quarta-feira, 7 de maio de 2008

DESENCANTO...POR ENQUANTO!


Ter razão antes de tempo é o mesmo que beber água por um copo vazio. Não mata a sede, nem dá serventia ao copo. É um gesto inútil. Uma daquelas situações que está mesmo a pedir a sentença conhecida do “mais valia estar quieto”.
Descortinar uma solução, à distância, de um problema que necessita tratamento e ninguém se antecipa a encontrá-lo, pode resultar de duas situações: prever um caso que se avizinha e não ter nas mãos os meios para remediar a dificuldade e antecipar a forma de melhorar algo que constitui um problema para a sociedade à volta e, gritando bem alto a forma encontrada para a solução, apesar disso ninguém ouve e menos ainda os que têm a possibilidade de intervir, através do poder. Tudo isso é, pois, o que se pode chamar “ ter razão antes de tempo”.
E o frustrante é constatar que, épocas depois, precisamente aquilo que se alvitrou, em surdina ou em altas vozes, surge na boca de um qualquer, mas esse, bem colocado na esfera das influências e do poder, tomando como sua a descoberta e intitulando-se cabeça privilegiada, põe em prática a execução do que se diz ser o descobridor.
Tal como sucede nas revoluções políticas, nas várias que já ocorreram por esse mundo, os que dão o corpo ao manifesto são geralmente engolidos pela evolução dos acontecimentos. Por vezes até mortos. Passados tempos, quando o efeito revolucionário já está concretizado, os que apanham o comboio do êxito em pleno andamento e saltam para a carruagem mais à mão, atropelando-se com outros com os mesmos objectivos para chegar mais perto do maquinista, são eles que acabam por usufruir dos proveitos e por receber as honrarias que a História, quase sempre mal contada, lhes concede.
Então, e em resumo, eis o que sucede: lembrar-se alguém da solução de um determinado problema e divulgá-la antes que a situação seja muito grave, só isso não tem utilidade nenhuma; o que se torna necessário é que seja posta em prática a ideia desvendada e, se não pertence ao autor do remédio ver o assunto resolvido, mais tarde, alguém que, por acaso ou porque, na devida altura, registou a sugestão, seja capaz de passar da teoria à prática e, nessa altura, não perder a gabarolice da descoberta.
Eu dou um exemplo vivido: há anos, muitos, bem atrás no tempo, quando a outra senhora mandava, num jornal que já não existe e onde me foi concedido um espaço semanal, lutei, por escrito, pela necessidade imperiosa de serem retirados, de toda a capital, os espaços, de propriedade própria ou alugados, onde se encontram a funcionar dependências do Estado. E, sobretudo do Terreiro do Paço, deveriam sair os ministérios que ali se encontram desde há muitos anos. Com o dinheiro que se gasta em alugueres e com a venda ou cedência das propriedades ocupadas pelo poder político, talvez não fosse necessária mais verba para suportar os custos de construir e instalar o Bairro dos Ministérios, seguindo o exemplo de Madrid que, desde o tempo de Franco, imagine-se…, ali existe. Para além disso, na linda Praça do Comércio, tão mal aproveitada a sua beleza, como aliás sucede com tantas zonas de Lisboa, ali surgiriam hotéis de elevada categoria, respeitando a arquitectura exterior dos edifícios, e, nas arcadas, outra vez como em Madrid, na Plaza Mayor, criar-se-ia um ambiente apropriado para serem instaladas esplanadas, galerias de arte, venda de artesanato e tudo que a imaginação demonstrasse ser adequado ao espaço em causa. Por mais de uma vez e em diferentes situações fiz referência e esta medida que se está a meter pelos olhos dentro.
Pois bem, esta proposta, a que qualquer cabeça, mesmo sem ser excessivamente pensante dá o seu acordo, nos vários governantes que têm passado pelas cadeiras do poder, tanto antes como depois da implantação da Liberdade, nunca surgiu uma luz que os fizesse serem inovadores.
Pois então, até um dia. Ele virá. É inevitável. Mesmo que cá não esteja já quem tanto se esforçou para lançar a ideia.
E é isto, enfim, o que eu classifico como tendo razão antes de tempo. Serve para alguma coisa?

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