segunda-feira, 20 de outubro de 2008

EUTANÁSIA



Ler, de longe em longe, sobre a eutanásia, e tomar agora conhecimento que este tema terá, m 2009, prioridade na agenda parlamentar portuguesa, suponho que no Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, isto num País em que o assunto não se encontra no grupo das prioridades, constatar o facto de que o “direito a morrer” já surge com certa clareza, para mim, que não me guio exclusivamente por regras religiosas que, como se sabe, nem sempre olham com realismo para o factor humano, traz-me uma certa crença de que as coisas deste tipo, entre nós, começam a mudar e que o sofrimento dos doentes sem cura passará ser encarado com a piedade de que o tecnicismo médico nacional ainda se encontra distante.
É que não se trata, pura e simplesmente, de matar alguém que não pode esperar da ciência forma de se libertar do sofrimento que, por vezes, faz prolongar o momento da morte durante longos tempos. O que se situa na área da caridade é, pelo contrário, libertar um ser que, por motivos que as próprias religiões não sabem explicar, só sente a dor, ao mesmo tempo que resiste ao calvário de entender o que se passa à sua volta – ou até mesmo nem isso -, mas que a medicina considera como tratando-se de um humano que ainda se encontra “vivo”.
A dignidade do ser é espezinhada e, por vezes, esse prolongamento do fio de vida que ainda resta dura meses, quando não anos até. Vegetar, em vez de viver, em que todos os dias os familiares se perguntam quando acabará aquele espectáculo horroroso do padecimento, não se resolve por mais cuidados paliativos que sejam tomados.
Todos nós mantemos na memória televisiva aquele caso de um homem galego que, deitado e sem se poder mover, durante anos pediu que lhe acabassem com tanto padecimento, até que lá conseguiu que um médico, correndo todos os riscos, lhe satisfizesse a ânsia de passar para o outro lado com todo o conforto. Mas tardou até ser dada a resposta com a eutanásia.
Haverá ainda muita gente que se horroriza só de pensar que se acaba com uma vida sem ser por forma natural, tal como, durante muito tempo, poucos eram os que aceitavam a cremação em lugar do enterro na cova, mas, a pouco e pouco, as coisas vão ser compreendidas e só o admitir que esse horror de padecimento sem fim pode caber-nos a nós, então sim, a solução definitiva já será mais aceitável.
O que é preciso para isso é pormo-nos no lugar dos pobres coitados. Só assim é que o Homem entende melhor o que nos rodeia na vida. Quando pensa na morte!

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