
Vinte e dois homens num campo
saltando qual pirilampo
de relva verde, tratada
aparada
com um outro que usa apito
que provoca muito grito
de vez em quando silvando
para mostrar quem tem o mando
com dois de fora a espiar
e nenhum é popular
com bandeirinhas na mão
prestando grande atenção
assim lá vão os minutos
que não são absolutos
lá se passa o tempo afinal
noventa no seu total
com pontapés numa bola
obedece a quem foi pô-la
que gira de um para outro lado
por sobre o verde relvado
do terreno
sem empeno
que tem risco branco ao meio
e não se pode chamar de feio
De calções correm e suam
e se extenuam
aqueles que usam os pés
que servem para pontapés
pois os braços e qualquer mão
esses podem custar expulsão
somente os homens das balizas
têm como divisas
deixá-las invioláveis
impenetráveis
todos equipados a preceito
aprumados a seu jeito
quando entram no relvado
esteja seco ou molhado
cada onze de sua cor
calmos ou com pavor
fazem por meter a bola
que em tempos era de sola
na baliza do adversário
para que aumente o salário
Golo! Gritam os adeptos
que não recusam afectos
cada vez que lá enfiam
e assim se agraciam
pois o tal esférico
que não tem nada de pindérico
quando conseguem fazê-lo
podem servir de modelo
no cubículo que é alheio
se acertam em cheio
dão largas à fantasia
não escondem a alegria
rebolando-se no relvado
com certo ar desvairado
beijando a camisola
mostrando ser gabarola
correndo desenfreados
coitados
O pior vem porém
porque nem tudo corre bem
quando o árbitro apita
e marca falta desdita
injustiça! Malandrice!
mas que grande pulhice
não aconteceu nada disso
já lá faltava o enguiço
foi tudo bem ao contrário
e aquele grande ordinário
do juiz, o desgraçado,
vê-se que foi comprado,
ouve o que não se diz fora
mas mesmo assim não cora
pois é esse o seu ofício
e há que fazer sacrifício
para bem do futebol
que dá bastante carcanhol
Por vezes não só das bancadas
bem lotadas
ressaltam os impropérios
sem critérios
os jogadores mal formados
enganados
pelo contra-tempo raivosos
nervosos
mimam sem se conter
por vezes até com prazer
e fazem ao árbitro gestos feios
sem ter cuidados com os meios
e o pior é quando se excedem
e não medem
o tamanho dos dichotes
e que até saem a potes
e entram noutros confrontos
ainda muito mais tontos
que deixam marcas visíveis
horríveis
no corpo do julgador
que horror!
bem pagam por isso os tolos
que nem lhes valem os golos
Ganham muito os jogadores
os senhores?
seguramente que sim
pelo menos alguns, enfim
p’ra quem não gastou pestanas
bem podem cantar hossanas
deviam ficar calados
os famosos, deslumbrados
porque para simples mortais
têm benesses demais
por muito que lá no fundo
se julguem o centro do mundo
Será que tais honrarias
de todos os dias
são merecidas?
bem lambidas
neste mundo de injustiças
e de cobiças
de tantas desigualdades
maldades?
ninguém nada estranha
neste mundo de manha
é tudo tão natural
tão banal
que até os pobres de Cristo
já nem fazem registo
de tais populares figuras
que exibem grandes farturas
e vivem como nababos
fazendo inveja a diabos
olhando p’ra baixo o mundo
não sabendo que no fundo
se abrem a boca sai asneira
o que se não causa poeira
pelo menos incomoda
por muito que faça moda
O reverso da medalha
que geralmente não falha
é quando perdem sem jeito
que os faz baixar o peito
e de melhores do mundo
descem bem até ao fundo
passam a ser os piores
e desmerecem favores
Se algum bom senso tivessem
e as honrarias merecessem
quando bem lá no alto estão
pediriam perdão
demonstravam só modéstia
nem que fosse só uma réstia
ao espelho se olhavam
e choravam
Afinal neste País
há muita gente que o diz
os três efes estão em cima
e recebem toda a estima
dos portugueses de gema
como delícia extrema:
Fátima, fado e futebol
e não põe mais no rol
De igual forma os tais “heróis”
terão tempo para depois
mesmo tarde constatar
que foi curto o tempo para jogar
porque a idade não perdoa
por muito que isso doa
e se no auge houve fartum
não foram guardando algum
Passada a época boa
quando têm baixa a proa
contam os tostões na carteira
e choram a grande asneira
de quando jorrava a torneira
não se terem precavido
deixando cair no olvido
conselhos de quem sabia
e lhes mostrava a fantasia
da vida fácil de então
reinação.
Agora é tarde para ira
por tudo que foi mentira
Mas vistas melhor as coisas
mirando gentes vaidosas
que por aí se pavoneiam
e bem estar alardeiam
não será que também esses
descuidem os seus interesses
e fiquem iguais aos “putos”
que aí andaram aos chutos?
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