terça-feira, 5 de agosto de 2008

EI


Lembrar, já muitas vezes me lembrei
criar coisas novas, isso criei
estudar, sem dúvida estudei
e trabalhar, como eu trabalhei!
vamos ver se desta me sairei
de pôr em ordem sentenças, porei?
todas elas terminadas em ei:
Cantar na minha vida eu cantei
em coro de ópera operei
pintar, disso gosto, sempre gostei
emendar, quantas vezes emendei!
errar, dessa nem sempre escapei
fruto daquilo que eu inventei
pelo que tive de pagar, paguei
desatando nós, como eu desatei
ou então atando pontas, atei
sem poder adiar, adiei
sem cair, várias vezes tropecei
quer servindo ou quando comandei
porque a bota sempre descalcei
mesmo a resmungar como resmunguei
pois recear, lá isso receei
mas, que me lembre, nunca ajoelhei
embora saiba que desagradei
com quem eu muitas vezes discordei
só que, por meu lado, nunca odiei
mesmo a quem, sem querer, enxovalhei
ou, por casmurrice, envinagrei
fruto de um contínuo “enjoei”
e devia avisar, não avisei
mas mesmo assim eu nunca caluniei
e orgulho, isso nunca ostentei
nem eu jamais fingi que concordei
como mostrava a cara que fechei
pois engraxar sapatos, isso engraxei
mas apenas os meus, isso eu sei,
como mamar por aí, não mamei
coisa alheia nunca apalpei
fumar, só os meus cigarros fumei
mas desse mau vício me curei
pelo que eu nunca aceitarei
ver gente morrer, sem dó e sem lei
sem pensar como eu antes pensei
que basta o mau mundo que eu herdei
e que vai ficar para a nova grei.
Hoje, como antes, esperarei
que com ou sem mesmo um Agnus Dei
a escrita que faço e abracei
venha ser amada como a amei
que lhe dêem o valor que lhe dei
e se não for assim também direi:
olhem, caguei!

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