domingo, 29 de junho de 2008

AGRICULTORES PORTUGUESES EM RISCO


Ainda que não se possa considerar uma notícia em primeira mão, pois já há muito tempo que esta ameaça paira sobre a cabeça dos agricultores portugueses, mesmo assim temos de sentir o efeito da perspectiva que é apresentada pelo presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal, de que, dentro de pouco tempo, duzentos e cinquenta mil agricultores do nosso País abandonarão a sua actividade.
João Machado, o actual responsável pela associação dos empresários que se dedicam à agricultura no nosso País, não “inventou” nada de novo. Pois que, para aqueles que têm memória entre nós e costumam ler o que se escreve na nossa Terra sobre os problemas que se instalaram por cá e que, de dia para dia, se vão agudizando cada vez mais – chamem-me pessimista, chamem-me o que quiserem, mas muito pior do que isso é enfiarmos a cabeça na areia e acreditarmos em milagres, sejamos ou não religiosos -, esses, sobretudo os milhares de agricultores que, anos atrás, cerca de vinte, eram assinantes de uma revista que teve grande aceitação junto dos homens do campo nacional, tiveram o aviso repetido de que se impunha dfar uma volta de 180 graus na política agrícola nacional, se queríamos que não se afundasse essa actividade que estava, dia a dia, a perder, a passos largos, competitividade perante os mestres do mesmo ofício dos países europeus, especialmente a Espanha, que estava, como está, aqui mesmo ao lado.
Qual era o principal problema? É que não é possível obter rendimentos, conseguir produções, sobretudo na agricultura, com pequenas áreas de plantação e não tendo tamanho para serem utilizadas maquinarias que substituem com vantagem a mão do homem, como depois, para se poderem obter bons resultados com a comercialização em grande escala sem recurso aos intermediários que, esse sim, tiram o maior proveito da pequenez dos que trabalham a terra.
E o mesmo se passa com as associações de agricultores que se espalham por todo o País. Em lugar de estarem reduzidas a áreas com a dimensão mínima suficiente que justifiquem a criação dessas organizações, com os serviços de apoio às culturas ministrados por técnicos competentes que prestem a ajuda que, cada vez mais, se torna necessária para evitar erros de falta de moderna tecnologia, assim como se nota a ausência de especialistas em comercialização, dentro e fora do País, com o propósito de evitar que os donos dos terrenos, por seu belo gosto, se dediquem ao cultivo de produtos que, depois, verificam desconsolados não terem as características que o mercado internacional pretende e nem o preço de venda se coaduna com o que é praticado nos mercados modelo, o de Paris, por exemplo, que é o orientador, em lugar de seguirmos essa regra fundamental o que praticamos por cá – e não é apenas nessa área que não atendemos à nossa verdadeira dimensão em todos os sentidos, única maneira de podermos fazer o jogo das competições -, repito, o que se pratica em Portugal é andarmos desfasados e não sabermos medir o nosso real tamanho.
O risco de uma desertificação massiva na área da agricultura que temos é o espectro que se apresenta na curva do caminho que temos a percorrer. E deixar este aviso – digo eu, de novo, porque, há cerca de vinte anos, quando eu fui lançador e director da revista “o País Agrícola”, deixei este recado a quem o quis ler (e, na altura, o ministro da Agricultura da época, António Barreto, até ignorou a ideia de aproveitar a experiência de uma associação israelita no sentido de podermos dar o salto que se impunha para sairmos do amadorismo agrícola em que sempre andámos -, servirá agora para o que valer – pouco -, posto que ter razão antes de tempo nunca deixa grandes frutos aos seus autores.
Faz-me pena que sejamos uma Nação de surdos, de “responsáveis” incompetentes, de vaidosos que não precisam que outros lhes chamem a atenção para medidas que devem ser tomadas. Eu, na altura, fiz o que pude e organizei até excursões de agricultores portugueses a Israel para verem, “in loco” o que lá se fazia e que poderia ser copiado por nós.
Mas o Ministério respectivo achou que não!

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