sábado, 3 de maio de 2008
FALAR COM O POVO
(continuação - 3)
Nessa altura, de uma forma geral e extraindo aqueles que se consideravam ligados, política e sentimentalmente, ao estilo do Estado Novo, o ambiente geral era o de contentamento e de grande esperança de que, por fim, se tinha conseguido dar o passo que nos poderia fazer aproximar dos países que já gozavam de liberdade há vários anos. Sobretudo a partir do fim da II Guerra Mundial.
Dando de barato - para usar uma linguagem que o povo entende bem - todos os empecilhos que se levantaram provocados pelas precipitações de sacudir Portugal dos enredos políticos que não era fácil afastar das mentalidades mal preparadas dos portugueses,, não sendo agora ocasião para fazer acusações, por sinal merecidas, a vários oportunistas que se aproveitaram da ignorância e também da ingenuidade dos militares que se envolveram na Revolução, querendo empurrar com violência o movimento para extremismos, para nacionalismos apressados de empresas que acabaram por se perder na confusão revolucionária, deixando para outro texto o historiar de um período que teve vários intérpretes que impuseram marca negativa em toda a sua acção, como foi o tristemente período conhecido pelo gonçalvismo, ocupemo-nos apenas da questão que, 34 anos passados sobre o 25 de Abril de 1974, ainda parece não ter sido devidamente entendida pelos políticos nacionais de agora: o falar explicitamente e sem subterfúgios, numa linguagem aberta e, se possível, verdadeira para explicar aos cidadãos as razões de ser das suas atitudes, isto quando são Poder, e, por outro lado, expor os motivos porque discordam das medidas governamentais e o que fariam se situassem nos postos daueles que criticam.
E não é isso que ocorre num e noutro lado do espectro político nacional. Os ataques de ordem pessoal não têm de constituir matéria única para oferecer aos potenciais votantes - nas horas que se oferecerem para tal exercício - razões fundamentadas de escolha de caminhos que podem situar-se na área do agrado de cada um. De igual modo, o historiar somente situações antigas que, evidentemente, não têm de ser ignoradas e que, em boa verdade, deixaram marcas de incompetência de muita gente que deveria afastar-se das actividades políticas por nítida falta de habilidade, seriedade e outros atributos que são essenciais a tal desempenho, não é essa história apenas o factor mais importante, de formaçaõ e de informação, que os potenciais utilizadores do voto necessitam para alimentar a sua consciência.
O que os políticos portugueses, a esmagadora maioria, diga-se abertamente, não sabe é falar de forma a que o Povo que somos não desligue a rádio ou a televisão quando essas figuras surgem a debitar conceitos. São bem conhecidas palavras e frases que se prestam de seguida de pasto do anedotário nacional. E nem é necessário recordar o "jamais" que ficou, para tristeza e vergonha do seu auitor!
E, para dar outro exemplo de inaptidão de prestar esclarecimentos aos portugueses deixo aqui a pergunta: será que ninguém terá dito ainda ao engenheiro Sócrates que lhe ficaria bem e resultava seguramente numa subida de simpatia e de credibilidade se passasse a admitir, de vez em quando, que também se engana, que nem tudo corre bem, que, de facto, a vida dos portugueses tem vindo, ao contrário do que afirma categoricamente, a sofrer aumentos de dificuldades, tudo isso em lugar de utilizar permanentemente percentagens que nada adiantam e que, sobretudo, ninguém entende para além de poucos poderem discutir esses números. Por outro lado, também seria simpático pedir às oposições conselhos que fossem exequíveis de pôr em prática e que pudessem servir de ajuda para que as coisas não continuassem a correr tão mal no capítulo do difícil nível de vida dos cidadãos, para além dessas solicitações, feitas com ar de boa vontade, poderem habilidosamente ocultar uma forma de colocar a "batata quente" nas mãos dos adversários .Ainda assim não ficaria mal ao que desempenha as funções de primeiro-Ministro dar mostras de abertura de espírito e de desejo de não querer parecer que é senhor absoluto de toda a verdade .
E é isso que este desabafo blogueiro pretende tentar conseguir: que não há ninguém insubstituível, sabedor exclusivo de tudo e, pelo contrário, é evidenciando dúvidas, não tendo receio de de mostrar que elas são são as melhores conselheiras, que se pode servir de exemplo de simplicidade para se tentar conseguir o melhor caminho possível. Já que não se consegue sempre o ideal.
E, para além de tudo isso, o utilizarem os políticos uma fala pública que seja facilmente entendível pelos poucos mais de 9 milhões que nós somos, tendo em conta que a esmagadora maioria não é formada por gente letrada, mesmo medianamente instruida e nem sequer a juventude, como desabafou Cavaco Silva recentemente, é possuida de um lastro que a leve a ser conhecedora profunda dos problemas políticos, económicos e sociais do nosso País, repito, o começarem os profissionais da actividade política da nossa Terra a entender que têm de mudar radicalmente de forma de se dirigir aos que ainda conseguem ser ouvintes, o darem esse passo poderá ajudar a que mude radicalmente o desinteresse em que se vive entre nós no que diz respeito às quezílias que movem aqueles que falam, falam... mas poucos os entendem!
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