terça-feira, 1 de julho de 2008

ESTOU FARTO DISTO!


Quando, há muitos anos, após as destruições deixadas pela II Guerra Mundial e sobretudo a seguir ao caso de Yorashima, Japão, o mundo se deu conta do que poderia passar a constituir um confronto entre povos em disputa de qualquer coisa e em desacordo de outras, quando deixou de ser segredo o que Einstein tinha conseguido fazer sair do seu laboratório de descobertas, a bomba atómica – para lhe dar um nome simplista -, nessa altura o tema foi encarado com a seriedade que ele próprio impunha e durante largo tempo a humanidade ,mais consciente do que é isto do mundo em que vivemos, trouxe essa preocupação sempre presente.
Foi, no entanto, uma época em que dois grandes países se enfrentavam de longe e controlavam os passos que cada um deles dava. Os Estados Unidos da América e a República Socialista Soviética – para lhes dar os seus nomes completos – ambos com capacidade para produzir a perigosa arma atómica, podiam, em princípio, prestar a garantia de que, qualquer deles não se atreveria a dar o primeiro passo, pois a resposta não deixava de ter o mesmo calibre e os resultados eram, como continuam a ser em igualdade de circunstâncias, seja qual for o governante que resolva carregar no tal botão destruidor, verdadeiramente catastrófios.
Vale a pena contar isto aos mais novos, aos que não tiveram oportunidade de sentir, no dia a dia, o peso dessa ameaça de o fim do mundo estar dependente apenas de um acto de loucura de um qualquer chefe de uma potência que possuísse a tal máquina de destruição definitiva. Só que o tempo passou, os muitos anos que nos separam dessa época fizeram esquecer ou, pelo menos amenizar, o horror do referido acabamento do globo terrestre.
Cabe-me a mim recordar que, nessa altura, tinha eu os meus 25 anos, pensei que tinha cabimento escrever uma peça de teatro que desse uma ideia do que seria isso de ficar o Mundo vazio de gente e com todas as suas edificações feitas em pó. E, por isso, agarrei-me ao papel e escrevi uma obra que tem o título “…E a Terra, indiferente, continua rodando”, onde é aí representada ficcionalmente o fim deste Globo onde vivemos, mas em que, por simples casualidade, ficam apenas resguardados num abrigo duas pessoas, casualmente chamadas Adam e Eve.
Essa peça de teatro, dada a ler à grande artista Amélia Rey Colaço, visto até a sua actualidade momentânea, interessou-lhe ao ponto de a querer representar no Teatro Nacional de D. Maria II. Só que, como sucedia na época, por precaução entendeu dever consultar os Serviços de Censura – estava-se em 1955! – e a opinião que colheu foi a de que não era um momento mais conveniente, visto poder criar pânico no público português, que convinha estar calminho... E foi-se passando o tempo!
O que se pode tomar conhecimento hoje é que o domínio dos segredos, que foram durante muitos anos bem guardados, os do uso dos elementos nucleares, hoje já estão à mão de muitos governantes mais ou menos responsáveis (talvez menos) que, ninguém garante, tenham o domínio próprio suficiente para não serem atraídos por um qualquer ódio e resolvem carregar no referido botão destruidor.
Fala-se no Irão. Fala-se em Israel, como é corrente agora que o próprio al-Queda poderá a estar a preparar um ataque terrorista contra os EUA no início de 2009, não havendo garantias de que as consequências posteriores não sejam de molde a deitarem mão, sabe-se lá quem, ao desforre atómico.
Como autor de uma peça que tem tantos anos e que mostra, uma vez mais, o que significa “ter razão antes de tempo”, não posso deixar de permanecer triste e inconformado com o desinteresse que se mostra pelas coisas sérias e, especialmente neste País que é o nosso, em que, em contrapartida, nos embrenharmos babados de interesse nos processos jurídicos em que se levantam quezílias entre responsáveis futebolísticos e antigas amantes, em que se vendem livros de autores que só o são e só têm público por as suas caras surgirem permanentemente nos écrans da televisão, por serem também os chamados comentadores sociais e por outras razões fúteis que não adiantam nada aos problemas graves que o Homem tem para solucionar e que, pelos vistos, não tem grande ideia de como se vai livrar deles.
Eu, por mim, aqui declaro sem nenhuma solenidade: Estou farto disto!

1 comentário:

Anónimo disse...

are you sure about that?


berto xxx