Os militares, sobretudo as altas esferas, estão a mostrar com clareza o seu descontentamento em relação, segundo as suas próprias palavras, à forma como são tratados pelo poder político. Reunidos num jantar – que é a forma bem portuguesa de se discutirem os assuntos – o coronel Vasco Lourenço, um dos cabecilhas na revolta militar que deu azo ao 25 de Abril, deixou expresso que”ou o Governo quer as Foças Armadas com todas as condições ou acabe com elas”. Mais explícito não poderia ser e acrescentou uma espécie de ameaça que só não entende quem não quer: os jovens militares desesperados “podem pôr em causa a democracia”, assim, tal e qual!
Porém o descontentamento atinge também os mais velhos e os que ocupam postos bem elevados. Até disseram, “as Forças Armadas estão na primeira linha da intervenção na política externa, mas depois tratam-nos como simples mangas de alpaca”.
O jantar com oficiais no activo, na reserva e na reforma, é “um sinal de que algo vai mal”, tendo mostrado o seu acordo o general Loureiro dos Santos, pois as altas esferas militares não escondem o seu desconforto.
Só que, ao mesmo tempo que correm estas notícias que, por tratarem de um assunto que diz respeito a uma esfera tão melindrosa como é a das Forças Armadas, não pode deixar tranquilos os cidadãos comuns, surgiu uma outra que, a quem se encontra no sector civil, provoca a maior surpresa: então não é que, dos 1.543 militares residentes em casas das Forças Armadas, 57 por cento paga uma renda mensal inferior a 100 euros; e ainda mais: que só 138 inquilinos com farda pagam rendas acima dos 250 euros! E tudo isto é imposto por decreto-lei, com data de 1997, que estabelece que os valor das rendas aos militares não pode, em momento algum, ser superior a 15 por cento da remuneração ou pensão e complemento da pensão, líquidos, do arrendatário.
Pergunto com a maior humildade: será que no tal jantar debate este tema foi posto em equação? Dentro do mau tratamento que é motivo de queixa de generais e de todos postos por aí abaixo até um certo nível, o facto das rendas das casa que lhes são atribuídas não terem nada a ver com aquilo que suportam os civis, terá amenizado a má disposição dos queixosos?
Este blogue, escrito por um jornalista que morrerá com esse espírito de observação, poderá não agradar, de vez em quando, a este ou àquele. Mas, como nós, os na nossa classe, nunca obtivemos mordomias, nem parecidas como estas que são concedidas aos militares superiores, ao ponto de, hoje em dia, nem a Casa da Imprensa, que nos concedia assistência médica e medicamentosa que ainda se poderia considerar favorável, até isso o governo de Sócrates entendeu pôr fim, temos mais do que motivos para nos queixarmos da situação em que nos forçam a viver. E, ao contrário de quase todas as outras classe trabalhadoras, inexplicavelmente, não fazemos greves, nem provocamos manifestações com bandeiras. É por isso que o Governo abusa, até porque nos conhece a cara e nos trata com intimidade...
E por que é que eu não segui a carreira militar, podendo hoje ser um general cheio de medalhas e de farda deslumbrante? Escolhi o jornalismo e olhem... deu nisto!
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