quarta-feira, 10 de março de 2010

COMISSÕES


CADA VEZ que se forma em Portugal uma comissão, especialmente por iniciativa da Administração estatal, todos os que por cá ainda prestamos alguma atenção a estas coisas de se encontrarem lugares bem pagos para os amigos do Poder, ficamos alerta e na expectativa de vir a entender se algo de proveitoso para o interesse público sai desses conjuntos de indivíduos que passam a fazer parte uma qualquer motivação de momento.
Isto, para dizer aquilo que eu penso que será opinião geral dos portugueses: que os habitantes do nosso País se encontram fartos de medidas “inventadas” com ausência total de produtividade e em que os dinheiros públicos são gastos desalmadamente e sem contribuírem para a melhoria dos nossos problemas.
O caso que se tem assistido, através do programa televisivo que cobre os acontecimentos na Assembleia da República, em que, ao longo de dias seguidos, cerca de trinta deputados dos diversos partidos com acento no Hemiciclo apresentaram perguntas, muitas delas repetitivas, aos cidadãos convocados para o efeito e, nesta situação, com relação a dúvidas levantadas sobre a actuação governamental no capítulo da liberdade de Imprensa, as prolongadas sessões que deram mostra da falta de preparação dos membros partidários que, acima de tudo, terão preferido marcar terreno com respeito ao grupo partidário que representaram – e, obviamente, situando-se nas posições condizentes com os interesses defendidos por cada agrupamento -, tais sessões não terão servido rigorosamente para nada e apenas constituíram a regra das comissões que no nosso País são constituídas sempre que se pretende não resolver problema nenhum.
Esta Comissão de Ética, Sociedade e Cultura, que é este o seu nome – ridículo pelo título, como inoperante quanto ao objectivo -, só vem provar aquilo que nós, portugueses, e não são apenas os elementos dos serviços públicos, desde Sócrates até aos níveis mais para baixo, não estamos destinados a saber solucionar as nossas próprias questões. É uma pena ter de concluir isto, mas eu não sou capaz de encontrar outra razão para a inutilidade que se verifica nos resultados cada vez que se entende formar uma comissão seja do que for, para passarmos a bola a um grupo que fica com o encargo de apresentar conclusões… as quais nunca são comunicadas, porque, na generalidade, também não adiantam nada de positivo.
No caso em análise, reconheço que, pelo menos, das horas longamente perdidas com a referida reunião, alguma coisa passou para o exterior e isso devido a depoimentos de alguns dos interrogados, especialmente de Henrique Granadeiro: é que José Sócrates não sabia o que se estava a passar quando a PT estudava a possibilidade de adquirir uma posição na Media Capital. A ser verdade, também fico deveras intrigado. Pois será possível que um primeiro-ministro, tão atacado com os disparos que saem de todos os lados, não esteja ao corrente de um passo tão importante que estava a ser preparado por uma empresa pública da dimensão da PT? E então, José Eduardo Moniz, ao ter feito declarações que muito comprometeram o chefe do Governo, não disse verdades?
E cá ficamos nós muito entretidos com comissões que se formam constantemente. O que é preciso é deixar a ideia de que a grande preocupação nacional é a de esclarecer, o mais possível, todas as dúvidas que pairam em vários campos da vida nacional. Se os portugueses andam confusos e com falta de aclaramento de muitas situações que ocorrem por cá… não é à falta da existência de comissões!

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