quarta-feira, 27 de agosto de 2008

ILHA DO PORTO SANTO




Como complemento do texto ontem apresentado respeitante ao comportamento da Rússia no dilema que envolveu forças militares, destruições, mortes e, por fim, a decisão tomada pelo Kremlin de reconhecer os dois territórios também envolvidos na contenda, Ossetia do Sul e Abcásia (cuja dimensão é equivalente a duas vezes a área do Algarve), como independentes, perante o desacordo da maioria do Ocidente europeu e dos E.U.A., tudo isso vai dar lugar a novos conflitos, pelo menos segundo opinião expressa pelo antigo presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev, que se pode considerar isento na sua apreciação.
Fico-me por aqui e como vou estar sem me manifestar no meu blogue, por ir passar uns dias no Alentejo, talvez esta pequena ausência permita encarar a situação já com as alterações que provavelmente se verificarão.
Por agora, remeto-me para uma ilha portuguesa, que tive ocasião de visitar há alguns meses, Porto Santo, e que foi alvo por estes dias de um artigo publicado no “Diário de Notícias” que se intitulava “Uma ilha dourada à conquista do turismo”. Pelo menos ameniza um pouco os espíritos preocupados com a ameaça de uma guerra, que os homens são bem capazes de fazer espoletar numa zona bem castigada por destruições e mortes que, tal como sucedeu há mais de cinquenta anos, inflamou o início da I Guerra Mundial, em Agosto de 1914.
Eu, que não conhecia a ilha pertencente ao arquipélago da Madeira, fiquei deslumbrado, mas, ao mesmo tempo, preocupado. É que, segundo sabia, tratava-se de um local verdadeiramente deslumbrante que, apesar disso, não tinha nunca sido aproveitado, em pleno, para a exploração da actividade turística, ao contrário do que se passava com a sua parceira com a capital no Funchal. E a minha preocupação explica-se rapidamente: é que, há meses e, de acordo com as notícias que chegam, assistia-se e mantem-se essa febre, a um desenfreado surto de construção civil, com o aparecimento de vários estabelecimentos hoteleiros e a edificação de prédios com apreciável altura para a venda maciça de andares. Tudo nas áreas das belas praias que rodeiam a ilha.
O susto que apanhei tem a compensação do desenvolvimento que fazia falta naquele local. Só que, como o Homem nunca é capaz de ser moderado, de avançar apenas o quanto baste, de se ficar pelo conveniente e não estragar o que pode ser uma excelente iniciativa, a pacatez, a beleza natural do Porto Santo está a desaparecer a olhos vistos. E, dentro de pouco tempo, muito pouco até, teremos ali uma segunda Ibiza que, como se sabe, deixou de ser um local paradisíaco para se transformar numa infernal acumulação de construções que, sobretudo nas épocas altas, são impossíveis de visitar e o turismo selvagem e a avalanche de gente de todo o mundo vai acabar por fazer do local um ponto que, pouco a pouco, em vez de atrair visitantes, assusta-os e vai-os perdendo.
Estes avisos não servem de nada, é sabido. A ânsia de competir com o vizinho faz com que as construções surjam com uma velocidade estonteante. Aí, sim. Somos rápidos. Não perdemos tempo.
Quando voltar destas minhas curtas férias logo se pensará no que há para comentar.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

O MUNDO






Contemplo este mundo e com desgosto
Perco vontade de dele fazer parte
Vendo o que faz basta gente sem rosto
Que teima em tornar da desgraça arte

O que podia ser um mar de rosas
Se os homens não fossem o que são
Daria para cantar tantas glosas
E para consolar vasta paixão

Mas não, esta bola que Deus criou
Foi erro de cálculo, não previa
Que quem pôs aqui dentro saísse assim

E todo aquele que por cá andou
E que fez toda essa travessia
Tem de saber qual será o seu fim

O MUNDO NÃO SE ENTENDE


Tenho-me dedicado nestes meus blogues, de preferência a temas ligados ao interesse nacional. Mas, perante os acontecimentos que têm ocorrido naquela zona que fez parte da antiga União Soviética, cuja gravidade e perigo de extensão do conflito para outros pontos do globo é mais do que evidente, entendi que não devia ignorar nestes meus escritos o que ali se tem verificado, sobretudo porque existem culpas dos Homens para que se tivesse chegado a um ponto extremo de milhares de mortes e de enorme destruição de valores.
É evidente que tudo poderia ter sido evitado se o presidente da Geórgia não se tivesse imaginado mais forte no campo militar do que aquilo que realmente é o seu País. E, não podendo desafiar o vizinho que não é para graças, pôs a Rússia a entrar pelo seu território dentro e a ocasionar as mortes e as destruições que foram mostradas em todas as televisões. E, como sempre, desastradamente, George Bush entendeu botar palavra, em lugar de se ter provocado uma acalmia de ódios em acção, o presidente Putin, que também tem bem clara a preocupação de mostrar ao mundo que o seu País está em plena forma, sobretudo no campo militar, não esteve com meias medidas e mandou avançar as suas tropas pela Geórgia dentro, arrasando e saqueando tudo que encontraram pelos caminho, numa demonstração inequívoca de que não existe no governo russo a preocupação de não dar ao mundo uma imagem de completa selvajaria de uma força militar que não respeita os civis e se encontra ainda na fase de os seus soldados utilizarem as mulheres do adversário para uso sexual. Tudo â moda antiga.
Até poderia ser compreendida a actuação de Moscovo perante o gesto impensado do presidente da Geórgia, que não mediu as consequências quando pôs as suas tropas a avançar pela Ossétia do Sul. O que já custa a aceitar é que os poderes maiores da Rússia andassem a prometer todos os dias que retiravam a sua força militar do território georgiano e tal não acontecia e a soldadesca ia-se comportando selvaticamente enquanto se mantinha a ocupar os vizinhos do sul.
Agora, por fim, surgiu a notícia hoje de que a Rússia reconhecia a independência da Abcásia e da Ossétia do Sul, o que provocou o desagrado dos Estados Unidos da América , assim como da Alemanha, da França e da Itália surgiram as notícias de que não estavam de acordo com a decisão tomada, tendo o presidente da Geórgia classificoado
o voto russo como uma tragédia.
A fim e ao cabo, não se pode considerar que a paz se tenha instalado naquela zona e que as más vontades em relação aos russos tenham terminado. Dividem-se as opiniões, essa é que é a verdade. E a conclusão a que podemos chegar por agora, sem entrar nos pormenores que não têm cabimento num blogue sem pretensões como é este, é que ainda vai correr muita tinta até se chegar a uma comunhão de interesses no que se refere a uma área que não parece ir acalmar tão cedo.
Os Homens, desde que apareceram na Terra – ainda não se sabe concretamente como e porquê -, sempre evidenciaram desentendimento entre si. Mas enquanto usavam as pedras para se agredir, a coisa passava, tendo piorado à medida que o armamento se foi também modernizando. Agora, que basta carregar num botão para que, a muitos quilómetros de distância, se destrua uma cidade inteira, quem pode evitar que um desses poderosos não acorde mal disposto e não faça funcionar a maldita atómica?
Tenho uma peça teatral escrita há muito tempo, â espera que um produtor que a queira representar, que apresenta o drama do fim do mundo. Chama-se “E a Terra, indiferente, continua rodando”. Está mesmo a propósito com a situação actual do mundo. Infelizmente.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

HARMONIA



Quem sou eu ? Pergunto todos os dias
Que faço aqui, que posso acrescentar
Que ganha a terra e que bem pr’ó mar
Com o que são as minha energias?

Se nada trago, se sou só mais um
Apenas números faço mover
Teria valido a pena nascer?
Digo que não como homem comum

Se queria saber mais e não sei
Se gostava ter um dom e não tenho
Se para muito me falta o engenho
Pr’a quê acabar o que comecei

Só vejo em mim algo de perfeito
Que não adianta mas não atrasa
Que não tem nada de golpe de asa
Mas, isso sim, não esconde o defeito

A coragem de dizer o que sinto
De expressar o que me vai na alma
De ser tão sincero, o que me acalma
Mas pelo menos não dizem que minto

Se na pintura me atrevo tanto
E a escrever vou por mares revoltos
Embrenhando-me nos versos bem soltos
Assim vou ao encontro do quebranto

Mas não, porque é a música que falta
Porque é a harmonia dos sons
E a delícia encantada dos tons
Que é do resto o que mais me exalta

Trocava tudo pela melodia
E deixava de lado a pintura
A música, essa sim, quando é pura
É também ela grande poesia

Mas, se tivesse andado em sinfonia
Em vez de me arrastar pela escrita
Como pela pintura, que desdita,
A vida me traria outra harmonia

Mas como não atingi tal desejo
Fico-me com o que me deu a sorte
Pois o que tenho certa é a morte
E o resto só lastimo e só invejo

CHIADO


A data de 25 de Agosto marcou os vinte anos que nos separam do pavoroso incêndio ocorrido no Chiado e que deixou aquela zona num estado deplorável, de tal forma que, quem conheceu bem o velho Chiado, como aconteceu comigo que ali passei muitos anos da minha vida, desde o ter estudado no interior do extinto Café Chiado, ocupado depois por uma companhia de seguros (!), até ter privado ali com velhos escritores, como Aquilino Ribeiro e com muitos políticos do contra a situação, na Brasileira, repito, quem viveu em pleno esse Chiado que já não existe, não pode deixar de sentir umas saudades infindáveis de tal período… até porque os anos contam e nessa altura éramos todos mais novos.
Na verdade, não posso esconder a minha opinião de que a transformação que ocorreu naquele local, em parte porque, lastimo ter de o dizer, a escolha de um arquitecto do Porto, por mais competente que ele seja, para proceder à remodelação depois do incêndio, não permitiu que ali existisse a mão de alguém que se identificasse plenamente com o ambiente que se vivia antes, essa alteração do que havia não foi feita por forma a não se perder completamente o cheiro e o sabor de algo que, não sendo fácil de reavivar, se poderia, pelo menos, aproximar do que era e do que foi.
As velhas casas de chá, onde iam diariamente figuras conhecidas, algumas até ridículas, como era o caso da mulher e filhas do então Presidente da República, Américo Tomás, as compras de fitas de nastro ou coisas parecidas nas lojas que ali existiam, como eram os casos do Último Figurino, Paris em Lisboa, David & David, Eduardo Martins, o próprio Grandella e os Armazens do Chiado, não esquecendo o precioso Martins & Costa e outras lojas que faziam parte da nossa própria existênciaas, as visitas à Bénard, à Marques e, na rua Nova do Almada, â Ferrari, bem como todo o conjunto de casas comerciais que ali se mantinham há muitos anos, era tudo isso que fazia parte de um ambiente completo que fazia as delícias dos habituais das idas ao Chiado por tudo e por nada.
É evidente que o arquitecto não podia recuperar esses estabelecimentos que arderam e os seus proprietários não voltaram aos sítios, mas teria sido conveniente que, até mesmo a Câmara Municipal de Lisboa, tivesse feito todos os possíveis para aproximar o depois do antes.
Seja como for, o Chiado de hoje não tem nada a ver com o que era e até os passeios diários de muita gente que utilizava o eléctrico que fazia e faz ainda o trajecto vindo da Estrela, essa rotina perdeu-se e hoje não acontece como quando se viam diariamente passar caras conhecidas e até a Livraria Bertrand e a Sá da Costa constituíam pontos de encontros de gente da área intelectual que ali faziam ponto de reunião.
Outros como eu, da minha época, quando se deslocam ao Chiado, agora só por necessidade, sentem, como eu sinto, uma nostalgia que não se pode evitar. E as novas gerações, essas não serão capazes nem têm necessidade de o fazer, de reviver uma época que, tendo também deixado pesadas marcas negativas, sobretudo pela proximidade da rua António Maria Cardoso de tão má memória, mesmo assim não se apaga facilmente da memória dos antigos.
Paz à sua alma!

sábado, 23 de agosto de 2008

SEMANA DE ASSALTOS


Sendo hoje sábado e não tendo tendência para assinalar qualquer facto que manchasse o espírito de quem me costuma ler – de que eu só conheço a quantidade que me é indicada, sem ter o prazer de conhecer os nomes e as características dos meus seguidores -, estava disposto a referir apenas as férias que José Sócrates foi gozar a Espanha, saudando-o pelo facto, na expectativa de que essas suas visitas, para além do descanso que lhe proporcionarão os dias de repouso, lhe poderão proporcionar abrir bem os olhos e constatar aquilo que o País vizinho tem para nos servir de exemplo e, dada a extensão de casos, não vou aqui enunciá-los agora, ainda que em textos anteriores me tenha já referido a diferentes situações de que se poderia aproveitar a experiência dos outros para, com os resultados já conhecidos, tirarmos partido e aplicarmos por cá o que outros têm como experiências aplicadas com êxitos.
Além disso, dado que o nosso primeiro-Ministro faz tanta questão em mostrar a sua amizade pelo colega de Espanha, não lhe ficaria mal se aproveitasse essa circunstância para obter muitos dados que nos seriam da maior utilidade. ,
Por exemplo, essa de termos de esperar sete e mais meses pela carta de condução renovada, quando, em Madrid, esse documentos é renovado no espaço de um quarto de hora, tal anomalia valia a pena aprender como é que o trabalho é ali feito e seguirmos as mesmas pegadas.
As, claro, que Sócrates não se rebaixa a esse ponto. E a nossa independência aljubarrotista não deixa que mostremos a nossa ignorância perante os vizinhos!...
Mas, afinal, apesar de não querer que o blogue de hoje apontasse casos de tristeza que ocorreram no nosso País, não é possível deixar passar a continuação dos assaltos, dos roubos, dos carjakings que parece que escolheram o nosso País como alvo de acontecimentos deste tipo, fazendo com que o nosso País se transformasse naquilo que, é verdade, é costuma acontecer bastante noutros sítios, sobretudo na América do Sul, mas que por cá se trata de uma verdadeira novidade.
Não têm conto as façanhas que ocorreram esta semana, ao ponto de, em plena tarde, ter até sido assaltada uma bomba de gasolina em plena rua Castilho, de Lisboa.
Não nos falta já nada para podermos assustar os turistas que costumam escolher Portugal para sua estância de férias, para não dizermos que nós, os que cá vivemos, andarmos já a andar ultra-cautelosos, a temer que chegue a nossa vez de ser mos assaltados em casa, na rua, no escritório, na loja, mesmo no café. Nem disso de que dispúnhamos, que era uma relativa tranquilidade no que diz respeito à nossa segurança, podemos continuar a gozar. O que nos vale é que cada vez temos menos para ser roubado, e pode ser que o desconsolo dos gatunos em não encontrar valores que mereçam o risco dos assaltos, os faça procurar outras paragens mais frutuosas.
Nós rimo-nos do que se está a pensar. Mas que as autoridades deviam já ter tomado posição para enfrentar a invasão de gatunagem, sobre isso não teremos dúvidas e, já agora, voltar a referir o caso da Justiça que temos e que, essa sim, está a pedir há muito tempo que sejam tomadas providências, se necessário até na Assembleia da República, para podermos dispor dos elementos legais que acabem com a vergonhosa actuação dos nossos tribunais onde, como se sabe, os criminosos não recebem os castigos que merecem e voltam a obter a liberdade logo depois de terem praticado crimes.
O que vale é que o que escrevo se situa num blogue, porque se fosse num órgão de Informação, certamente não sairia a lume. Mas, cala-te boca!...

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

BALOIÇO


Ao ar livre, sentado no baloiço
De trás para a frente, da frente p’ra trás
Somente o cantar das aves oiço
E mais do que pensar não sou capaz

Baloiço da vida que num vai-vem
Traz de tudo um pouco e sem sossego
Faz frente ao que seja, ao mal e ao bem
Olho p’ro mundo sem grande apego

Cá vou baloiçando em cordas puxadas
Mas sonhando com outras embaladas
Embora agarrado ao meu fio da vida

Calhou-me, afinal, este ondular
E o que me resta é só baloiçar
Nas cordas tensas até à partida

ADIAR, ADIAR...


Nós, portugueses, somos possuidores de muitas qualidades que não temos porquê ignorar. E uma delas, para nomear alguma, é a de que constituímos um povo com enorme capacidade para receber bem os visitantes. Nem em todos os países encontramos esta característica, e quem tem alguma experiência de viajar sabe muito bem que, nalguns sítios, deparamos com gente local que não se mostra muito disponível para uma ajuda, uma indicação, que um estranho lhe peça. E isso acontece mesmo em cidades grandes, de boa fama, sofrendo talvez até de excesso de visitas de estrangeiros.
Pronto, aqui deixo expressa uma qualidade que nos deve ser atribuída sem favor. Sinto-me à-vontade para apontar agora o reverso da medalha, ou seja uma característica negativa, sendo que essa, por sinal, só nos prejudica a nós próprios portugueses.
Trata-se do longo tempo que levamos por cá para solucionar qualquer problema que surja na nossa existência como país. Apontamos a questão que precisa de ser resolvida, levanta-se essa falha na Imprensa, por vezes salta um membro do Governo a informar que os responsáveis estão atentos e que se vai criar um grupo de trabalho ou que o ministério responsável directamente está a estudar o assunto e, a partir daí, Portugal senta-se confortavelmente à espera de que a questão seja resolvida.
Entretanto, passa-se tempo. Muitos meses. Muitos anos. Acontece até que muda o Governo – como já sucedeu – e o tal problema que foi descrito como a necessitar de reparação, de emenda, de criação de estruturas de qualquer espécie, por vezes só de decisões de quem tem poder para as tomar, esse problema mantém-se a aguardar a sua oportunidade. Nada acontece.
Isto vem a propósito da chamada regionalização, mudança na divisão do País em zonas que ficam com a responsabilidade de actuar nas medidas que devem ser tomadas numa certa zona, libertando assim o Poder central de intervir desde Lisboa em problemas que as próprias regiões conhecem melhor, pois essa medida, anunciada há vários anos, falada em diferentes ocasiões, defendida por políticos de partidos e atacada por outros mesmo pertencendo ao mesmo grupo, tem-se arrastado e continuamos a aguardar que surja um dia a solução, desde que ela corresponda a uma melhoria da actuação política, social, económica e de todos os sectores que sejam úteis aos cidadãos. E que não constitua uma aumento de gastos no sector público, criando-se mais complicações, mais burocracia, mais papelada, que é aquilo que muitos velhos do Restelo tanto apreciam para dar mostras do seu poder.
Mas, desde logo, repito aqui a teses que eu defendo há muitos anos e que não há forma de surgir um Executivo com coragem para dar esse passo: trata-se de transferir todos os ministérios que se encontram instalado no Terreiro do Paço (e sobre isso, também já me referi várias vezes à utilização da Praça do Comércio para fins culturais e de hotelaria de luco) e criar, num local bem estudado, o chamado Bairro dos Ministérios, onde, num só sítio, se colocariam todas as repartições públicas que se encontram espalhadas pela cidade de Lisboa. Mas eu já falei deste tema. E nenhum Governo foi capaz de, em harmonia com a Câmara Municipal, dar esse passo fundamental para que se possa fazer o que também está anunciado há anos e que também se situa no campo dos pendentes.
Também, só depois dessa medida é que valeria a pena efectuar a estruturação da administração pública, provavelmente com a criação de novos ministérios e a anulação de outros. E, nessa altura, seria também o ideal para avaliar se o número de funcionários públicos que existem estão em conformidade com as reais necessidades.
Eu bem me posso cansar a dar estas sugestões aos governantes. Mas eles têm outras preocupações, mesmo que não consigam solucionar o problema do baixo nível de vida dos portugueses.
Este Governo… e todos os outros que se lhe antecederam.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

DUAS NOTÍCIAS


Isto de se passarem no mesmo dia acontecimentos que nos deixam de boa disposição e outros que nos entristecem profundamente, são, como é natural, circunstâncias que a vida nos proporciona e que nós, humanos, não temos outro remédio que não seja suportar e reagir de acordo com a disposição que formos capazes de ter nessa altura.
Pois foi, exactamente, o que ocorreu hoje, depois de uma série de situações que, no nosso País, têm sido criadas com os roubos e assaltos que parece que combinaram surgir todos na mesma altura, uns seguidos aos outros, e que criaram na população um desassossego que, mesmo tendo-se passado num mês tradicional de férias, têm amargado bastante os portugueses. Tantos casos de uso da mão armada para extorquir valores, já não só em bancos mas igualmente em estabelecimentos de outros negócios, essa “febre” era só conhecida por cá pelo que se via nos filmes, sobretudo os americanos.
Mas, quanto às duas notícias de hoje, a boa foi a da medalha de oiro que foi ganha em Pequim pelo Nelson Évora, pois todos nos encontrávamos completamente desmoralizados pelo facto de, até agora, não terem os nossos atletas conseguido posições cimeiras nos Jogos Olímpicos na China.
A outra notícia, que teve de tocar a todos, os que viajam ou mesmo os que só têm contacto visual com o avião, com o acidente ocorrido no País vizinho, em Madrid, no aeroporto de Barajas, em que morreram mais de 150 passageiros e tripulantes.
Tendo estado sem fazer os meus blogues diários, por casmurrice do meu computador que entendeu avariar sem sequer me avisar antes, hoje não quis ir muito longe nos meus pensamentos. E fico-me por aqui, a assinalar os dois casos que, sendo antagónicos, têm todo o direito a ser referidos com toda a naturalidade.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

REVOLTA


Que revolta
desconsolo
ansiedade
bem queria dar a volta
e ir até ao miolo
da minha obscuridade

Verdade
mistérios
respostas claras
estou pleno de vontade
que me mostrem factos sérios
sem inventos e sem taras

A suceder
a dar-se
ter fé como crentes
não terei o que temer
que usar qualquer disfarce
para me mostrar às gentes

Séculos passados
dois mil anos foram
sem provar
nem fanáticos nem letrados
nem aqueles que tanto oram
no que eu quero acreditar

Ter fé é preciso
querer saber
respostas das questões
terei de perder o siso
basta entregar-me ao crer
sem pôr quaisquer condições

Triste ignorância
querer aprender
com independência
só me restará a ânsia
de ir sem satisfazer
tão grande impaciência

Sacanices
e invejas
grandes perseguições
um mundo de aldrabices
só beatas nas igrejas
o perdão com confissões

É o céu
e o inferno
bondade e Satanás
desconfiam do ateu
e até o próprio Governo
não quer fazer marcha atrás

Ser sério,
honesto
frontal
não aceitar o mistério
há que não dar o pretexto
de sem saber dizer mal

Será assim
vida fora
sempre igual
pergunto à volta e a mim
mas não sei aonde mora
quem me dê algum sinal

Por isso
contrariado
temente
fechado no meu ouriço
sem fé e amargurado
não sinto o que outrem sente

No Além
fora do mundo
ali
será que haverá alguém
que me faça ver bem fundo
aquilo que nunca vi
?

DESENCANTO... POR ENQUANTO!

Faço o possível para ler toda a poesia que me chega às mãos.
A que é publicada e apreciada, pelo menos pelos editores que lhe deram oportunidade de surgir impressa.
Concluo que não tenho sensibilidade suficiente para ser tocado por certos poemas sem métrica, sem rima, conjunto de palavras sem significado à primeira e à segunda vista.
Está muito para lá do meu entendimento.
Ou será que, tal como aquela que alguns denominam como música, afinal é só barulho?
Também há poemas que não respeitam o silêncio…

sábado, 16 de agosto de 2008

AO MENOS MAL!


Neste período de férias, em que as disposições não são as melhores para tomar conhecimento de más notícias, mesmo não querendo quem, como é o meu caso, não dá descanso à ansiedade de estar sempre ao corrente do que se passa no mundo em que vivo e, naturalmente, chamando mais a atenção aquilo que rodeia mais de perto, não faz de conta e busca nas notícias aquilo que causa alegria e, mesmo contrariado, tomando conhecimento do que provoca tristeza e preocupação.
Pois este mês de Agosto tem sido fértil em roubos, sobretudo aos bancos e, como já se tornou acontecimento vulgar, às caixas multibanco que têm provocado um apetite desenfreado aos assaltantes destes pesados cofres públicos.
Sem querer descrever os casos ocorridos recentemente que mais parecem ser extraídos de filmes americanos deste tipo, pois os noticiários, sobretudo os visuais, foram pródigos em mostrar as imagens que todo o País pôde ver, basta que me fique pelas notícias dadas na generalidade da situação portuguesa quanto à lástima da situação que vivemos e que, segundo parece, nem o Governo nem as Oposições se têm preocupado muito com os temas, pois nem uns nem outros têm incluído nas suas comunicações estes pontos que, quanto a mim, nos têm de fazer pensar, já que outra coisa ao Povo não cabe outro papel a desempenhar.
Começo por transcrever aquilo que constituía um título de um diário lisboeta e que dizia assim, com todas as letras: “Portugal tem o maior fosso entre ricos e pobres” , acrescentando que há 334 mil portugueses a viver do Rendimento Social de Inserção e do Rendimento Mínimo Garantido, indo mais longe a notícia ao acrescentar que, de 2004 a 2008 o número de beneficiários cresceu 437%. E outro jornal foi mesmo ao ponto de afirmar que continuamos a ser o país da União Europeia com o maior fosso entre ricos e pobres. Vá lá, para conseguirmos ir à frente em alguma coisa!
Em acréscimo a essas notas bem tristes, foi possível ler noutro periódico que, desde o ano 2000, estão por encontrar 51 foragidos das prisões nacionais e que, este ano, já fugiram das cadeias dez presos. Outro prémio que nos cabe assinalar nisto de campeonatos de incompetências. Já que, nos Jogos Olímpicos de Pequim, até agora não conseguimos mostrar ao mundo que somos alguma coisa que tem algo a dizer e a mostrar, pelo menos que os josnais de outros países se refiram anós nem que seja por motivo de um rapto/morte de uma criança inglesa que foi assunto ao longo de muitos meses. Já estou como alguém que dizia "falem de mim, ao menos mal!...
"

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

DESENCANTO... POR ENQUANTO!



Ao relembrar todo o meu longo passado, a caminhada percorrida até aqui desde que era a criança sonhadora, contemplativa, que fabricava na cabeça o futuro cor-de-rosa sem abandonar as obrigações do presente de então, ao dedicar-me a todo esse extenso e cansativo exercício não sei, francamente, se acabo por concluir que daí possa sair alguma coisa de útil, de positivo.
Perante a estafa que constituiu essa minha desfilada, com encantos e desencantos, não sei avaliar se, com uns e com outros, me apeteceria voltar atrás.
Começar tudo de novo.
Teria chegado hoje a um resultado diferente?
Por agora, prefiro esgotar o tempo que me resta.
E admitir que algo de aceitável ainda poderá surgir.
A esperança, por pouca que seja e que morrerá no mesmo momento em que isso me acontecer a mim, não fica para contar seja o que for.
Nem sequer contribuirá para sustentar esta insatisfação que não me deixa.


APRENDER ESPANHOL


O turismo sempre foi, há muitos anos, (que vêm desde épocas muito anteriores à Revolução), uma actividade que contribuiu
para o enriquecimento da nossa economia de uma forma importantíssima. Já fiz esta afirmação em texto anterior e considero que é essencial que todos nós, cidadãos portugueses, tenhamos sempre presente esta realidade. Se é um bem para Portugal acolhermos visitantes de outros países – e, na situação de hospedeiros, cumprimos bem, de facto, essa missão -, já que a nossa vocação nunca foi a de irmos vender os nossos produtos ao estrangeiro, então que tiremos o maior proveito possível daquilo que a Natureza nos brindou, que é um razoável clima ameno, uma Natureza e uma paisagem acolhedoras e uma posição geográfica, com o Oceano em nosso redor e as múltiplas praias existentes que se prestam a aprazíveis férias, a todos os visitantes que não contam com estes benefícios nas suas terras.
No caso da Europa, que é potencialmente o grupo que mais perto se encontra e, por isso, potencialmente é o fornecedor preferível de turistas em Portugal, sendo o Reino Unido o país que, tradicionalmente, sempre usou o nosso destino para centro de descanso e, em muitos casos, muitos dos seus súbditos acabam por escolher o Algarve para passar o resto da sua vida, há uns tampos a esta parte são os espanhóis que ocupam o primeiro lugar no número de entradas. Sobretudo por via terrestre, já é muito vulgar hoje – e neste mês de Agosto esse facto nota-se a olhos nus – cruzarmo-nos com um número verdadeiramente espantosos de automóveis com matrícula do País vizinho. E não só na época de férias, mas também sempre que ocorre um feriado e coincide com uma “ponte” que em Espanha também é usual ser aproveitada, logo as zonas turísticas portuguesas se enchem de carros pertencentes aos nossos vizinhos peninsulares. Vem isto a propósito da língua. É sabido que, ao contrário da nossa habilidade natural para nos entendermos com estrangeiros, ou porque temos bom ouvido para outros idiomas e a prática de ouvirmos filmes nas línguas originais nos familiariza com esses falares, ou porque temos uma natural boa vontade em ajudar os outros que não sejam portugueses, seja pelo que for a verdade é que os estrangeiros não se sentem impedidos de satisfazer os seus desejos mesmo usando só a sua própria língua.
Mas, no que diz respeito ao espanhol, já o caso mudas de figura. Será porque os portugueses se convencem que se trata de um idioma que também dominam e, por isso, inventaram uma fala que muitos chamam “portunhol” e que consiste num acréscimo de uns iis no meio das palavras, coisa que acaba por se transformar em ridículo.
É verdade que, ao contrário do que sucedia anos atrás, hoje muita juventude está a optar por universidades espanholas para completar os seus estudos, não só por uma questão de custos, mas também porque, por exemplo em medicina, as exigências de médias mínimas não se verifica no outro lado da fronteira. E, com a habilidade nata que temos de dominar outros idiomas, logo essa juventude penetra no espanhol com rapidez.
Mas, voltando ao caso do turismo, o que é urgente resolver é, sobretudo, na área da hotelaria. Provavelmente seria útil criar cursos de espanhol prático para os alunos que enveredem pelas profissões que tenham contacto com o público, ao mesmo tempo que a nossa promoção turística no exterior deveria ser impulsionada nas zonas que potencialmente melhores condições têm de enviar visitantes ao nosso País.
Continua-se por cá agarrado ao “aljubarrotismo” e ainda existe muita gente que sofre do complexo do Pais mais pequeno ao lado do vizinho maior.
Quantos anos mais vão ser necessários para provar que a união faz a força e que, sobretudo neste fase de crise grave internacional, juntos seremos menos fracos e talvez possamos resistir ao que, segundo os técnicos económicos avisam, teremos de enfrentar um ano de 2009 ainda mais feroz do que o que está a correr?

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

FASCINANTE



O que é ser fascinante para mim?
por exemplo é ver a natureza
dos campos e também do meu jardim,
como ouvir o coração com pureza;
não invadir o espaço alheio
e aproveitar todos os momentos,
é ter todos os dias o anseio
de a humildade praticar aos centos;
só se arrepender do que não fez,
estimular a criatividade,
brincar, como em criança talvez
e também chorar a felicidade;
ter pensamentos positivos é
fascinação plena de auto-estima
e perdoar às pessoas até
a vida não ter de ser uma esgrima;
descobrir que dos outros precisamos,
como aceitar que tudo tem limites
e mesmo aquilo que não gostamos
deva ser razão para que tu grites;
respirar a bela brisa do mar,
como curtir as pequenas vitórias
são coisas fascinantes e sem par
ao mesmo tempo verdadeiras glórias;
não prometer se não podes cumprir
é algo sem qualquer fascinação;
falar dos outros mal só é servir
para provocar grande confusão;

ter fascínio por algo fascinante
é poder ficar contente consigo
não é ser santo mas estar constante
com um sentimento muito amigo.

Depois deste sonho bem acordado
do que gostaria de ser sem ser
encarando de frente o meu fado
reconheço em mim um homem qualquer

DESENCANTO... POR ENQUANTO!



Contemplo as pessoas que passam e faço a minha análise do povo que somos no nosso burgo. E se o panorama que observo ocorre em Lisboa, no interior do País não é muito diferente. No que diz respeito à demografia. Até será mais acentuado.
Não tenho números para saber em que percentagem, mas, à vista desarmada, a quantidade maior de gente que passa, agora que estou a fazer essas contas, é de gente idosa. Juventude só de vez em quando.
Isso quer dizer que Portugal está a envelhecer a olhos vistos. O que obriga a pensar no futuro, no próximo e no mais longínquo.
Mas não é apenas neste rectângulo que tal fenómeno está a acontecer. Segundo os números que são divulgados, os europeus não têm muitos filhos. A média é a de cada casal ter um descendente, ou seja, de cada dois sai um novo. Mas desde que a Europa escancarou as suas portas à imigração de todas as partes chega gente à procura de melhor vida do que a que têm nas suas origens. E, por pouco boa que ela seja, sempre será de nível superior à que tinham nas suas terras longínquas.
Todavia, como não conseguem libertar-se dos seus hábitos ancestrais, ou seja, como mantêm a ânsia de ter muitos filhos, mesmo mudando de ares não conseguem alterar os seus princípios. Também porque para eles os filhos, especialmente os machos, representam uma espécie de previdência social, de segurança para a velhice. Para além de que o respeito pelos idosos, em particular pelo mais velho, é hábito que se mantém, ao contrário do que ocorre vulgarmente no meio ocidental.
O que se passa, pois, é que tais imigrantes continuam a ser prolíferos. Mudam de sítio mas não perdem os costumes, os de terem muitos filhos, seis, sete, oito… E é essa geração que está a ocupar o lugar daquela que tem vindo a ser formada por rapazes e raparigas europeus de ancestralidade.
Por isso, a cor da Europa está a mudar. Basta olharmos para quem passa para constatarmos que tal mudança é cada vez mais visível. Será um curioso exercício tentarmos vislumbrar o futuro. Que se passará daqui a cinquenta anos ou até ainda antes? Provavelmente o mesmo que ocorria na minha juventude que era, de quando nos cruzávamos na rua por um indivíduo negro, beijávamos a unha do dedo polegar e dizíamos “um gosto”. Quem viver verá se se passará o contrário, se caberá a vez aos negros de ter esse gesto quando surgir um branco por essa Europa fora…

terça-feira, 12 de agosto de 2008

DESENCANTO...POR ENQUANTO!


Viajar é um prazer por que a maioria dos mortais anseia. Ver coisas distintas, diferentes povos que falam outra língua, que se comportam de modo desigual do nosso. Com excepção dos que se sentem bem onde estão, não têm meios para deslocações ou a falta de saúde não lhes permite que saíam do mesmo sítio, todos os outros albergam a curiosidade de ir mais além. De ir à descoberta. De ir ver outras paragens.
Mas para ver não basta apenas olhar. Olhar e não ver é uma situação bastante frequente em muitas pessoas. Que, ainda por cima, não distinguem uma coisa da outra. Vão visitar outras paragens, olham e não decifram a importância do que lhes aparece à frente. Nem o seu significado. São como aquele que foi a Paris, depois de ter economizado durante muitos anos o necessário para aquela aventura e, ao regressar, ao lhe ter sido pedida a opinião sobre a cidade, respondeu: “Que grande!”.
Mesmo dentro do próprio país, existem diferenças que vale a pena serem apreciadas. Então, quando há a oportunidade de cruzar a fronteira, quando é outra língua que se fala e são outros hábitos que se encontram, não se pode perder a ocasião de estabelecer a comparação. E medir se as diferenças jogam a nosso favor ou a vantagem é dos outros. Se não se produz essa avaliação, se se fica apenas pelo que se olha, então, na verdade, não se vê. Perde-se o essencial.
Podemos ser vaidosos daquilo que somos e do que temos. Estarmos satisfeitos com o nosso passado e com o presente. Cada um é dono da sua opinião. E o chamado “amor à Pátria” não deve ser objecto de discussão.
Do mesmo modo, a crítica, o descontentamento, a análise negativa daquilo que somos e o desejo de sermos melhores, todas essas atitudes não podem ser vistas como desamor. Estar satisfeito com o nosso comportamento, não desejar mudar nada, preferir sermos como somos do que procurarmos nos outros exemplo para melhorias, será uma posição que se respeita, não tem de ser apelidada a priori de patriotismo doentio., ainda que, reconheça-se, pouco positivo. Estar bem como está é tão aceitável como quem deseja mudar. No entanto, o desejável é que seja para melhor.
Seja como for, para quem está disposto a isso, o viajar é respirar ar diferente. E pode constituir um aumento de cultura, um alargamento de horizontes. O que é fundamental é pôr todos os sentidos a funcionar em pleno, para que o sair de onde vivemos não seja uma mera distanciação. Digo eu.



ESPANTO


Esta vida é um espanto
Este mundo bem espanta
O humano desencanta
Seja por nada ou por tanto

Há quem abafe com manto
A dor que sai da garganta
Mas não há é quem garanta
Que o mundo muda em encanto

Quem acredita entretanto
Que ter fé algo adianta
Anda perto de ser santo

Porque isto não tem planta
Nenhuma em qualquer canto
Caiu e não se levanta



segunda-feira, 11 de agosto de 2008

ENGRAVATADOS



A aparência visual de um indivíduo é muito levada em conta no relacionamento que é tido em sociedade. Nas mulheres, essa característica é mais forte e será por isso que as modas no vestuário têm muito maior influência no sexo feminino do que nos parceiros contrários. Esta é uma verdade de La Palisse que não acrescenta nada ao que é sabido por toda a gente.
É evidente que as classes sociais a que pertencem uns e outros contam de forma decisiva quanto a essa preocupação de acompanhar o que está a ser mais usado, não sendo, por isso, de estranhar que exista uma camada substancialmente elevada de mulheres que não anda ao corrente do que se usa em cada temporada, por desinteresse ou por obrigação do baixo nível de vida que suportam. Já quanto aos homens, ainda que seja cada vez menor o número de indivíduos que não acompanha o que surge como mudança no vestuário e também a forma de apresentar o cabelo, mesmo assim o conservadorismo, ou seja a maneira de se apresentarem, quer no trabalho quer noutra situação diária, esse matem-se e existem mesmo empresas que exigem que os seus funcionários se apresentem sempre de casaco e devidamente engravatados.
Posto isto, há que referir os modernistas, para se lhes dar um nome, que são aqueles que, por exemplo no penteado, têm o maior cuidado em ir mudando as suas popas no cabelo ao sabor do que está a ser a forma de figuras masculinas conhecidas surgirem nas fotografias. Mas, para além disso, o trajar também vai sofrendo mudanças, ao ponto de, nas recepções que se realizam por aí, mesmo que no convite esteja indicado o uso de fato escuro, uma enorme quantidade de gente, de facto a mais nova, surja só de camisa, sendo certo que se trata desse vestuário dito de marca, de cores garridas, com muitas fantasias empedradas, o que elimina, logo à partida, o uso do casaco. Há um exemplo que está a ser muito seguido e que é transmitido por uma figura que tantos utilizam como exemplo: o caso de Herman José.
Mas, a razão deste meu texto hoje tem a ver com um acréscimo de vestuário masculino que, de dia para dia, se está cada vez mais a pôr de parte: a gravata.
Todos nós acompanhámos mais de uma geração de vida em comum e assistimos à obrigação de os homens, fosse qual fosse a sua profissão, não sendo mesmo necessário que se tratasse de actividades de nível superior, terem de levar, apertado no colarinho, a gravatinha, ainda que, por vezes, se apresentasse já em condições definitivas de uso. Os governantes então, seria impensável vê-los sem esse adereço e, no tempo de Salazar, era conhecido que até chapéu eram obrigados a levar, nem que fosse na mão. Um ministro que se prezasse não andava de cabeça à mostra!
Só que os tempos correm depressa, as gravatas, especialmente no Verão, começaram a ser deixadas nos armários e hoje, até as reuniões alto nível, as próprias cimeiras da União Europeia, e, entre nós, na própria Assembleia da República, já é possível ver os deputados em mangas de camisa e desgravatados. O próprio Presidente da Republica, só ou acompanhado do primeiro-Ministro, ambos têm surgido nas fotos e perante as câmaras de televisão em amplo à-vontade, evidentemente em actos que não exigem rigoroso protocolo.
Este desprendimento de vestuário pode querer representar que nos estamos, em Portugal, a afastar do convencionalismo, o que poderá representar que estamos a deixar para trás a burocracite que tanto invade as cabeças do sector público.
Se assim for, eu, por meu lado, felicito os indivíduos formais que estão a ser capazes de acompanhar as modernices, mesmo que nos divirtam aquelas figuras que, sendo ainda raras, deixam os homens confusos sobre a sua verdadeira interpretação do sexo a que pertencem. Mas, é lá com eles. Se não se importam de provocar essa confusão e se até tiram proveitos materiais com o seu aspecto, pois que continuem. Não lhes chamem é palhaços, pois, da minha parte, tenho o maior respeito por uma profissão antiga que exige grande dedicação para se atingir um ponto alto na classe a que pertencem. Esses até podem usar gravatas que caem do colarinho até ao chão, e não é por isso que lhes recusamos o apreço que merecem.

DESENCANTO...POR ENQUANTO!


Numa altura em que surge de novo o que já foi alvo de discussões acaloradas em tempos passados, ou seja a tese de que Jesus Cristo terá sido casado com Maria Madalena, que teve pelo menos um filho e não ressuscitou depois da prova da crucifixação, neste momento ponho-me a reflectir sobre a importância que terá, para os crentes não facciosos, que o referido Ser, que historicamente terá existido e cujo nome ficou gravado ao longo de dois mil anos pelas posições tomadas que foram, parece não haver dúvidas, de bondade, justiça e amor aos outros, que peso terão esses factos para alterar o respeito e admiração que existirá em relação a uma figura da dimensão da que chegou até aos dias de hoje. E ponho-me a avaliar o que poderá alterar, na visão histórica e respeitosa que se mantém até à data, o facto de sim ou não ter dado o passo matrimonial bem como a natural circunstância de ter sido pai de um ou mais filhos. Parece-me, sinceramente, que não será por aí que se admire ou não essa personagem que tem tantos seguidores. Porque, a não ser por motivos de intuito de conotação milagrosa da conveniência de um núcleo religiosa, nada disso altera valor à importância de um Homem que se distinguiu por si só.
É evidente que qualquer religião, por ser produto da imaginação humana, neste caso, a seguidora do cristianismo, tira partido de todos os factores, naturais ou fruto de situações de difícil explicação que bem podem servir para atrair o seguimento incondicional de um culto. Nesse particular, os seres humanos, apurando cada vez mais técnicas de propaganda e de aglomeração de seguidores de ideias e cultos que não têm possibilidade de serem demonstrados provadamente, servem-se de todas as situações que têm possibilidade de ser associadas a qualquer tipo de mistério para tirar partido e servir de justificação das fés que apregoam. E quando não é possível justificar o que se encontra envolto em obscuridade de fácil explicação, a solução é a ameaça de que os incrédulos não têm merecimento das benesses que, alguma vez, os seguidores incontestáveis receberão após a passagem para o Além. Em tal particular, praticamente todas as religiões se regem pela mesma bitola.
Visto o tema sob esta óptica e sem se deixar influenciar pelo seguidismo cego, fundamentalista, não trazendo à discussão o período até aos trinta e três anos em que Cristo viveu na obscuridade, compreende-se que as indicações sempre oriundas do Vaticano se concentrem na passagem breve do período da criança imberbe passando em pleno para a época da vivência com os apóstolos e até à sua morte.
Em todas as áreas geográficas onde o cristianismo não consegue dominar na totalidade as outras religiões submetem-se aos seus deuses e são conhecidas as lutas e mortes que se produzem para afastar crenças concorrentes. É o resultado de ser o homem a dominar as religiões e não o contrário e, como disse Pessoa, a razão e a fé, quando se aproximam, guerreiam-se. E, apesar dos séculos passados, é visível que os mouros não apagaram da sua memória as matanças feitas pelos Cruzados nas invasões a terras do Médio Oriente.
Andarem agora os cristão, amuados uns com os outros e com os agnósticos, por motivo de haver quem queira apurar se Jesus Cristo foi casado ou não, se teve filhos e se jazeu na campa como qualquer mortal, manter-se essa preocupação numa altura em que as guerras santas dão mostras de não querer parar, é algo que não pode ser levado a sério neste mundo de confusões e de desavenças.




domingo, 10 de agosto de 2008

ESBOCETO


Se eu agora fenecesse
E nem despedir-me pudesse
Haveria alguém que quisesse
Rezar por mim uma prece?

Eu, por agora, agradeço
Mas é coisa que não peço
Já vem de longe, do berço
O não estar perto do terço

Pode bem ser que o orar
Acabe por desagravar
Um pecado particular

Fica aqui este soneto
Com um esquisito aspecto
Não é mais do que um esboceto

JARDIM DE S. PEDRO DE ALCÃNTARA


Um dos locais da minha preferência de Lisboa, por constituir um ponto de passagem nos meus tempos de juventude quando ia visitar a minha avó que morava na parte de cima da rua do Século e, anos mais tarde por ser o caminho que me levava aos Serviços de Censura no largo da Misericórdia, onde era castigado com os cortes que eram feitos nos textos de minha autoria nos jornais onde trabalhava, e, ainda tempos depois, porque a redacção do semanário “o País”, de que fui director durante dez anos, se situava na rua D. Pedro V e os almoços ocorriam, de uma forme geral, num restaurante do Bairro Alto, por esse motivo, sempre que o tempo o permitia não deixava de fazer o trajecto por dentro do belo jardim e ir apreciando a vista de Lisboa, com o Castelo de S. Jorge ao longe. Refiro-me, está a ser entendido, ao Jardim de S. Pedro de Alcântara.
Mas essa delícia de espectáculo nem do interior do carro me era permitido continuar a desfrutar, desde que há anos, já nem me recordo quantos, se deu ali início a umas obras cujos painéis colocados junto à rua tapavam todas as vistas. E assim, bem à portuguesa, enquanto os trabalhos deviam prosseguir – porque estiveram parados tempos sem fim, dizem que por falta de pagamento aos empreiteiros -, o belo local de Lisboa, que constituiria bastante inveja a tantas cidades estrangeiras que não têm a sorte de possuir locais elevados como acontece com a nossa capital, ficou entaipado e nós, portugueses que nisso de paciência ganhamos aos chinos, caladinhos e sem exigir das que se dizem autoridades que cumprissem a sua obrigação, gritando-lhes bem alto que, como afirma o Povo, quem não tem dinheiro não tem vícios, que é como quem diz, se não havia verba para contratar a empreitada, então não se tinha começado para, logo a seguir, parar.
Mas isto é o que continua a acontecer no nosso País, em que temos mais olhos que barriga, e só por um fulano, que tem poder, lhe apetecer que alguma coisa se modifique ao seu olhar, sem investigar primeiro se os cofres que guardam os euros para um determinado fim chegam para satisfazer esse apetite, põe logo a máquina dos gastos em funcionamento e, a meio do caminho, aperta a cabeça ao ver que não se precaveu quanto ao compromisso tomado. Exemplos? Mas alguém precisa que se faça aqui a lista que não tem quase fim?
Já no que diz respeito aos preços dos produtos, mesmo os de primeira necessidade, que sobem, sobem, como o balão da cantiga, quanto a isso ninguém, dos tais que mandam, se preocupa em saber se, nos bolsos dos contribuintes, há meios para satisfazer as exigências do aumento de custo de vida. É o caso da água que, este ano, subiu de 1 a 6%, segundo a zona onde se reflectiram esses aumentos, circulando já o aviso de que não se ficará por aqui o custo do tão precioso líquido, esperando-se apenas pelo próximo acto eleitoral para todas as autarquias poderem actuar na sua área com um novo modelo de tarifas.
E preocupamo-nos nós com os discursos inesperados e mal estudados do Presidente da República, com os assaltos tipo cinema a uma loja bancária, os carjackings e os home jackings (até precisamos de expressões inglesas para expressar o que em português se diz tão simplesmente assalto a automóveis), e outros assuntos que acabam por não merecer sequer a nossa atenção tão preocupada! Nós, que diariamente nos defrontamos com a fuga dos euros das nossas carteiras, e que nem sequer nos podemos consolar com alguma medalhinha que possa vir de Pekin – bem sei que, nesta altura em que escrevo, ainda não terminou o Festival -, que, por pouco ou nada que melhorasse a nossa vida, pelo menos sempre nos traria alguma compensação para o resto que corre tão mal cá pelas Berças…

sábado, 9 de agosto de 2008

UMA LIÇÃO DOS CHINESES


Todos nós, pela vida fora, ocupamos parte do nosso tempo a pensar no mundo que nos rodeia, naquele que se encontra à nossa volta, mas também no que está afastado geograficamente mas que, com a rapidez das notícias que as modernas tecnologias nos oferecem, por vezes tocam-nos mais perto do que um acontecimento que se tenha dado mesmo à nossa porta. E quando me refiro a “nós”, quero dizer os que se interessam pela evolução do mundo, pelo aparecimento de novos problemas, geralmente criados pelos homens, pelas novidades tristes mas também pela evolução favorável de situações que o mesmo homem consegue transpor. E tudo isso dá que pensar, a menos que passemos por este mundo completamente indiferentes ao que sucede, admitindo sempre que “não é nada connosco!” .
Mas, queiramos ou não, por muito longínqua que seja a situação que ocorra, mais tarde ou mais cedo alguma faúlha nos acaba por cair, por muito ao de leve que ela nos atinja.
Podia apresentar aqui uma dezena de exemplos, mas creio que os tais “nós” não precisam de explicações para atingir o que pretendo dizer nesta minha afirmação.
Por agora, fico-me no acontecimento que todo o mundo acompanha e refiro-me ao espectáculo inigualável, preparado com todos os requintes de uma organização que mostrou não tomar as iniciativas de ânimo leve e não as pôr em prática sem um profundo estudo e uma programação que assenta em preparativos meticulosamente ensaiados. Nada daquilo que o mundo viu foi fruto de uma improvisação a ver se saia bem. No que a nós diz respeito, não temo afirmar que nós, portugueses, sobretudo os que nos governam, tivemos e tiveram ocasião para aprender alguma coisa: que, na vida, é fundamental levarmos mais tempo a estudar bem a resolução dos problemas, para depois tudo sair dentro do programado, do que atirarmo-nos de cabeça para as ideias que surgem e, a meio ou no final da obra, depararmo-nos com atrasos, enganos nas contas, numa palavra, sair tudo ao contrário do que se tinha previsto. A bom entendedor, meia palavra basta…
A abertura, embora bastante limitada ainda, que a morte de Mao-Tsé Tung provocou no enorme País que é a China, com o seu bilião e 300 milhões de habitantes, provocou, no mínimo, a saída para o estrangeiro de muitas centenas de milhar de habitantes que, fora de portas e por tudo que é sítio, se empenham em dar mostras da sua capacidade de trabalhar e do esforço físico que empregam onde quer que actuem, sem exigências e limitando-se a expandir os seus próprios produtos pelo mundo fora, criando comunidades pacatas, quase silenciosas, que dão mostras bem contrárias às de muitas outras manchas de imigrantes que, após se instalarem, levantam problemas de ordem social e fazem exigências que, ainda que com algum direito, por se tratarem de seres humanos, por vezes dão mostras de impaciência pouco salutar.
Ora, é nisto que me dá para pensar nesta altura, Sobretudo logo a seguir ao assalto ao banco que, com reféns e tudo, provocou uma alteração na ordem que, no nosso País, não é costume ocorrer. Eram brasileiros os autores da atitude criminosa, o que não quer dizer que seja um caso que ponha os nossos irmãos na língua na lista dos indesejáveis em Portugal. Nem por sombras, embora haja alguns exemplos de outras nacionalidades que merecem uma cuidadosa atenção.
Mas aqui está o que constitui o início deste texto. Dá que pensar a evolução que está a sofrer o nosso País com a entrada de tantas nacionalidades que escolheram Portugal como ponto de assentamento das suas vidas, Mas não podemos esquecer que, quando, noutra época, os portugueses tiveram necessidade de deixar para trás as nossas fronteiras, foram acolhidos, de uma forma quase geral, com agrado e com amizade.
Faz-nos pensar que, afinal, este Povo que somos, é bem comportado, paciente, sofredor. Por isso fácil de ser governado.
Sendo assim, muito embora a situação actual não seja fácil de conduzir com agrado geral, podemos todos aprender dos chineses que as acções devem ser tomadas com sensatez, ponderação e sentido prático assente em estudo para não serem cometidos erros de precipitação.
Podemos não ganhar nenhuma medalha olímpica, mas o que sim pode ser já um prémio valioso é aprendermos a lição dada pelo espectáculo oferecido pelos chineses. Mais não posso dizer.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

DESMISTIFICAÇÃO


Eu quero que quem me observa
Acabe com má ideia
Que poesia conserva
De tristeza a mão cheia

Não senhor, não é verdade
Que o pessimismo impere
E que se incuta a vontade
De só ver o mal que fere

Alguma angústia, é certo
Invade a poesia
Nem de longe, nem de perto
Constitui a maioria

Cá por mim posso falar
Faço esforço quando escrevo
Ficarei no limiar
Da desgraça e do enlevo

Por vezes me escapa a mão
P’ra lágrimas e suspiro
Sendo assim peço perdão
Tudo que disse retiro

No fundo há sempre fé
Que amanhã seja melhor
A vida é o que é
Antes assim que pior

Afinal o que é verdade
É que os poemas chorados
Dão mais ar de piedade
Levam mais longe os recados

Ao reler o que está escrito
O triste encontro mais
Pois perdura no que é dito
E lido em jogos florais

Quero que fique bem claro
Não sendo um contentinho
Também não sou tão amaro
Com a mente em desalinho

Basta de falar de mim
O que importa é o mundo
Com seu princípio e fim
E coisas belas em fundo

PORTAGENS EM LISBOA


De facto, há problemas que surgem a quem tem de tomar decisões relacionadas com a orientação de uma cidade, que a única forma de os solucionar parece ser a de tomar medidas drásticas, tipo daquelas que se sabe serem usadas na China, drásticas, de alto a baixo. Apetece, de facto, mas a vida em sociedade humana não pode estar sujeita aos apetites daqueles que mandam, sem olhar a consequências e a precauções que têm de estar sempre na mira de quem tem o poder na mão.
Já sabemos que é assim e, portanto, não vale a pena fazer apelo aos direitos de todos e não às conveniências e aos apetites de alguns.
Isto vem a propósito daquilo que, há já bastante tempo, constitui uma preocupação da nossa capital, como representa um problema que muitas cidades pelo mundo fora enfrentam e que é o excesso de circulação de automóveis nas ruas que, quando foram feitas, não contavam com tamanha enchente de carros.
Já em tempos este tema foi levantado, mas voltou agora a aparecer e, de novo, surgem os defensores da redução de entrada de motorizados em Lisboa, aparecendo propostas que assentam no que é mais fácil: o pagamento de portagens para as viaturas que tragam apenas um passageiro, nem que ele seja o seu condutor.
Na China, de novo apelo ao seu caso pouco exemplar, também em Pequim, devido à afluência de população por via dos Jogos Olímpicos, já se instalou uma lei que só permite a circulação de viaturas de acordo com as suas matrículas, uns dias pares outros dias ímpares. Isso já aconteceu em Portugal, durante a II Guerra Mundial, em que as limitações de combustível obrigaram a tal medida. Mas era a guerra! E nessa altura até se vivia à base de senhas de racionamento. Mas agora, faz-nos pensar se não existe outra forma de solucionar o excesso de automóveis dentro de Lisboa, mesmo com os problemas de poluição que se vão sentindo caca vez mais.
Apetece recordar, no caso da capital, recordar o Município de que existem não sei quantos milhares de casas vazias, à espera de obras, e que todas essas residências representam milhares de famílias que tiveram de optar por viver fora de portas e que, por via disso, constituem uns milhares de automóveis que, todas as manhãs, açambarcam as ruas para trazer os seus usuários para a sua vida que se faz na cidade.
Impor a esses milhares de cidadãos a ter de pagar portagem para entrar na cidade que é a deles ou impor que tragam companhia para lhes reduzir os custos, é uma medida que se toma no papel com a maior facilidade, mas, na prática, não parece ser a mais adequada num país europeu que ainda não chegou aos extremos da… extrema China.
Comecem, quanto antes, por legislar quanto aos milhares de prédios vazios, muitos deles propriedade do Estado e de entidades oficiais e instituam a obrigação dos alugueres, que é uma das formas de solucionar também o drama que se vive hoje de ex-compradores de andares que se encontram perante a impossibilidade de liquidar os empréstimos bancários, como me referi ontem no respectivo blogue.
Já é muito tarde? Pois é. Como sempre não somos capazes de prever os fogos antes de ver as labaredas já em plena evolução. Mas essa de pagar portagens, todos os dias, a quem vive nos arredores e trabalha na capital, essa só pode lembrar ao mesmo que estabeleceu a proibição de circularem carros aos domingos no Terreiro do Paço. Isso serve, de facto, para alguma coisa?

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

TAEDIUM VITAE



Felizes são os que têm
Todo o tempo do mundo
Os que vão depois e vêm
Sem ter problemas de fundo

E se existem não se ralam
A vida são só dois dias
De coisas tristes não falam
Não têm essas manias

Estão contentes, podem crer
Conseguem sorrir até
E nada os faz deter

Já lhes chega o saber
Que em latim taedium vitae
É cansaço de viver

OS QUE AVISAM E OS QUE NÃO!...


Por cá nós queixamo-nos da situação que vivemos, da crise que não nos larga e que até se vai mostrando cada vez mais severa, não surgindo ninguém das Forças Públicas que tenha a coragem de fazer o retrato exacto daquilo a que se pode chamar o Estado da Nação. Pelo contrário, cada vez que um responsável governamental, sem excluir, evidentemente, o Chefe do Executivo, surge perante os jornalistas, seja na escrita, na rádio e sobretudo na televisão, a preocupação que se nota nas diferentes declarações é a de garantir que vai tudo bem, que caminhamos na boa direcção e, quando muito, se não é possível esconder uma realidade, se está a proceder no sentido de solucionar rapidamente o problema. Portanto, só optimismos.
É de estranhar, na verdade, que não apareça um único governante a dar razão a queixas, a explicar o motivo do desagrado mesmo que seja momentâneo, e a prestar todas as explicações para as múltiplas culpas que se sabe pertencerem a alguém, alguém esse que escapa sempre às críticas directas que merecem por ter actuado em erro.
Vejamos agora a diferença entre a maneira de proceder dos nossos responsáveis e o que sucede aqui ao lado, em Espanha: no diário “El Pais”, numa edição de há dias, logo na primeira página e como manchete, é esta a frase do vice-presidente económico – “A situação económica é pior do que prevíamos todos”.
Ora bem, disfarçar ou até mentir à população qual é a situação que atravessa um País, em lugar de oferecer confiança aos governados o que lhe transmite é a descrença sobre a qualidade e, por via disso, a competência que se deve aferir aos responsáveis do Estado.
O vice-presidente espanhol põe o preto no branco ao afirmar que “o que havia prometido o PSOE na campanha eleitoral era mais uma ambição que uma análise técnica”. E acrescentou sem complexos: “Sempre pensei que havia uma “borbulha” imobiliária, pois construir 800.000 habitações por ano não parecia situação sustentável e alargar as hipotecas a 40 anos não foi sensato”.
Comparemos, pois, o que se passa na vizinha Espanha com aquilo que acontece entre nós, sobretudo na área imobiliária, que atravessa um período de grande preocupação, pois, por um lado, o aumento das prestações aos bancos dos empréstimos recebidos num período de mais facilidade de vida que, por sua vez, também foram exagerados os montantes comprometidos, esse aumento não corresponde agora às disponibilidades financeiras das famílias endividadas e, nesta altura, ao desejarem ver-se livres dos apartamentos adquiridos deparam com a dificuldade em encontrar interessados.
O tema dos andares de aluguer, que devia ser discutido a nível superior, especialmente na Câmara da capital, cidade onde existem tantas casas degradadas a exigirem reparações urgentes para se voltar a ver os saudosos triângulos colados nos vidros das janelas a anunciar que estavam livres para receber inquilinos, esse problema não é levantado por ninguém e mantemo-nos na situação actual de, por um lado, a compra com empréstimos bancários se encontrar sufocada pelos custos sempre a subir dos juros e, por outro, não haver motivações para se voltar ao sistema antigo do aluguer.
Vejam lá o assunto que eu fui hoje buscar para encher o meu blogue! Mas não me digam que não é uma situação que está a levantar problemas a milhares de famílias e que, pelo que se contempla quanto a soluções, não se trata de uma questão que esteja em vias de ter solução.
E já que os responsáveis governativos não abrem o bico, pois que seja alguém que dispõe deste blogue para dar largas à uma preocupação que está aí e que, mesmo que não tenha evitado que as férias fossem gozadas por quem consegue descansar mesmo com a consciência pesada, ainda assim aqui fica uma notinha inocente!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

CÍRIO



As lágrimas que correm neste mundo
A fome, a doença, os desgostos
Obrigam a que lá muito no fundo
Os homens escondam nas mãos os rostos

Sofrer é caos que ataca os mortais
Ricos e pobres, de todas as cores
É alguém que nos envia sinais
De que p’ra viver há que sofrer dores

É isso, a vida fácil não é
P’ra uns melhor, p’ra outros um martírio
Mas é quando se chega ao rodapé

Que já na fase final do delírio
Se toma consciência do que é
Quando então para nada serve um círio

CÍRIO


Mas é quando se chega ao rodapé

Que já na fase final do delírio
Se toma consciência do que éAs lágrimas que correm neste mundo
A fome, a doença, os desgostos
Obrigam a que lá muito no fundo
Os homens escondam nas mãos os rostos

Sofrer é caos que ataca os mortais
Ricos e pobres, de todas as cores
É alguém que nos envia sinais
De que p’ra viver há que sofrer dores

É isso, a vida fácil não é
P’ra uns melhor, p’ra outros um martírio

Quando então p’ra nada serve um círio

A MELHOR POLÍTICA


Foi Alexander Soljenitesine, o Prémio Nobel da Literatura de 1970, que foi hoje a enterrar em Moscovo, com todas as honras da Federação Russa, com 89 anos vividos em pleno alvoroço, impedido até de entrar no seu País, onde esteve mesmo preso durante o período que não admitia que fossem divulgadas opiniões contrárias ao sistema então vigente, foi ele que deixou dito que “o Povo tem o direito de ter o poder, mas é esse Povo que não o quer”.
Sujeitas a todas as controvérsias que as frases que circulam e são de origem de cabeças pensantes que merecem o respeito do mundo que as admira, esta também não se exclui das opiniões contrárias que se sabe serem proclamadas por todo o mundo. Direito ao poder a ninguém deve ser negado, desde que se sujeite às regras de escolha e obedeça aos princípios de se dedicar a prestar toda a sua actuação em favor da maioria da população. Ninguém pode contestar esse direito. Agora, saber se quem assume essa função a que se entrega de livre vontade cumpre as obrigações plenas de imparcialidade, coloca em lugar secundário os seus interesses particulares, não actua unicamente a pensar no agrado que podem produzir os seus actos a determinadas áreas, apenas para garantir votos em próximo escrutínio e, pelo contrário, não temer desagradar sempre que uma medida é justa em sua consciência e, no caso de dúvidas, não temer ouvir as opiniões de diferentes sectores, ter consciência de que segue essas regras e estar sempre disposto a prestar contas publicamente, não deixando no vazio dúvidas que se podem levantar a quem é governado, em resumo, quem procede desta forma está a exercer um direito que merece o aplauso da maioria dos cidadãos. Porque oposições têm sempre de haver e é mesmo necessário que se manifestem.
Referindo agora a segunda parte da frase de Soljenitsine, de que o Povo não quer o poder, aqui é mais difícil dar o pleno acordo, pois sabe-se que o ser humano, quando reunido em multidão, quando se transforma em Povo, logo se vê conduzido por algumas figuras que procuram distinguir-se e que fazem suas as palavras que afirmam ser de todos. E é assim que nascem os chamados líderes, umas vezes saindo figuras merecedoras da confiança que os seguidores lhes dedicam, outras, figurões que trazem na manga a chama do mando, e que se aproveitam da ocasião e do seu poder de convencimento dos mais fracos para, a partir daí, quererem e até conseguirem, por vezes, serem donos de uma população inteira e de uma Nação por completo. Os resultados são-nos dados pela História de todos séculos, as antigas e as mais modernas. E depois de estar feito, o difícil é desfazer o erro.
Também Churchil afirmou que a Democracia era a menos má das políticas. E assim andamos todos à busca de um sistema político que se possa considerar como o ideal…

terça-feira, 5 de agosto de 2008

EI


Lembrar, já muitas vezes me lembrei
criar coisas novas, isso criei
estudar, sem dúvida estudei
e trabalhar, como eu trabalhei!
vamos ver se desta me sairei
de pôr em ordem sentenças, porei?
todas elas terminadas em ei:
Cantar na minha vida eu cantei
em coro de ópera operei
pintar, disso gosto, sempre gostei
emendar, quantas vezes emendei!
errar, dessa nem sempre escapei
fruto daquilo que eu inventei
pelo que tive de pagar, paguei
desatando nós, como eu desatei
ou então atando pontas, atei
sem poder adiar, adiei
sem cair, várias vezes tropecei
quer servindo ou quando comandei
porque a bota sempre descalcei
mesmo a resmungar como resmunguei
pois recear, lá isso receei
mas, que me lembre, nunca ajoelhei
embora saiba que desagradei
com quem eu muitas vezes discordei
só que, por meu lado, nunca odiei
mesmo a quem, sem querer, enxovalhei
ou, por casmurrice, envinagrei
fruto de um contínuo “enjoei”
e devia avisar, não avisei
mas mesmo assim eu nunca caluniei
e orgulho, isso nunca ostentei
nem eu jamais fingi que concordei
como mostrava a cara que fechei
pois engraxar sapatos, isso engraxei
mas apenas os meus, isso eu sei,
como mamar por aí, não mamei
coisa alheia nunca apalpei
fumar, só os meus cigarros fumei
mas desse mau vício me curei
pelo que eu nunca aceitarei
ver gente morrer, sem dó e sem lei
sem pensar como eu antes pensei
que basta o mau mundo que eu herdei
e que vai ficar para a nova grei.
Hoje, como antes, esperarei
que com ou sem mesmo um Agnus Dei
a escrita que faço e abracei
venha ser amada como a amei
que lhe dêem o valor que lhe dei
e se não for assim também direi:
olhem, caguei!

ANIMAIS NOSSOS AMIGOS


Não é fácil retirarmos de uma pessoa que passamos a conhecer as suas características, aquilo que se chama de índole. Normalmente, o ser humano, na sua primeira impressão, mostra-se simpático, agradável, cooperante na conversa. Por aí não se fica a saber grande coisa ou, quando muito, a imagem que nos é deixada é de uma companhia afectuosa e que apetece
manter como amigo.
No entanto, há um pormenor que, se vem a talho de foice, faz abrir um pouco as portas do interior do novo conhecido: é falar de animais e ficar a saber se aqueles que consideramos nossos amigos suscitam algum sinal de afeição da sua parte. Quem é verdadeiramente afeiçoado a qualquer ser vivo e, naturalmente, em particular quanto aos irracionais que nos rodeiam na vida do dia a dia, de uma forma geral – o que não quer dizer que não haja excepções -, pode-se considerar como sendo uma pessoa que merece mais confiança, no capítulo da sua formação moral, chamemos-lhe assim.
Eu, pelo menos, tenho este princípio como regra de convivência e raramente me equivoquei na apreciação.
Quem tem como companhia – porque as condições em que vive permitem oferecer o mínimo de movimentação do seu amigo de quatro patas - um cão ou um gato que, habituados como estará ao local onde se instalou, considera as instalações como sendo a sua casa, sem ser necessário muito tempo constata que essa sua companhia lhe tem uma afeição que qualquer outro animal racional não demonstra tão abertamente. Saltar para o colo, pedir festinhas, acompanhar para todo o lado, mesmo dentro da própria casa, o seu dono, é atitude que não se espera que um racional faça. Essa afeição quase doentia que o nosso protegido sente, não se encontra nos humanos, mesmo quando se declaram entre dois sexos paixões juradas“até â morte”.
Vem este texto a propósito de quê? Da notícia saída hoje na Imprensa de que, três em cada quatro cães são abatidos no canil municipal de Lisboa. E acrescenta a nota de que o canil/gatil alberga em média cerca de 150 animais. E que o forno crematório funciona, em média, cinco vezes por dia naquele local.
Nem é preciso perguntar como é que tantos animais vão parar ao que é o seu destino fatal. São abandonados pelos donos ou encontrados em residências com condições insalubres e, no caso dos cães, geralmente presos com correntes, já sem comida e água por perto. É horroroso tomar conhecimento destes casos, mas que eles existem, disso há a certeza.
Pelo menos, garantem-me, no Canil Municipal os animais que são mortos, antes são eutanasiados, coisa que, tempos antes, não sucedia.
São as compensações das más acções dos homens. Se a maldade humana vai ao ponto de abandonar um ser com quem conviveu – ou porque foi seu parceiro na caça, o mais vulgar, ou porque passou a ser um incómodo e se fartou do animal que recebeu em pequenino e depois, naturalmente, cresceu -, não se pode esperar dessa chamada “pessoa” que seja aquilo que vulgarmente chamamos de “bem formada”.
Por isso eu comecei este texto com a apreciação que faço dos indivíduos que passamos a conhecer quando nos são apresntados.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

POR AQUI VOU


Eu por aqui vou
sem saber caminho,
pergunto quem sou
olho pr’o vizinho
p’ra ter uma ideia
vou fazer o quê?
Nem mesmo à boleia
daqui que se vê?
Mas vou caminhando
não há mais remédio
e enquanto andando
pleno de tédio
percebo o final
o que lá no fundo
que me faz sinal
para deixar o mundo
tenho pois de ir
ficar é parar
hei-de conseguir
cá estou a tentar

Eu por mim vou
deixo-me levar
se eu nem sou quem sou
posso caminhar
para ir, para ir,
ver passar as horas
não posso fugir
nem ter mais demoras
com angústia, porém
da longa espera
em vez de eu ir, vem
já não é quimera
é sim pesadelo
grande sofrimento
pois deixou de sê-lo
que até o talento
que nunca apareceu
foi coisa de sonho
a ver não se deu
e bem me envergonho
de o ter procurado
e me ter escapado

Por isso aqui vou
estou pronto, sem sustos
ao lume me dou
ao sono dos justos





ENFERMEIROS


A dívida é uma situação natural que se vive no nosso País. Já lá vão muito longe os tempos em que chegar-se a uma posição de devedor e não poder liquidar os seus compromissos levava os faltosos a atitudes extremas, incluindo o suicídio. Eram épocas em que um aperto de mão representava uma escritura. Selar uma promessa com a garantia dada de boca, constituía um juramento cujo significado da expressão não tem, nem de longe nem de perto, nada que se possa agora comparar com o significado de então.
Dá para perguntar se a forma de vida dessa época constituía uma maior tranquilidade, em que só se gastava o que se podia e nunca se ultrapassava o que a carteira dava como folga; ou se, como hoje acontece, o essencial é fazer a vontade aos desejos, mesmo que os mesmos se sobreponham à possibilidde do seu pagamento.
São as condições criadas pelas instituições de crédito, as ofertas largamente publicitadas do “compra agora e paga depois”, as tentações provocadas pela ânsia de comercialização, é tudo isso que está na origem da mudança que ocorreu desde os tempos da vergonha em dever e do depois se vê como se resolve a dívida.
Aliás, o exemplo vem de cima. O Estado é o primeiro a não pagar dentro dos prazos e a não evidenciar vergonha por ter contas pendentes. São inúmeras as empresas que estão “penduradas” com contas por saldar pelo sector oficial e nunca surge, por parte dos responsáveis pelo sectores caloteiros, uma explicação ou, no mínimo, alguma documentação que permita aos credores, quantas vezes em sérias dificuldades, recorrer a um apoio estranho, com garantia e que o culpado principal não vai deixar de cumprir as suas obrigações… mesmo tarde.
Pois neste País em que estamos e de que temos de ser cidadãos obedientes das instâncias governativas, são essas as que dão o exemplo de que pagar com atraso não é falta de maior. Câmaras municipais, que mudam de primeiros responsáveis com certa frequência, até por esse motivo criam compromissos para deixar uma boa imagem junto do eleitorado, dado que o que se segue que resolva as situações conforme puder, essas são as entidades públicas que maior número de credores acumulam. O caso, ainda na memória de todos, do Município alfacinha se ter visto obrigado a contrair um empréstimo de muitos milhões de euros para evitar que algumas empresas de construção caíssem na falência, esse triste exemplo, que nem foi fácil de resolver por discordância das oposições na Assembleia Municipal, demonstra como isso de dever é já uma situação normal no nosso País.
Esta agora do Estado dever 19 anos de trabalho aos enfermeiros, por não pagar horas extraordinárias há imenso tempo a esses profissionais da referida área nos hospitais públicos, daria para rir se não se tratasse de um drama para muitos das vítimas da impunidade oficial em cumprir os seus deveres sofrem.
Por mim, nem faço comentários.