terça-feira, 9 de março de 2010

GASTAR POUCO - PEC



FOI O QUE SE ESPERAVA. Nem podia ser de outra maneira. Ao tomar-se, por fim, conhecimento do que ia sair do Programa de Estabilidade e Crescimento, que o Governo andou a preparar - obviamente contra a sua vontade, posto que José Sócrates, que tem andado desde sempre a proclamar o bom caminho que o nosso País levava, não parecia estar convencido de que era forçoso dar uma volta grande no panorama existente -, face à realidade que foi dada agora a conhecer aos habitantes deste País, perderam-se as esperanças vãs que os optimistas profissionais ainda mantinham, e as medidas drásticas lá foram mostradas para tentar que a má situação financeira que atravessamos chegue ao seu final. Mas sem o dizer com aquela clareza de humildade que era forçoso que fosse mostrada pelo próprio Sócrates, o que vai ocorrer a partir de agora é exactamente o contrário do que tinha sido sempre proclamado no arrastar do tempo passado.
No fundo, ainda bem que tal ocorreu, pois, mesmo demasiado tarde, mais vale fazer-se alguma coisa do que mantermo-nos agarrados a uma política que não se encaixava nas realidades dos nossos dias. Sempre se procura atrasar o bater no fundo de que já se começaram a ouvir alguns estrondos.
A verdade, porém, é que o apertar do cinto, o ter de poupar onze mil milhões de euros até 2013, o terem sido adiadas, sabe-se lá durante quantos anos, as leviandades que Sócrates insistia em querer manter, como parte do TGV e as auto-estradas não urgentes e talvez até nem necessárias, o terem as deduções no IRS de passar a ser diminuídas e quem ganha mais do que 150 mil euros anuais ir sofrer o aumento dos impostos, tudo isso irá atacar, sobretudo, a classe média e não se sabe ainda se todas estas medidas – que poderiam e deveriam ter surgido há dois anos atrás -, agora, com efeitos muito penalizadores, temo de nos interrogar se todas essas medidas não irão criar uma crise política, com consequências difíceis de prever. Mas que era urgente tomar medidas, com isso temos de nos conformar…
O recuo do Governo em relação ao seu comportamento anterior, o que provocou que um grande número de portugueses se tivesse mostrado, desde há certo tempo, desinteressado de acompanhar o que os participantes do Poder estiveram a engendrar, por não ser esperada já capacidade para emendar o que estava a sair visivelmente mal, essa atitude agora surgida, esses grandes passos atrás só vêem dar razão a quem, com persistência, acusava os culpados de estarem a conduzir Portugal para um beco sem saída. Disso não me arrependo.
Nesta altura, não é fácil prever se ainda há tempo para remendar o que se encontra bastante roto. Por isso mesmo, o que seria salutar era que o próprio José Sócrates se tivesse apresentado perante os portugueses e justificasse, ele próprio e não um ministro, a mudança radical que o seu Executivo introduz na condução do seu conjunto governamental.
“Errare humanum est”, deveria ser a expressão que o principal culpado deste horror em que nos encontramos teria de proferir com a mão no peito. É altura de acabar com os elogios em boca própria, com as arrogâncias de que ninguém faria melhor do que ele e aceitar que havia formas de evitar o pior de todos os males que nos atingiram e que, esperemos, não fiquem só por aqui.
No capítulo do desemprego, que é um dos factores mais gravosos do sector social português, não foi este Programa que veio trazer novidades. Também não existem “milagres” que ponham cobro a este deplorável mal que pode produzir grandes revoltas nos atingidos por tal desgraça. Nem se sabe se existe alguém que tire do chapéu a solução de tamanho problema! Logo, não constitui um retrato pessimista, se houver quem proclame por uma atenção muito particular no que diz respeito a esse campo aberto para uma posição violenta por parte de quem se sente incapaz para alimentar a sua família.
Logo, não existindo nenhuma certeza em relação ao que virá a seguir, em termos de possível novo Governo e se aparecerá outro grupo parlamentar em posição de comando nas bancadas de S. Bento, pois até o principal partido da Oposição ainda se encontra sem chefia encontrada, exactamente também por tudo isso é que José Sócrates tem a obrigação de não fugir às responsabilidades que lhe cabem e dar demonstração clara de que se assume como parte da culpa quanto às consequências de tudo o que de difícil solução puder vir a passar-se.
Com este vício tão nacional de culpar sempre quem esteve e nunca quem está, não admira que o próximo futuro venha a ser a repetição de cenários já conhecidos: o choradinho de que foi encontrada a situação económica nacional num estado deplorável. Mas o que os portugueses precisam é de alguém que venha disposto a encarar o futuro e com soluções, pois do passado já todos nós conhecemos o historial.

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