Por mais estranho que isso pareça, de vez em quando sinto saudades do que não tive. Especialmente em menino.
Lembro-me que, em pequeno e mesmo até ao começo da adolescência, a minha maior ambição era ter uma bicicleta. Via os outros, rapazes e raparigas da minha idade, a usufruírem do prazer de se movimentarem sobre duas rodas e eu, se algum deles, com certa relutância, me deixava dar uma volta, essa oportunidade representava o deleite dos deleites. E até foi assim, nessas breves ocasiões, que lá consegui começar a equilibrar-me e depois a aguentar-me no selim. Ficou tudo por aí. Nunca fui mais longe.
Pois é essa sensação que eu relembro, especialmente quando passa na rua algum fulano de bicicleta. O que é raro! Hoje, esse meio de transporte só é utilizado para dar uns passeios no campo e o instrumento é mesmo levado nas traseiras dos automóveis até à altura em que vai ser usado.
Mas, ao mesmo tempo que sinto as tais saudades do veículo que nunca tive e das sensações da busca pelo equilíbrio – houve uma vez que esfolei os joelhos numa queda -, também vem ao de cima uma certa raiva por não ter sido beneficiado como os outros companheiros da altura. Se bem que, nesse então, já entendesse o que eram as diferenças sociais, o que era ter e não ter poder de compra, não deixava de sentir enorme angústia por me caber a mim o papel do menos favorecido. E é esse aperto no coração que me chega quando se arrimam as ditas saudades.
Hoje, como é natural, não me faz a menor confusão o fenómeno. Ter saudades do que nunca aconteceu é mais doloroso do que recordar um passado que sim, que existiu. É o que me acontece também, quando me vem à cabeça a casinha no Alentejo que, a partir de certa altura, passou a ser o meu sonho, pois seria onde desenvolveria lá os meus escritos, debaixo do chaparro no quintal, em vez de estar aqui neste café em Lisboa.
Que saudades do que nunca foi meu!
Lembro-me que, em pequeno e mesmo até ao começo da adolescência, a minha maior ambição era ter uma bicicleta. Via os outros, rapazes e raparigas da minha idade, a usufruírem do prazer de se movimentarem sobre duas rodas e eu, se algum deles, com certa relutância, me deixava dar uma volta, essa oportunidade representava o deleite dos deleites. E até foi assim, nessas breves ocasiões, que lá consegui começar a equilibrar-me e depois a aguentar-me no selim. Ficou tudo por aí. Nunca fui mais longe.
Pois é essa sensação que eu relembro, especialmente quando passa na rua algum fulano de bicicleta. O que é raro! Hoje, esse meio de transporte só é utilizado para dar uns passeios no campo e o instrumento é mesmo levado nas traseiras dos automóveis até à altura em que vai ser usado.
Mas, ao mesmo tempo que sinto as tais saudades do veículo que nunca tive e das sensações da busca pelo equilíbrio – houve uma vez que esfolei os joelhos numa queda -, também vem ao de cima uma certa raiva por não ter sido beneficiado como os outros companheiros da altura. Se bem que, nesse então, já entendesse o que eram as diferenças sociais, o que era ter e não ter poder de compra, não deixava de sentir enorme angústia por me caber a mim o papel do menos favorecido. E é esse aperto no coração que me chega quando se arrimam as ditas saudades.
Hoje, como é natural, não me faz a menor confusão o fenómeno. Ter saudades do que nunca aconteceu é mais doloroso do que recordar um passado que sim, que existiu. É o que me acontece também, quando me vem à cabeça a casinha no Alentejo que, a partir de certa altura, passou a ser o meu sonho, pois seria onde desenvolveria lá os meus escritos, debaixo do chaparro no quintal, em vez de estar aqui neste café em Lisboa.
Que saudades do que nunca foi meu!
Sem comentários:
Enviar um comentário