segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O ELEFANTE



Com isto dos feriados sucessivos, já nem se percebe se os cidadãos cá do burgo aproveitam para ficar em casa, não gastando dinheiro com as tentações das compras e, sobretudo, poupando gasolina que, apesar de ter baixado o preço, já serviu o seu exagerado custo que atingiu em Portugal, para alertar os automobilistas no que respeita a esse dispêndio que constitui um dos aforros que podem ser feitos quando a recessão atingiu posição tão pesada no nosso dia-a-dia.
A todos toca o cuidado com os gastos e, no meu caso, não podia fugir à regra geral, temendo que tantas restrições acabem por chegar a cortes nas reformas, o que a darem-se, será realmente um autêntico descalabro na vida dos portugueses.
As minhas primeiras economias fixaram-se naquilo que já ouvi chamar de “pasto literário”: livros e publicações. Quanto a jornais, sendo antes um glutão pela informação diária, passei a reduzir uma vasta área de títulos, contentando-me agora apenas com dois diários. E preparo-me para me fixar num só. No que respeita a literatura, como também já não tenho espaço na biblioteca para arrumar bem ordenados os milhares de volumes que tenho reunido desde que me conheço, quando passo pelas livrarias, de que sou um rato sempre que me ponho perante as estantes comerciais, faço o possível para nem olhar para as montras e muito menos me dá para entrar, porque a tentação é superior ao poder de compra.
Porém, mesmo assim, um dia destes, por sinal em Torres Novas onde fui e havia uma feira sem pretensões de livros, não pude deixar de deitar a mão ao último de José Saramago, “A Viagem do Elefante” e juntei-o aos 14 que tenho na fila para apreciar as obras. Porém, passei-o à frente e pus-me a fazer o exercício, que fiz de igual modo, com todos os anteriores títulos do Prémio Nobel, e tenho aproveitado estes dias de feriados para, com a lentidão a que obriga a ingestão da literatura saramaguenha, sorver palavra a palavra de um romance que, tenho de opinar, está bem construido e obrigou o autor a actualizar-se em relação a termos e circunstâncias que só surgem após algum estudo e muita imaginação. Não nos fixando nas ausências de pontuações, e sendo o leitor a interpretar se uma frase representa uma pergunta ou é uma resposta, tirando isso e há quem afirme que é um estilo, o livro lê-se e, de certa maneira, admira-se. Mas tenho de percorrê-lo outra vez, lá mais para diante, para poder formar uma opinião mais aprofundada, pois não gosto de expressar o que penso sem ter a certeza, relativa já se vê, no que respeita à matéria a que me refiro.
Seja como for, a editora Caminho tem usufruído bons proventos com o escritor que patrocina. E como a empresa editorial foi vendida a um capitalista desta praça, seguramente que valorizou bastante o seu património por força de contar com um Saramago como editado exclusivo. Ou será que Saramago, que odeia os portadores de fortunas, não prossegue com a mesma editora por este facto? Tinha graça!

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