha de prestar contas com a malfadada PIDE da época e o caminho habitual desses revoltados era o tribunal e, logo de seguida, uma cadeia de acordo com a importância dos “crimes” cometidos.
Ora, é precisamente o varrer-se hoje para debaixo do tapete essas situações que ocorreram aos nossos antepassados relativamente recentes, que tem de escandalizar e entristecer quem viveu essa época e que, por força da sua actividade, ter sentido de perto os horrores das perseguições policiais.
Sem dúvida que, de entre os vários presídios que encerraram muitos praticantes políticos “do contra” – como eram classificados -, o que ficou mais na memória dos antigos é o do Tarrafal, campo prisional situado em Cabo Verde e de que, com a morte há dias de um dos dois ainda sobreviventes dessa terrível experiência, de Joaquim de Sousa Teixeira, ficou a restar apenas uma outra figura que bem merecia que fosse recordada e mesmo acarinhada pelo que representa de sofrimento a sua história prisional. Trata-se de Edmundo Pedro, homem de grande valor, por ter chegado a estar na masmorra juntamente com o seu pai, e que está aí, com a sua proveta idade, para poder comprovar o que foram esses tempos de perseguição brutal aos que não estavam de acordo com o sistema ditatorial que era importo no nosso País.
As condecorações não chegam para colocar no pedestal quem, antes de qualquer movimento militar de libertação, já dava o seu corpo ao manifesto e sofrera, por isso, as consequências das perseguições que lhe eram movidas depois de descobertos.
Aqui fica, neste modesto blogue, aquilo que considero ser o meu dever: o prestar a merecida homenagem a esses portugueses que, independentemente das suas preferências políticas, mostraram largamente a coragem de que eram possuídos e o serviço que pretendiam prestar a uma causa, sabendo o que lhes podia custar tal atitude.

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