
Não há nada como andar de consciência tranquila para não nos preocuparmos com os problemas que assolam a maior parte da população. Se tivermos a noção de que não depende de nós o melhorar o estado das coisas, se não temos dimensão para influenciar a mudança dos problemas, se, por muito que nos possa desgostar assistir a um esgotamento progressivo das condições de vida da maioria dos cidadãos, não se encontrar nas nossas mãos contribuir de forma efectiva para que tudo se altere para melhor, nessa altura o único que podemos fazer é encolher os ombros e deixar andar.
Estas formas de proceder são as que a maioria esmagadora dos portugueses utiliza, só entrando em conflito quando se sentem acompanhados por grupos, maiores ou menores, normalmente fomentados por partidos políticos, sindicatos ou outro tipo de organizações capazes de arregimentar públicos. De forma isolada é raro assistir-se a quem resolva tomar uma posição de confronto, sobretudo com forças públicas, como seja até o próprio Governo.
Portanto, o que digo no primeiro parágrafo deste texto não é atitude que estimule. E a prova está nos milhares de artigos que deixei ao longo da minha vida de jornalista e, agora, nestes despretensiosos blogues que, mesmo assim, ainda levam alguns comentadores, uns tantos anónimos, a fazer chegar-me as suas opiniões que, ainda bem, nem todas são de aplauso.
Encontrando-nos já no ano que se apresenta, na opinião da maioria dos observadores mundiais de mau presságio, haveria que aguardar, da parte dos mais responsáveis pela condução do nosso País, que mostrassem um comportamento que se considerasse exemplar. Bem sei que a Liberdade é para todos e que cada um é livre de tomar as atitudes que julgar mais apropriada, sobretudo se, no capítulo dos gastos, usar o seu próprio pecúlio. Mas, aqueles cujas atitudes que têm de servir de exemplo à população que não os perde de vista, não basta dizerem que não usaram os fundos públicos para gozar de um determinado prazer. É preciso que, tudo que façam, dê mostras de cumprimento de regras que se recomendam em cada altura da vida do País, Neste caso de Portugal.
Vem isto a propósito de quê? Do primeiro-Ministro ter ido celebrar a passagem do Ano Novo em Veneza, por certo um lugar apreciável que muitos dos nossos cidadãos também desejariam poder visitar. Mas, co’a breca, quando se recomenda, por um lado, que não continuemos, como aconteceu em certa altura, a fingir que somos ricos, quando o Chefe do Estado, de uma forma bem clara, avisa que Portugal atravessa um período difícil e que não se sabe bem como irá sair desta, quando o ministro das Finanças e o governador do Banco de Portugal já deixaram de esconder o perigo do afundamento, é precisamente nesta altura que José Sócrates, mesmo pagando do seu bolso, escolhe a romântica Veneza para dizer adeus a 2008.
Pelos vistos, quem anda de consciência bem tranquila é o primeiro responsável pelo andamento político, económico e social do nosso País. Ou então, não tem tento para compreender que todos os seus passos são analisados pelo amargurado povo português que, com excepção daqueles importantões que se anunciam que meteram as mãos nos dinheiros dos bancos e das empresas públicas e camarárias, tirando esses vivem com as maiores dificuldades nesta Terra em que, cada vez menos, apetece viver.
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